Do meio do mato, Rosie Mankato faz a “música do futuro”

Texto por Cristiano Castilho

A sensibilidade funciona em mão dupla para Rosie Mankato. Seu projeto musical Rosie and Me foi um expurgo de sentimentos e conflitos, resumido no ótimo disco “Arrow of My Ways”, de 2012. Em 2018, em um novo momento, em que as incertezas se transformam em cuidadosa produção artística, a curitibana rearranja suas características, nega críticas superficiais e reafirma sua posição no mundo ao tentar ser, musicalmente, o que sempre foi em vida. O resultado é o EP “Palomino” (download e áudio online no Bandcamp), lançado na semana passada.

Preâmbulo: Rosie se mudou para uma casa-estúdio perto da bucólica e inspiradora colônia de Witmarsum, a uns de 70km de Curitiba. “Venha aqui qualquer dia fazer fogueira e comer milho assado”, convida a moça, que mora numa casa de 130 anos com chão de madeira, “muito propícia para sons diferentes.” Mais do que uma fuga do que é intransponível para quem é sensível demais, o isolamento deliberado foi calculado para que sua produção tivesse um jeitão próprio, inspirado inclusive em Bon Iver, que se exilou voluntariamente para cunhar o lindo debute “For Emma, Forever Ago” (2007).

“Palomino” (capa abaixo) marca, como Rosie mesmo afirma, um momento de transição em sua carreira. “Eu estava muito presa há questões técnicas, a julgamento de outras pessoas. Isso fez com que eu acabasse por perder meu estilo”, diz Rosie, que também mudou o tom de sua voz. “Sempre cantei de forma muito aguda porque pessoas me falavam que eu tinha voz de piá. Agora, muitos anos depois, consegui tirar essas piras erradas da cabeça. Estou no meio no mato, livre para cantar do jeito que eu quiser”.

O EP tem seis faixas. Algumas das composições já existiam mesmo antes do Rosie and Me, mas só agora houve esse reencontro libertário. Seu novo momento musical dialoga com instrumentos orgânicos e inserções eletrônicas. Há um etéreo permanente, ecos de dream pop e uma instrumentação cirúrgica que deságua em um grito abafado por sua própria beleza, caso da faixa de abertura, “The Big Fight”. “Don’t Be Mad” parece resumir o que Rosie diz com sua vontade atual: fazer música do futuro. Panda Bear pode encontrar Of Monsters and Men numa boa, numa casinha no meio do mato.

Os delicados retalhos de vozes e sua base de influência permanente – o alt. country – estão presentes em “Holler”, com assovios e um peso guitarreiro até inédito em sua trajetória, mas bem-vindo quando a sensibilidade grita e a música responde. No EP, há também a faixa “Chino”, divulgada em 2013 como prenúncio de sua carreira solo, e “Curly”, esta em parceria com o músico e produtor espanhol Gizmo Varillas.

Rosie brinca com o tempo, na verdade. Atualiza seu próprio passado ao revisitar composições antigas com a vontade de fazer “música do futuro”. É a transição pessoal e artística de quem, enfim, não difere vida e arte.

Rosie Mankato lança “Palomino” em dois shows no Teatro do Paiol, em Curitiba, nos dias 25 e 26 de maio, às 8 da noite – ingressos a R$ 10 e R$ 5. Ela “sempre vai tocar com pessoas diferentes”. Quem a acompanha nestas apresentações são Gabriel Eubank (bateria), Felix Cecilio (guitarra) e Fabricio Rossini (baixo).

– Cristiano Castilo (@criscastilho) é jornalista, colunista do Portal Bem Paraná, onde mantém a coluna Pista 1, e colaborador do Chicken or Pasta e da Folha de São Paulo.

One thought on “Do meio do mato, Rosie Mankato faz a “música do futuro”

  1. Esse texto me soou mas como release do que como crítica musical. Ao ouvir a música praticamente se confirmou.

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