CineBH 2018 movimenta capital mineira celebrando as Pontes Latino Americanas

por João Paulo Barreto

Teve início na terça-feira (28) no belo Cine Theatro Brasil Vallourec, a 12ª edição do BH International Film Festival – Mostra CineBH 2018. Neste ano, o evento homenageia a El Pampero Cine, produtora hermana representada aqui pela diretora Laura Citarella, que terá exibido seu filme de 2015, “A Mulher dos Cachorros”. Além deste, a Pampero terá “La Flor”, longa com 14 horas de duração e dirigido por Mariano Llinás, exibido em três partes no decorrer da semana (confira os horários e a programação completa, que segue até 02 de setembro, no site oficial). Com uma narrativa dividida em seis histórias e quatro protagonistas a passear pelos arcos de uma trama independente e sucessiva, o filme traz uma proposta ousada de imersão cinematográfica para o espectador.

Na temática desse ano no festival, as Pontes Latino Americanas se fazem presentes em performances a abordar o passado histórico do nosso continente e abrir um leque de possibilidades e, principalmente, advertência para um futuro nebuloso que pode nos sufocar. Na abertura, um aviso para isso em forma de cinema: o petardo “Sol Alegria”, filme do cineasta paraibano Tavinho Teixeira, também diretor da pérola “Batguano”, seu longa anterior, de 2014. Aqui, o realizador consegue criar uma fabulesca ópera que, bebendo muito de uma influência oriunda da pornochanchada, consegue inserir uma crítica ferina à caretice e ao conservadorismo hipócrita de nossa atual conjuntura social.

Disfarçado de ficção científica, a obra de Teixeira mescla uma realidade quase à beira da distopia, no qual uma família resiste ao domínio militar em um país aparentemente fictício através de planos que envolvem sequestro e assassinatos políticos, resoluções drásticas, mas de caráter urgente. Na obra, a liberdade sexual se mescla em importância com a liberdade de vida, fugindo de opressões e buscando a plenitude distante de uma sociedade falida em caráter e afogada no próprio puritanismo inútil, algo acertadamente contradito pelas personagens das freiras rebeldes a acolher a família fugitiva. O que Tavinho Teixeira alcança com “Sol Alegria” é uma condição plena de retratar um Brasil que, se não forem tomadas decisões tão drásticas quanto as de seus protagonistas, pouca coisa sobrará além de dogmas falidos, penúria social e autoritarismo.

CLÁSSICOS
Voltando à Praça Duque de Caxias, no tradicional bairro de Santa Tereza, o projeto Clássicos na Praça trará a exibição ao ar livre de quatro obras primas do cinema pop, sendo elas “Superman”, de Richard Donner; “Yellow Submarine”, clássica animação protagonizada pelo Beatles; “Os Embalos de Sábado à Noite”, filme símbolo da carreira de John Travolta, e “Corra que a Polícia Vem Aí”, comédia absoluta de David Zucker.

No âmbito nacional, “Carnaval Atlântida”, de Carlos Manga e José Carlos Burle, marco da chanchada brasileira, terá exibição histórica na Mostra. Na proposta de diálogo entre a produção clássica brasileira e a de outros países da América Latina, os curtas “Bla Bla Bla”, de Andrea Tonacci, e o colombiano “Agarrando Pueblo – Os Vampiros da Miséria”, de Luis Ospine e Carlos Mayolo têm exibição conjunta.

PRÉ ESTREIAS NACIONAIS
Vencedor da edição desse ano da Mostra de Cinema de Tiradentes, “Baixo Centro”, filme de Ewerton Belico e Samuel Marotta, terá sessão especial no Cine BH. O filme aborda o encontro passional de Robert e Teresa na periferia de Belo Horizonte. Circundados por uma violência que os oprime e tornam sua atração uma das poucas coisas a incentivá-los a prosseguir, a obra traz um impactante retrato da capital mineira, no qual a noite parece sufocar aqueles personagens e, por consequência, o próprio espectador. Os sons dos tiros a ecoar em seu desfecho calam a todos na sala de projeção.

Além deste, outro destaque é “Mata Negra”, de Rodrigo Aragão, um dos heróis do cinema de gênero independente que ainda é feito no Brasil. Dono de uma filmografia cujo apuro técnico no âmbito dos efeitos visuais servindo ao terror impressiona, Aragão traz uma obra inventiva que, mais uma vez, abraça o sobrenatural em uma eficiente mescla com o folclore brasileiro.

A cobertura do CineBH 2018 continua nos próximos dias. Acompanhe na tag #CineBH2018

– João Paulo Barreto é jornalista, crítico de cinema e curador do Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema e colabora para o jornal A Tarde. As duas fotos do texto são de Leo Lara / Divulgação!

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