Texto por Renan Guerra
Fotos por Fabricio Vianna
A oitava edição do Festival Balaclava Fest, organizado pelo selo e produtora Balaclava Records, foi a maior de sua história e reuniu atrações nacionais e internacionais em dois palcos no Audio Club, em um domingo nublado em São Paulo. O show dos mineiros do Moons foi o responsável por dar início à maratona, ainda no final da tarde. Eles tocaram no Palco Club, um espaço menor, com o palco mais baixo, num ambiente esfumaçado – até em demasia, algo que diminuiu um pouco a experiência. De todo modo foi um show bonito, algo romântico, quase sensual em sua languidez. Vale ser conferido em outras oportunidades.
O palco principal, chamado Stage, foi aberto por Barbagallo, projeto solo de Julien Barbagallo, conhecido por ser bateirista do Tame Impala. O músico apresentou o seu recente disco “Danse Dans Les Ailleurs” (2018), e mesmo cantando em francês e com uma banda animada, o show de não cativou deixando na atmosfera o gosto de algo de esquecível.
Alternando palco, o Club foi tomado pelos curitibanos do Marrakesh. Mais uma vez a fumaça era incômoda no ambiente. A banda lançou seu disco de estreia esse ano, o “Cold as a Kitchen Floor”, pelo selo Balaclava, isso depois de terem tocado em 2017 no Primavera Sound, na Espanha, e terem conquistado certo respeito da crítica. Muitos falam do Marrakesh com o epíteto “qualidade de banda gringa”, o que para alguns pode ser visto como elogio, mas que no palco não significa lá muita coisa.
Com apenas o núcleo central da formação que gravou o clássico “Deserter’s Songs” em 1998 (o guitarrista Grasshopper e o vocalista Jonathan Donahue), mais baixista, baterista e um músico brasileiro nos teclados, o Mercury Rev começou o show de forma matadora com “Holes” seguida de “Tonite It Shows” e “Endlessly”. Parecia ser difícil superar esse início, mas eles conseguiram ir além. Altíssimo, quase ensurdecedor, o show foi uma experiência catártica para fãs do álbum “Deserter’s Songs”.
Jonathan Donahue age como um maestro no palco, com seus olhos vidrados e seu clima de “chapeleiro maluco”, numa interpretação quase teatral das canções. Tudo em volume máximo! Além de clássicos do disco de 1998, como “Goddess on a Hiway” e “Opus 40”, eles ainda tocaram a linda “The Dark is Rising”, do disco “All Is Dream” (2001). Não poderiam ter acabado de melhor forma. Será que já podemos incluir este na lista de shows do ano?
Para o bem e para o mal, a produção do evento seguiu estritamente os horários dos shows, por isso o cantor paraense Jaloo já estava cantando quando o Mercury Rev se despedia da plateia. Novamente o mesmo problema: com o Palco Club cheio e aquela fumaça incomoda insistente ficou difícil ver o show – novamente. Mesmo a bela “Céu Azul” (lançada esse ano em parceria com MC Tha), com Jaloo jogando para a plateia cantar e as pessoas mal sabendo os versos, não foi capaz de segurar o público em meio a fumaça.
No outro palco, o Deerhunter está mostrando um som altíssimo, barulhento e incrível! A figura de Bradford Cox no palco é cativante e é interessante como eles conseguem reproduzir toda a sujeira dos discos ao vivo de forma suntuosamente pop, isto é, as guitarras e toda distorção fazem o público dançar e se divertir. Em quase 1h20 de show eles passaram por faixas de discos como “Microcastle” (2008), “Fanding Frontier” (2015) e do já clássico “Halcyon Digest” (2010). No final, “Nothing Ever Happened” foi dedicada a Josh Fauver, ex-baixista da banda que faleceu no final de semana.
Ainda rolando o show do Deerhunter, e o Metá Metá já estava em ação. Parece exagero reclamar, mas novamente o mesmo problema da fumaça exagerada atrapalha a banda no Palco Club. A situação era a seguinte: se o espectador se posicionasse de um lado veria Juçara Marçal e a sombra de Thiago França, mas não Kiko Dinucci. Se mudasse de lado veria Kiko, mas não os outros dois músicos – mais pro final, porém, a fumaça diminui e as coisas melhoraram. Apesar do inconveniente, nada diminui a força do grupo, que segue intenso com um dos melhores shows dos últimos anos!
O cansaço da maratona estava cobrando seu preço, as filas para comer estavam um pouco demoradas, mas ainda havia Warpaint. O público estava animadíssimo para receber as meninas, que tocaram faixas de seus quatro discos de estúdio, destacando-se canções como “New Song”, “Love Is To Die” e “Billie Holiday”. Na saída do festival, a produção distribuía a terceira e melhor edição da revista (gratuita) Balaclava, com excelentes entrevistas de Jaloo, Mel Candy, Maria Beraldo e Badsista.
No final das contas, o Balaclava Fest valeu a pena para os fãs das três bandas principais: Mercury Rev, Deerhunter e Warpaint. Três bons shows num palco ótimo, com iluminação e som de alta qualidade. Os shows nacionais perderam um pouco de brilho no palco menor, o que pode ser visto como ponto negativo. De todo modo, essa oitava edição segue provando que o Balaclava Fest é um evento fundamental no calendário de shows de São Paulo e deve seguir sendo celebrado.
– Renan Guerra é jornalista e colabora com o site A Escotilha. Escreve para o Scream & Yell desde 2014.
– Fabricio Vianna (fb.fabricio.vianna) é o fotógrafo. Conheça seu trabalho: https://www.fabriciovianna.com.br
Recebi a informação de que o tecladista do Mercury Rev teve que voltar às pressas para seu país pois seu pai sofreu um grave acidente. O brasileiro Danilo, da banda Hierofante Púrpura, “assumiu” o teclado, de última hora, sem nenhum ensaio! Como era nítido ter muitas passagens pré-gravadas, me pergunto se ele só fez figuração.
Vamos procura-lo para ele contar a experiência, Antonio. Um dia antes do show vi no Facebook uma imagem dele com as partituras de algumas músicas…