por Marcelo Costa
“Victoria e Abdul”, de Stephen Frears (2017)
Diretor de elegância inegável, Stephen Frears é responsável por um dos primeiros romances abertamente gays do Reino Unido (“Minha Adorável Lavanderia”, de 1985), pela obra-prima “Ligações Perigosas” (1988, indicado a sete Oscars, vencedor de três), pelo imoral “Os Imorais” (sua primeira indicação a Melhor Diretor em 1990) e pelo pop “Alta Fidelidade” (2000). Neste século, Frears beliscou indicações da Academia com “Coisas Belas e Sujas” (2003, indicado por roteiro original), “Sra. Henderson Apresenta” (2005, atriz e figurino), “Philomena” (2013, quatro indicações) e “Florence: Quem é Essa Mulher?” (2016, duas indicações). Isso sem contar “A Rainha” (2006), que rendeu a Frears a sua segunda indicação como Melhor Diretor (perdeu para Martin Scorsese) e, dentre as outras cinco indicações, Helen Mirren levou pra casa a estatueta de Melhor Atriz. Com um currículo desses, não dá para esperar pouco de “Victoria e Abdul” (2017), a segunda investida do diretor em histórias da família real britânica, indicado aos Oscars de Melhor Figurino (é quase impossível bater “Trama Fantasma”, de PTA) e Melhor Maquiagem (“O Destino de Uma Nação” deve levar). A trama relembra a história que une a Rainha Vitória, pós Jubileu (1887), a Abdul, um indiano com ares simplórios que foi seu confidente (a revelia de toda a corte) em seus últimos 15 anos de vida (ela morreu aos 81 anos em 1901). Indicada sete vezes ao Oscar (duas delas em filmes de Stephen Frears e premiada por “Shakespeare Apaixonado”, de 1998), Judie Dench constrói uma Rainha Vitória solitária e encantadora num bom filme mediano que não arranha o brilho dos clássicos de Frears, belisca o cômico, e conquista pela tristeza (e pela solidão).
Nota: 6
“Logan”, de James Mangold (2017)
Lançado no primeiro semestre de 2017, “Logan” é o primeiro filme de herói indicado ao Oscar na categoria de Melhor Roteiro, o que diz muito sobre essa adaptação de um dos personagens clássicos da Marvel Comics, o Wolverine. Com James Mangold na direção (responsável pela segunda incursão solo de Wolverine, em 2013, e ainda por “Garota, Interrompida”, de 1999, e “Johnny and June”, de 2005) dividindo o roteiro com Michael Green e Scott Frank (num desejo conjunto de realizar uma obra sem excessos de computação gráfica e com inspiração em Yasujiro Ozu), “Logan” tenta evitar os clichês do gênero “filme de herói”, ainda que seja difícil humanizar (a lá “Batman” de Christopher Nolan) um mutante com garras de adamantium nas mãos. A trama se passa em 2029 e não há registros de nascimentos de mutantes nos últimos 25 anos. Interpretado por Hugh Jackman, James “Logan” Howlett (o nome verdadeiro de Wolverine) cuida do Professor Charles Xavier, que sofre de uma doença neurodegenerativa. Logan está mais velho e cansado, sofrendo efeitos colaterais de sua mutação. É quando surge uma enfermeira pedindo que ele proteja uma garota de 11 anos, Laura Kinney (Dafne Keen), que ele descobrirá ser uma fugitiva de um projeto experimental da corporação biotecnológica Alkali-Transigen, que não conseguindo dominar as crianças testadas, decide condena-las a morte. Laura é a 23ª tentativa (X-23) de criar um novo mutante com poderes especiais, e há uma ligação entre os dois. Violento, didático e polêmico (Wolverine não era imortal?), “Logan” soa interessante mesmo para quem nunca pegou uma HQ do anti-herói nas mãos, e ainda que a indicação ao Oscar não vá convencer pseudo-intelectuais de cinema viciados em pré-conceitos, cá está um grande filme de ação que entrega o que promete.
Nota: 8
“Três Anúncios Para Um Crime”, de Martin McDonagh (2017)
Ainda que exiba uma carreira de pouco prestigio (a divulgação “vende” a lembrança de que ele escreveu e dirigiu “Na Mira do Chefe” em 2008, uma boa comédia B que utiliza a paisagem encantadora de Bruges e passou batido por todos) e um Oscar pelo curta “Six Shooter” em 2006, este novo trabalho de Martin McDonagh, ainda que superestimado, foi uma das boas surpresas de uma temporada acima da média. Indicado a sete Oscars (incluindo Melhor Filme), “Three Billboards Outside Ebbing, Missouri” (no original) conta a história de Mildred Hayes (Frances McDormand), mãe de uma garota que foi violentada e assassinada na pequena Ebbing, cidade (que não existe) caipiríssima do interior do Missouri. Para chamar a atenção da imprensa, da cidade e da polícia, que, segundo Mildred, “está ocupada demais torturando negros para resolver um crime de verdade”, ela aluga três outdoors visando cobrar uma solução para o caso. Sob o comando do delegado Willoughby (Woody Harrelson), uma policia local repleta de policiais racistas, como Dixon (Sam Rockwel), tenta se movimentar, mas tudo foge ao controle num roteiro que soa (algumas vezes de forma até forçada) bastante inspirado nas obras originais dos irmãos Coen (o que faz a escalação de Frances parecer tanto um acerto quanto um disparate), ainda que lhe falte a sagacidade, a inventividade e a porralouquice dos irmãos. O resultado é um bom filme de falsas redenções (como a vida?) que consagra elenco – Frances é favoritíssima ao Oscar de Melhor Atriz (ainda que a atuação de Margot Robbie em “Eu, Tonya” seja brilhante e exija mais) enquanto Sam Rockwel deve levar o de Melhor Ator Coadjuvante (a qual Woody Harrelson, excelente, também foi indicado) – roteiro original (“Corra!” é favorito) e edição (num mundo justo, “Eu, Tonya” levaria), mas corre o risco de vencer a categoria Melhor Filme e ser esquecido… como “Crash”. Será?
Nota: 8.5
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Judi Dench não ganhou o Oscar em 2000 por Chocolate. Foi Marcia Gay Harden, pelo papel em Pollock. Só foi agraciada por Shakespeare Apaixonado mesmo. Apenas uma pequena correção.