Entrevista: The Dirty Fuse

entrevista por Leonardo Vinhas

“A gente não faz show. O que fazemos é armar uma festa”. Assim dizia John Drake, baixista da banda grega The Dirty Fuse, minutos antes de comprovar na prática suas palavras. Drake, Christos Kogios (bateria), Manolis Kisamitakis (saxofone), Kostas Bakoulas e Eri Kapetanaki (guitarras) haviam vindo ao Brasil pela primeira vez, e receberam a reportagem do Scream & Yell no Korova 71, agradabilíssimo bar em Campinas onde fariam o quinto show da sua turnê brasileira, que contaria ainda com mais seis datas, todas no Estado de São Paulo.

Mas como, você se pergunta, uma banda de surf music da Grécia vem fazer uma turnê do Brasil? Descontadas as questões logísticas e o trabalho do produtor Neri Melo (também baterista do Mullet Monster Mafia), a resposta para isso se encontra no “sexto integrante”, ou integrante honorário da banda, Duda Victor. Paranaense, Victor morou alguns anos na Grécia e lá formou a banda, juntamente com o baterista Kogios. Ele voltou ao Brasil há alguns anos, montou a banda Terremotor (nome de uma canção do Dirty Fuse), mas retornou às fileiras da sua agremiação grega para tocar no terço final de cada uma das apresentações brasileiras.

Nos shows, a energia punk se soma à tradição igualmente enérgica da rebetika (canções urbanas da Grécia, geralmente sobre crime, drogas e prostituição, que chegaram a ser oficialmente proibidas no país durante parte dos anos 30 e 40). Com a velocidade se sobrepondo ao peso, o som foge dos clichês “punk exótico” ou “rock mistureba”, e compõe uma música imediatamente assimilável e dançável. E como boa parte de seus registros em estúdio são ao vivo, as execuções no palco se assemelham muito ao registro do disco, com o bônus da presença de palco da banda, que inclui o carisma de Drake, a figura à la Poison Ivy de Eri ou as dancinhas de Christos e Manolis. E quando Duda Victor se soma ao quinteto, o clima de festa se instala de vez.

De cervejas de 600 ml em mãos, a banda toda (menos Eri) entabulou um papo quase tão veloz quanto suas sequências de acordes. Porém, assim como sua música, o resultado da velocidade não é apressado, e sim algo muito agradável.

Vamos começar pelo óbvio: o Brasil. Acredito que o país já faz parte do imaginário da banda faz tempo, por causa do Duda. Quanto essa viagem tem correspondido às expectativas?
John Drake: Para mim, tem sido melhor do que imaginávamos que seria. As pessoas têm sido loucas – ou mais loucas do que eu esperava. Elas são realmente abertas [à música] e de bom coração.

Vocês tem se alternado entre bares e teatros nessa turnê. É um esquema muito diferente do que vocês fazem na Grécia?
Manolis Kisamitakis: Não mesmo. Bem, no SESC Registro sim, por causa das cadeiras. Mas já tocamos em lugares grandes assim. Então estamos nos sentindo em casa. E a disposição do público tem faz com que nos sintamos em casa.

Duda Victor: O bom de você tocar em teatros é que o pessoal está lá pela música. Em bares, o pessoal vai para conversar, beber, e a música é só mais uma coisa oferecida ali.

Christos Kogios: O legal de tocar em lugares pequenos, como esse aqui (Korova 71), é que você realmente sente a vibração das pessoas. Mas fazemos a mesma coisa onde quer que estejamos, seja um bar ou um estádio (os outros riem). OK, seja um bar ou teatro grande, a gente se diverte muito.

John: A gente não faz show. O que fazemos é armar uma festa. E a festa pode rolar em um bar, um teatro, uma garagem. Onde chegamos, armamos a festa, seja onde for. Esse é o nosso lema.

Kostas Bakoulas: Fazemos a mesma coisa e nos divertimos igual em todos os lugares.

A internet abre espaço para alguns fenômenos geográficos, então não é absurdo perguntar se o público dessa turnê já estava familiarizado com a música de vocês.
John: A maior parte das pessoas que estamos encontrando aqui não sabem nada sobre o Dirty Fuse, mas tem muita gente que gosta do estilo, e entre esses sempre tem um ou outro que já ouviu alguma coisa na internet.

Manolis: Mas tem o lance do nosso instrumento… Tocamos seis canções com o tzouras, que é um instrumento tradicional. Não é comum para os brasileiros, então eles ficam naquela de “o que é isso?”

Tem o “fator exótico”.
Manolis: Sim. E por isso o público presta ainda mais atenção.

John: E quem toca é a Eri, o que também é um “fator exótico” por ser uma mulher em uma banda majoritariamente masculina. Isso também chama atenção.

Algumas bandas de surf music que entrevistei recentemente dizem que não faz sentido querer manter o gênero preso nos anos 1960 ou 1990, que foram os períodos de maior popularidade do gênero. Que é melhor trazer influências de outros gêneros, tentar trazer novidade e algo mais pessoal ao gênero.
Manolis: Bem, não vamos falar de gostos pessoais (risos), mas é certo que toda banda precisa encontrar seu terreno firme e se fortalecer a partir daí. Somos gregos, temos influências gregas e tocamos de acordo com isso. Acho que todas as bandas precisam ser assim, ser fieis ao que lhes é natural.

Kostas: Para nós, isso foi natural. Mas não acho que cada banda tenha que incluir isso ou aquilo no seu som. Pode ser que alguma banda de surf pense: “ah, o legal é fazer como as bandas dos anos 1960, tocar como elas, porque é disso que gostamos”. Isso pode ser legal também. Ficar próximo passado ou querer evoluir, os dois podem ser bons. Se funciona, por que não? Nós tentamos tocar como no passado e não funcionou.

John: Duda fez a maior parte dos arranjos das nossas canções, e ele era muito consciente da sonoridade grega.

Kostas: Para nós, gregos, esse é um som comum. Mas não para o Duda. Então ele sabia puxar isso na gente de um modo diferente. É como se chegasse um alemão aqui e pirasse no samba e tentasse incorporar ao som, fazer um “samba surf” (risos). Foi o que o Duda fez. Ele não tentava tocar como um grego, mas teve o ouvido para o melhor lado dos nossos sons.

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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