Três filmes: “A Bela e a Fera”, “Com Amor, Van Gogh” e “The Breadwinner”

por Marcelo Costa

Três filmes indicados ao Oscar 2018  (conheça os demais aqui)

“A Bela e a Fera”, de Bill Condon (2017)
Com duas indicações ao Oscar 2018 (Melhor Direção de Arte, que deve ir para “Blade Runner 2049”; e Melhor Figurino, que tem de ser de “Trama Fantasma”), esta nova versão de “Beauty and The Beast”, live action, baseada na clássica animação da Disney de 1991 (indicada a quatro Oscars e vencedora de dois) de mesmo nome que já era uma adaptação do conto de fadas do século XVIII de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, investiu sua força no carisma (e público) de Emma Watson, como a jovem Bela, a garota que se torna prisioneira do monstro Fera no seu castelo em troca da liberdade do seu pai Maurice (o livreiro Kevin Kline). O monstro era um belo príncipe de coração de pedra que foi enfeitiçado tempos atrás por uma fada travestida de mendiga, e, bem, você conheça toda a história, certo? Eficiente, desenvolto, lírico, com uma direção de arte inegavelmente sublime e uma mensagem edificante, essa revisão de “A Bela e a Fera” (lançado em março de 2017) arrebatou a audiência e cumpriu com honras o dever de transpor para a tela a bela história de Jeanne-Marie, mas não acrescenta tanto à animação de 1991, o que em si não é defeito, claro, mas também não traz surpresas. Há, ainda, dois filmes aqui: um com o elenco encabeçado por Emma (e que ainda traz, entre outros, Ewan McGregor, Ian McKellen e Emma Thompson) e o outro da direção de arte, e muitas vezes o segundo se sobrepõe ao primeiro. O resultado é correto e foi um imenso sucesso de bilheteria – a produção ficou em torno dos US$ 160 milhões com a receita batendo no US$ 1.260 milhões – que, assim como “Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi”, deverá sair de mãos vazias do Oscar, mas deixa a questão: daqui 50 anos, qual “A Bela e a Fera” será mais famoso? A animação de 1991 ou este filme de 2017? Ouso dizer o segundo… Será?

Nota: 7

“Com Amor, Van Gogh”, de Dorota Kobiela e Hugh Welchman (2017)
Financiado pelo Polish Film Institute e por uma campanha no Kickstarter e com a árdua tarefa de derrotar a poderosa Disney Pixar no Oscar 2018 (“Viva – A Vida é Uma Festa” é favoritíssimo), a obra de arte “Loving Vincent” (no original) tem a seu favor um trabalho manual absolutamente magnifico de pintura e, contra, um roteiro menor que não está à altura das cores, ainda que cause polêmica no intento de discutir o decantado suicídio do artista. Do primeiro grupo se destaca o incrível método de criação: o elenco (incluindo Saoirse Ronan, indicada ao Oscar pela sua boa atuação no superestimado “Lady Bird”) atuou à frente de uma tela verde, que serviu de base para que 125 artistas do mundo todo pintassem a mão, quadro a quadro, todo o filme, preenchendo os vazios do fundo verde inspirados nas cores e obras de Vincent Van Gogh num total de 65 mil quadros de óleo sobre tela. O trabalho é absolutamente maravilhoso, e exige uma sessão em tela grande, para que o espectador aproveite cada detalhe. Do segundo grupo, o recorte do roteiro (inspirado nas revelações do livro “Van Gogh: The Life”, lançado em 2011 por Steven Naifeh e Gregory White, que defende que Van Gogh foi baleado por um disparo acidental de um amigo, revertendo à tese de suicídio) foca em Armand Roulin, filho de um carteiro (Joseph, várias vezes retratado por Van Gogh) que precisa entregar uma carta de Vincent a seu irmão, Theo, um ano após sua morte. Inicialmente desconcertado, Armand começa a se interessar pela história de Vincent, e parte em uma busca por respostas, tal qual um investigador, tentando completar um difícil quebra-cabeça que tem como mérito apresentar Van Gogh para as novas gerações num belíssimo trabalho de arte.

Nota: 9

“The Breadwinner”, de Nora Twomey (2017)
Adaptação do romance “The Breadwinner” (lançado em 2000 e editado no Brasil pela Ática com o título de “A Outra Face”, mas cujo significado original é “Ganha-Pão”, a pessoa que sustenta a casa quando a família está necessitada) da escritora, ativista e feminista canadense Deborah Ellis, esta animação indicada ao Oscar com direção de Nora Twomey, roteiro de Anita Doron e produção de Mimi Polk Gitlin e Angelina Jolie, conta a história da pequena Parvana, uma garotinha de 11 anos que vive com a família numa Cabul controlada pelo Talibã. Certo dia, seu pai, um ex-professor, é preso de maneira injusta, e as mulheres da casa (a mãe e a irmã) mais o pequeno irmão bebê começam a passar por dificuldades financeiras e ficam sem comida em casa, já que, segundo o regime imposto pelo Talibã, nenhuma mulher pode circular sozinha na cidade e muito menos falar com homens, o que inclui ser atendida na feira e em armazéns. Parvana, então, decide cortar seu longo cabelo e se passar por um menino para poder sustentar a família e tentar descobrir como está o pai na prisão enquanto entretém o pequeno irmão com histórias ao voltar do trabalho. Fábula melancólica que retrata de maneira intensa a violência e o desrespeito talibã contra as mulheres, “The Breadwinner” também flagra a triste realidade das crianças que são obrigadas a abandonar a infância forçadamente em prol de uma necessidade familiar, um retrato vergonhoso do descaso de governos e das classes abastadas. Sonhador e empoderador ainda que trágico, “The Breadwinner” é uma animação que permite desejar seu final, ainda que a realidade seja muito mais cruel. Essencial.

Nota: 9.5

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia sobre todos os filmes do Oscar 2018 aqui

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