Ao vivo: Josh Rouse & Grant Lee Phillips em Londres

por André Luiz Fiori

A Union Chapel é uma igreja do século XIX que é utilizada para atender aos desabrigados de Londres além de, desde os anos 80, receber shows dos artistas mais variados, normalmente em formato acústico. O visual é deslumbrante, a acústica perfeita, e a atmosfera incomparável. O público assiste ao show sentado nos bancos originais da igreja, por isso os ingressos informam sempre que “não há lugares marcados”. Além disso, os shows sempre acontecem “cedo” terminando antes das 22h.

Presente no Top 10 de melhores lugares para se ver shows em Londres do Guardian (“Famosa por seu interior gótico de tirar o fôlego, com capela em forma octogonal, paredes de pedra exposta, a Union Chapel também é elogiada por sua qualidade de som e acústica”) e no Top 20 da Time Out London (“Sua acústica supera o espaço mais moderno construído”) , uma apresentação na Union Chapel é um evento por si só, por isso fica a dica: antes de passar por Londres, confira sempre com antecedência quem vai tocar por lá e, se puder, não perca.

No começo de abril, quem tocou por lá, voz e violão, foi o brasileiro Nando Reis, e a agenda (programada até o início do ano que vem no site oficial) conta com apresentações de Keb Mo e Josh Riter em julho (em datas separadas), o coral Some Voices cantando “Romeu e Julieta” em agosto, Llyod Cole na turnê “Rattlesnakes to Guesswork” em outubro e três noites de Amanda Palmer em dezembro (confira a agenda completa) – são 500 lugares na nave e 400 lugares no balcão, totalizando uma capacidade para 900 pessoas.

Os ‘singers-songwriters’ Josh Rouse e Grant Lee Phillips estão fazendo uma turnê juntos em formato acústico, cada um com seu violão (o que não deixa de baratear os custos da empreitada), que se iniciou no segundo semestre de 2018 nos Estados Unidos, e esticou para algumas pernas na Europa em 2019, chegando no final de abril à Londres (e à Union Chapel).

Em seu Facebook, Josh Rouse contou sobre a empreitada: “Eu admiro Grant Lee Phillips desde meus 20 anos. Quando ‘Mighty Joe Moon’ saiu (o segundo disco do Grant Lee Buffalo, em 1994), meus amigos e eu pensamos que era o melhor disco que já tínhamos ouvido. Eu realmente enviei cartas de fã (para ele)! Então, dividir o palco com ele será um sonho tornando realidade”.

E é exatamente Josh Rouse quem inicia a noite, relembrando da primeira vez que veio à Inglaterra, quando lançava seu primeiro álbum, “Dressed Up Like Nebraska” (1998). No palco, ele reforça que é uma grande honra estar dividindo essa tour com Grant, que é um artista que ele sempre admirou.

No repertório, Rouse cantou músicas como “Sad Eyes” (do álbum “Nashville”, de 2005) e “Salton Sea”, do seu último trabalho “Love in the Modern Age” (do ano passado). Aproveitou o para explicar a origem da música, contando o desastre ambiental que aconteceu no lago Salton, da Califórnia. Apesar de não ser um lugar pequeno, a atmosfera é bem intimista.

Assim que Grant Lee adentra o palco, ele diz: “Adoro esse lugar, amo tocar na Union Chapel. É a segunda, ou terceira vez que venho aqui, não tenho certeza”. No que prontamente alguém na plateia responde: “É a terceira!” (esse cara com certeza esteve nas outras duas). Grant Lee fica feliz e agradece o espectador que reavivou sua memória…

Grant apresenta canções de vários de seus álbuns solo, como as belas “Walk in Circles” e “Mona Lisa”. Ele tem uma voz única, e é um cara muito bem humorado. Conta algumas histórias da estrada, e diz que ao assistir o começo do filme “Nasce Uma Estrela“, teve um ‘deja vu’ ao ver o personagem de Bradley Cooper sair de um show e partir à caça de um lugar para beber, e acabar entrando no bar mais estranho do mundo, “porque isso já aconteceu comigo!” ele conta aos risos.

De sua antiga banda, Grant Lee Buffalo, ele rememora “Mockinbird” e “Jupiter and Teardrop”. Para o bis, Grant Lee chama Josh Rouse ao palco, e eles tocam uma música nova que fizeram juntos, “Empire State”. A próxima acaba soando uma homenagem a um grupo britânico, com os dois músicos cantando “Boys Don’t Cry”, do The Cure – Grant Lee chegou a regrava-la em um disco de covers, “nineteeneighties”, lançado em 2006.

Logo após, Josh conta que antigamente havia um programa na MTV americana, chamado “120 Minutes”, que ele gostava de ver quando era jovem. E essa música que iriam tocar agora foi que o fez pensar que era isso que ele queria fazer da vida, e começa “Under The Milk Way”, cover que ambos executam lindamente. Pensando bem, já que eles estão tocando numa igreja, nada mais apropriado do que uma música do The Church para terminar uma grande noite!

– André Luiz Fiori (www.facebook.com/andre.fiori.73) é dono da loja Velvet SP

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– Em São Paulo, Josh Rouse tocou para uma platéia animada e confessou ser fã de música brasileira (aqui)
– “The Best of The Rykodisc Years” lança luz sobre a belíssima obra de Josh Rouse (aqui)
– “Country Mouse, City House”, mais um belo disco de Josh Rouse (aqui)
– “Subtítulo”, de Josh Rouse, um dos álbuns mais belos de 2006 (aqui)
– Em “El Turista”, Josh Rouse foge corajosamente de sua persona (aqui)
– Em “The Happiness Waltz”,  o créme de la créme de Josh Rouse são canções ensolaradas (aqui)
– “Fuzzy” nasceu como uma espécie de declaração de intenções do Grant Lee Buffalo (aqui)
– “Ladies Love Oracle”, de Grant Lee Phillips flagra um músico ciente de sua poesia, melodia e voz (aqui)
– “Mobilize impressionará fãs do Bufallo enquanto “Virginia Creeper” emocionar fãs de Grant Lee (aqui)

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