Faixa a faixa: “A Era do Vacilo”, Violins

Introdução por Bruno Lisboa
Faixa a faixa por Beto Cupertino

Natural de Goiânia, o Violins está de volta com “A Era do Vacilo” (Monstro Discos), disco que rompe um silêncio de seis anos sem gravar e tocar. O motivo da hibernação foi, segundo o vocalista Beto Cupertino, que “naquele momento nos pareceu que já tínhamos feito discos suficientes e resolvemos parar. Passados esses anos, deu vontade, de forma bem natural, de juntar a banda e realizar algo novo para matar saudade”.

“A Era do Vacilo” foi gravado no estúdio Rock Lab, em Goiânia, e produzido por Gustavo Vazquez, que agora também assumiu o baixo na banda, com a saída de Thiago Ricco. Segundo Beto, o nome do disco sugere algo “cômico, mas ao mesmo tempo realista. Diante dos últimos tempos, das relações das pessoas na internet, da situação política no Brasil, acho que realmente estamos na ‘Era do Vacilo’”.

Em uma discografia que conta com outros sete álbuns – “Wake Up and Dream” (2001), “Aurora Prisma” (2003), “Grandes Infiéis” (2005), “Tribunal Surdo” (2007), “Redenção dos Corpos” (2008), “Greve das Navalhas” (2010) e “Direito de Ser Nada” (2011) –, o Violins sempre se preocupou com o teor de suas letras, e no novo disco, de modo geral, elas refletem de forma clara e objetiva o Brasil de ontem e de hoje.

“A Era do Vacilo” já está disponível para streaming e download (gratuito em http://violinsoficial.com.br) nas plataformas de música digital e também numa versão em CD que pode ser adquirida na loja online da Monstro Discos. No faixa a faixa abaixo, exclusivo para o Scream Yell, Beto Cupertino fala sobre o processo de composição do disco e revela o conteúdo político social das letras deste que, de antemão, é um dos discos mais importantes do ano.

BRIGAS DE MÃO
Essa música abre o disco com a ideia de um mundo em que a gente não consegue mais fazer as coisas por culpa das brigas diárias que surgem. É um modo de exagerar nossos conflitos de hoje. Tem uma levada mais arrastada e pesada nos versos e um refrão mais leve.

DEU RUIM PRA GENTE
Traz uma levada mais linear dentro de uma estrutura de música pop também. A letra fala sobre uma oração invertida, ‘ninguém vai ver você chegar’, é uma dúvida. Gosto do final instrumental dela, dos arranjos que ali foram feitos pela banda.

HERÓI FABRICADO
Seguindo a linha de músicas com melodias mais digeríveis, essa aqui trata da nossa criação constante de heróis que vão resolver todos os nossos problemas. Essa carência que a gente tem de tempos em tempos desse tipo de figura e de como se agarra nisso de uma forma tão juvenil.

UM HOMEM OU UM AMÉM
Essa música traz várias partes, com dedilhados, partes mais pesadas, de passagem, é uma música bem completa nesse sentido. Fala sobre racismo, sobre a clientela escolhida pela sociedade para ser alvo do sistema criminal. De como há uma contradição inerente na ideia de pautar sua vida no amor de Cristo e ao mesmo tempo querer armas e escolher inimigos para eliminar.

DESAPARECEU
É um som mais viajado, com elementos eletrônicos, como a bateria, os arranjos de sintetizadores. A melodia é bem sinuosa e a letra é como se fosse uma continuação da música anterior.

GASTURA
É uma música que reflete uma nostalgia da infância, de viajar para bem longe em busca do mar, do ideal que representa a praia para quem nasceu e vive bem longe dela. É uma lembrança minha de infância, de um moleque de classe média indo viajar para a praia. É um modo muito especial com que eu me relaciono com o litoral.

PLENA ANHANGUERA
Narra o episódio de um cara ser atingido por uma bala perdida num bar da cidade. Tem a estrutura bem de narrativa de uma estória mesmo. Mesmo musicalmente é cheia de dinâmicas diferentes, paradas, mudança de andamento.

VIDRAÇAS
É uma música com uma levada mais arrastada, que fala sobre nossas desavenças políticas, e que vai se construindo rumo a um refrão mais explosivo, mais dançante.

ÁGUA E SAL
Fala sobre a passagem do tempo, do modo como às vezes a passagem do tempo não necessariamente traz alguma coisa de positiva, como podemos passar pelo tempo sem aprender nada, pelo contrário, como pode parecer que o tempo também passa rumo ao passado, como se repetem erros e etc. Fica a sensação de que a verdade nunca é conhecida, que temos apenas um amontoado de interpretações, ninguém muito certo sobre nada.

CRONÔMETROS
É um modo simples de terminar o disco, com a voz e o violão, numa gravação feita ao vivo. A mensagem que fica é de se desarmar um pouco no fim de tudo, voltar à simplicidade de algumas coisas, não aceitar outras, mas de toda forma tentar olhar para si e reinventar um modo da gente se relacionar com o outro.

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão. Escreve no Scream & Yell desde 2014.

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