Ao Vivo: Premê, no Sesc Pompeia

Texto por Renan Guerra
Fotos por Gabriella Zanini

Um dos principais nomes da Vanguarda Paulista, o Premê está lançando pelo Selo Sesc a “Caixinha do Premê”, um box que reúne os seis discos da discografia oficial do grupo (dos primeiros “Premeditando o Breque” de 1981 e “Quase Lindo”, de 1983, até “Vivo”, de 1997) mais um disco extra de inéditas e raridades, “Como Vencer na Vida Fazendo Música Estranha” (2019).

O lançamento oficial do box ocorreu no palco do teatro do Sesc Pompeia, em três dias e quatro shows esgotados (um desses horários surgiu depois da alta procura do público pelo show), mostrando mais uma vez que o Premê é banda fundamental e que sua discografia merece ser redescoberta com atenção.

No palco, os quatro membros originais – A. Marcelo Galbetti, Claus Petersen, Mário Manga e Wandi Doratiotto – se apresentam ao lado de Adriano Busko (bateria e percussão) e Danilo Moraes (violão, guitarra, baixo, voz), filho de Wandi, que toca com o grupo há mais de 20 anos. Os quatro músicos principais tocam uma infinidade de instrumentos que nem cabe listar, indo de violão e teclado até coisas como flauta peruana e furadeira, em um show que pende para o teatro e para o deboche completo e irrestrito.

Em pouco mais de uma hora, eles passaram por clássicos como “Marcha da Kombi”, “Lava Rápido”, “Lua de Mel (em Cubatão)” e “São Paulo, São Paulo”, um dos maiores hits do grupo, escolhida como uma das músicas símbolo da cidade, com frases como “É sempre lindo andar na cidade de São Paulo / O clima engana, a vida é grana em São Paulo”. O set do show ainda incluiu canções presentes no disco de raridades presente na caixinha, que conta com algumas gravações novas, versões inéditas e faixas que foram censuradas nos anos 80.

Dessa leva, eles cantaram as ótimas “Macho Ok” e “Casa de Massagem” (que aparece em duas versões no disco, uma mais moderna com direito à piada com golden shower e tudo). O tom de piada do show fazia o público gargalhar e, em certos momentos, nem os próprios músicos aguentavam a todas as piadas de Wandi Doratiotto, que entre uma música e outra trazia tiradas que brincavam com a própria história do grupo e não deixavam de fazer um pequeno merchan da “Caixinha do Premê”.

“Rubens”, que no álbum “Grande Coisa” (1986) surgiu em duas versões, uma homoerótica (do verso “Rubens não dá, a gente é homem, o povo vai estranhar”) que foi censurada inicialmente e depois gravada por Cássia Eller nos anos 90, e uma machista intitulada “Rubens (Não Me Censure)” (do verso “Rubens eu acho que dá pé: eu te empresto meu carro e você me empresta sua mulher”), foi tocada por Mário Manga com direito à um arco-íris se formando no telão.

Já a experimental “Sabrina” ganhou representação teatral no palco e gerou piada de Wandi dizendo “esse é nosso novo single de trabalho”. Já o encerramento do show ficou por conta da clássica “Pinga com Limão” (outra do álbum “Grande Coisa”), tocada em rock acelerado e ilustrada no telão com os desenhos de Glauco, em tirinhas que faziam parte do encarte do compacto lançado nos anos 80.

Ao vivo, o Premê cria um show que mostra a versatilidade e a quase inclassificabilidade da banda, passeando de momentos experimentais aos momentos de chorinho e samba, até momentos roqueiros, com direito a Mário Manga mandando ver na guitarra. O lançamento da “Caixinha do Premê” se mostra extremamente fundamental em nosso tempo e o show do grupo é uma prova disso, pois em nenhum momento a apresentação é feita de saudosismo ou nostalgia, é tudo sobre o agora, tanto que muitas das canções (infelizmente) ainda dizem muito sobre o Brasil e a nossa cultura.

Fazendo do deboche uma arma e sabendo ser pop e estranho numa medida rara, em que a fina ironia é o ponto de partida para uma compreensão mais ampla do mundo e da vida, o Premê é uma banda clássica da música brasileira, e esse resgate do Selo Sesc deve ser comemorado. Cinco discos da Caixinha – “Premeditando o Breque” (1981), “Quase Lindo” (1983), “Alegria dos Homens” (1991), “Vivo” (1997) e “Como Vencer na Vida Fazendo Música Estranha Vol. VII” (2019) – já estão disponíveis nas plataformas digitais e valem a pena serem (re)escutados com carinho.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz

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