Boteco: 5 Países, 5 Cervejarias, 10 Cervejas

por Marcelo Costa

Abrindo mais uma sequencia de duas cervejas de uma mesma cervejaria pela Widmer Brothers Brewing Company. Fundada em 1984 em Portland, no Oregon, Estados Unidos, a Wildmer hoje integra a Craft Brew Alliance, junto a Redhook Ale Brewery – a InBev detém 32% da sociedade. Esta primeira cerveja é uma American Amber Ale que leva o nome de Drop Top e cuja receita une os maltes Pale, Caramel 10, Extra Special e Honey com os lúpulos Alchemy e Simcoe. Com uma coloração âmbar e creme bege claro de média formação e rápida dispersão, a Wildmer Drop Top exibe um aroma sútil que sugere mel, floral e caramelo. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque seguida de amargor leve, apenas 18 IBUs , e um discreto toque de laranja. A textura é levemente picante, com o mel aparecendo rapidamente sobre a língua. O resultado é uma American Amber Ale em que a doçura se sobressai, mas que, ainda assim, é agradável. No final, um meladinho que remete a marmelada, que também surge no retrogosto, interessante.

A segunda do pessoal de Portland é um American Hefeweizen que leva o singelo nome de Hefe e cuja receita une três maltes (Pale, Wheat e Extra Special) e três lúpulos (Alchemy, Willamette e Cascade) – foi a primeira cerveja da casa, lá em 1984. De coloração amarela turva com creme branco de boa formação e média retenção, a Widmer Brothers Hefe exibe um aroma suave com leve sugestão de trigo e feno além de muito mais cítrico do que banana – ainda que os dois estejam quase imperceptíveis. Na boca, cítrico bem suave e trigo discreto chegam juntos ao primeiro toque. Na sequencia, um leve cítrico acrescido de condimentação (remetendo a capim-limão!) marca a boca. A textura é suave com leve picância enquanto o amargor é médio, 30 IBUs interessantes. Dai pra frente surge um conjunto que se caracteriza pela refrescancia, mas pouco lembra o estilo de origem. No final, cítrico bem leve e refrescancia. No retrogosto, capim-limão, limão e trigo. Boazinha.

Dos Estados Unidos para a Dinamarca (ainda que a produção aconteça na Bélgica) com duas versões da To Øl Dangerously Close To Stupid, a primeira com Guava, ou seja, adição de goiaba. Na receita, ainda, os maltes Melanoidin e Pilsner encontram os lúpulos Admiral, Citra e Mosaic. O resultado é uma cerveja de coloração alaranjada com creme bege espesso e bem clarinho de bela formação e média alta retenção. No nariz, a goiaba salta para fora da lata assim que ela é aberta e traz consigo aromas tropicais, caramelo e goiabada. Na boca, doçura de mel, acidez de goiaba e amargor levemente resinoso, tudo isso junto no primeiro toque. Na sequencia, o amargor acalma, a goiaba se destaca e traz consigo uma pancada de doçura, que remete a marmelada. A textura é sedosa e levemente efervescente. Já os 9.3% de álcool não aparecem em um conjunto interessante, mas de baixo drinkability. No final, goiaba e doçura. Já o retrogosto reforça a sensação de marmelada com leve resina.

A outra To Øl também é uma Dangerously Close To Stupid, só que aqui recebendo adição de Apricot (damasco). A receita mantém os mesmos maltes e lúpulos da anterior, e o resultado é uma cerveja que apresenta uma coloração alaranjada com creme bege espesso e bem clarinho de bela formação e média alta retenção, idêntico a anterior. No nariz, porém, sai a goiaba (e com ela uma leve presença de acidez da fruta) e entra o damasco, trazendo consigo algo de pêssego e também de manga numa paleta menos brilhante do que na versão Guava. Na boca, a To Øl Dangerously Close To Stupid amount Apricot traz resina, amargor e damasco logo no primeiro toque, e mantém na sequencia as mesmas características que fazem a versão Guava soar enjoativa, com doçura e fruta excessivas se sobrepondo aos 9.3% de álcool, que, de novo, está muito bem escondido. A textura é sedosa, melada, e o amargor, médio – o lúpulo luta para tentar dar as caras, mas é sufocado pela doçura (do malte e da fruta). No final, cítrico sutil e amargor resinoso leve. Já o retrogosto traz damasco, resina e um pouquinho de manga.

Da Dinamarca para Sabadell, na região de Barcelona, na Espanha, com a primeira de duas cervejas da Nómada Brewing, fundada em 2011, e que em 2016 recebeu um grande parte da poderosa Mahou. Começando pela Nómada Revontulet Raspberry Sour Ale, que apesar do nome é uma Fruit Beer que recebe 3% de adição de suco de framboesa e exibe uma coloração avermelhada e creme levemente avermelhado de baixa formação e rápida dispersão. No nariz, bastante frutado remetendo a tortinha de morango, leve cítrico, doçura de malte e discreta condimentação. Na boca, porém, à doçura da framboesa é acrescido um leve azedume, ambos perceptíveis logo no primeiro toque. Dai para frente, o conjunto dá uma leve amaciada, mas perde seu caráter doce e se torna interessantemente mais provocante. A textura é suave e levemente picante num conjunto que privilegiará a característica da fruta, doce e azedinha. No final, azedume suave e frutado. No retrogosto, framboesa. Boa.

A segunda espanhola elogiada da Nómada é a Royal Porter, uma Imperial Porter de coloração marrom bastante escura com creme bege de média alta formação e média retenção. No nariz, um aroma delicioso com chocolate (mais ao leite do que amargo) em destaque acompanhado de defumado bem discreto, bastante alcaçuz, cacau e uma presença sutil de álcool (são 9.8%). Na boca, quem esperava doçura de chocolate, encontra, mas ela surge embebida em álcool (com suavidade) e com uma forte sugestão de alcaçuz, que surpreende no primeiro toque. Na sequencia, uma pontada de frutas escuras, mais cacau, baunilha e álcool (ainda sutil) marcam o paladar do bebedor. A textura é suave no início, e vai se tornando cada vez mais sedosa, com o álcool mostrando suas garras, com sutileza. Dai para frente, um conjunto elegante (a arte, no rótulo, avisa que deveria ser bebido em xicara) que, em nenhum momento, mostra o poder do álcool, belamente inserido na receita, e finaliza com chocolate e álcool sutil. No retrogosto, cacau, defumado discreto, chocolate e calorzinho alcoólico. Delicia.

Da Bélgica para San Petersburgo, na Rússia, com a primeira de duas Baltika: a número 6, uma Baltic Porter de coloração marrom escura com creme bege clarinho de boa formação e média alta retenção. No nariz, doçura achocolatada em destaque com leve café e derivados da torra do malte na base. Há percepção, além de cacau e frutas escuras, de um suave defumado. Na boca, mais alcaçuz e baunilha do que chocolate (também presente) no primeiro toque seguido de amargor bem suave mais chocolate, café e torra. A textura é suave e não deixa transparecer nada dos 7% de álcool, muito bem incorporados em toda a receita. Dai para frente surge um conjunto bem saboroso, com alcaçuz, frutas escuras, chocolate, café e defumado leve combinando bem seus detalhes. No final, baunilha com leve presença de ameixa e amargor discreto. No retrogosto, mais frutas escuras, um pouco de calda de ameixa e baunilha. Bem boa.

Da Baltika número 6 para a Baltika número 9, uma Strong Pale Lager de 8% de álcool que foi produzida pela primeira vez em 1998 (ou seja, está completando 20 anos). De coloração dourada com creme branco de boa formação e média alta retenção, a Baltika nº9 Extra exibe um aroma com doçura caramelada de malte, cereais suaves e álcool se destacando, com remissão às Malt Liquors. Na boca, doçura de caramelo embebida em álcool no primeiro toque seguida de um amargor herbal suave, logo vencido pela doçura intensa, que chega a enjoar. A textura é picante e sedosa, partindo para o licoroso, e, dai para frente, o que se segue é uma autêntica Malt Liquor, com doçura caramelada alcóolica dificultando o drinkabilty devido a sua forte doçura. No final, doçura, cereais e álcool, as mesmas sugestões que o retrogosto reforça. Indicada só para quem gosta de Malt Liquor (e olhe lá).

Da Rússia partimos para Freising, na região bávara da Alemanha, com a oitava e nona cervejas da cervejaria mais antiga do mundo, a mítica Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan, a passar por aqui. Primeiro vamos com a Weihenstephaner Kristall Weissbier, versão filtrada da famosa receita tradicional, que exibe uma coloração dourada com creme branco de excelente formação e longa retenção. No nariz, cereais, caramelo, floral suave, condimentação e, claro, a sugestão clássica de banana. Na boca, doçura frutada com leve presença cítrica acrescida, claro, de banana. Na sequencia, caramelo, condimentação suave e amargor ponderado (16 IBUs). A textura é suave. Dai para frente surge um conjunto extremamente saboroso, com frutado, floral e doçura combinando à perfeição. No final, cereais e banana. Já o retrogosto acrescenta leve herbal e condimentação. Ótima!

A segunda Weihenstephaner da sequencia é a Original Helles, uma Munich Helles de coloração amarela, um pouco mais clara que a Kristall Weissbier, e creme branco de excelente formação e longa retenção. No nariz, bastante percepção de cereais, presença menor de banana (ainda que seja facilmente perceptível), mais biscoito, floral e herbal suaves. Há, ainda, leve cítrico, palha e chiclete. Na boca, bubblegum suave, banana leve e doçura caramelada no primeiro toque. Na sequencia, herbal e amargor bem suave (21 IBUs) num conjunto que preza pela refrescancia e drinkability. A textura é suave. Dai para frente, um conjunto exemplar, que equilibra de maneira caprichada todos os elementos: amargor com leve tendência herbal, doçura caramelada, banana, bubblegum, floral, cereais e biscoito. No final, amargor discreto e secura. No retrogosto, banana, caramelo e refrescancia. Ótima (2).

Balanço
Primeira da série, a Widmer Brothers Drop Top é um American Amber Ale bem interessante, que remete a marmelada (no site oficial eles preferem maple syrup). Não brilha, mas também não desagrada. Já a Widmer Brothers Hefe não lembra em nada uma Hefeweizen, mas é gostosinha, com um sútil toque cítrico (limão) e nada de banana. Agrada, mas não encanta. Na sequencia, a To Øl Dangerously Close To Stupid amounts of Guava tem bastante goiaba e caramelo, o que faz enjoar um pouco. Esperava bem mais, mas, ainda assim, é interessante. Já To Øl Dangerously Close To Stupid amount Apricot soa ainda inferior, decepcionando um tiquinho mais com doçura excessiva, muita fruta e pouco lúpulo. Agora na Espanha com a Nomada Revontulet Raspberry Sour Ale, uma Fruit Beer azedinha deliciosa e surpreendente. Maior surpresa ainda, e feliz, é a Nómada Royal Porter, uma Imperial Porter incrível, de drinbality excelente (apesar dos 9.8%) e sabor caprichado. Elegante. Agora na Rússia, eu nunca espero muita coisa da Baltika, mas essa número 6 me surpreendeu, uma Baltic Porter acima da média. Bem boa! Já a Baltika 9 segue o padrão fraco desta cervejaria russa com um Malt Liquor esquecível. As duas Weihenstephaner mantém o padrão secular da cervejaria: tudo exatamente onde deveria estar, de uma maneira saborosa e caprichada, valorizando a refrescancia, o sabor e o drinkability. Excelência cervejeira.

Widmer Brothers Drop Top
– Estilo: American Amber Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 5.3%
– Nota: 3,04/5

Widmer Brothers Hefe
– Estilo: American Hefeweizen
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4.9%
– Nota: 3,05/5

To Øl Dangerously Close To Stupid amounts of Guava
– Estilo: Imperial IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 9.3%
– Nota: 3,23/5

To Øl Dangerously Close To Stupid amounts of Apricot
– Estilo: Imperial IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 9.3%
– Nota: 3,16/5

Nomada Revontulet Raspberry Sour Ale
– Estilo: Fruit Beer
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 6.7%
– Nota: 3,40/5

Nomada Royal Porter
– Estilo: Imperial Porter
– Nacionalidade: Espanha
– Graduação alcoólica: 9.8 %
– Nota: 3.84/5

Baltika 6
– Estilo: Baltic Porter
– Nacionalidade: Rússia
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.40/5

Baltika 9
– Estilo: Malt Liquor
– Nacionalidade: Rússia
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 2.10/5

Weihenstephaner Kristall Weissbier
– Estilo: German Kristallweize
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5.4%
– Nota: 3.50/5

Weihenstephaner Original Helles
– Estilo: Munich Helles
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5.1%
– Nota: 3.50/5

Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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