por Marcelo Costa
“Churchill”, de Jonathan Teplitzky (2017)
Cinebiografia romanceada que foca no “primeiro-ministro mais famoso da Grã-Bretanha” (grifo do Guardian), “Churchill” parte de um alardeado falso recorte buscando destruir a imagem do estadista Winston Churchill, que serviu ao Rei George VI (e à Inglaterra) de 1940 a 1945 e novamente de 1951 a 1955 tendo sido líder do Partido Conservador entre 1940 e 1955. Nada disso está presente no filme, que não se preocupa em introduzir o personagem nem em mostrar sua importância, pelo contrário. O roteiro do (estreante) Alex von Tunzelmann trabalha na destruição do mito sem se apoiar na veracidade dos relatos: em 1944, às vésperas do Dia D (da Operação Overlord, que marcou o desembarque das tropas aliadas na Normandia e o início da queda de Hitler), a câmera flagra um Winston Churchill moribundo berrando com secretarias e fazendo tudo que lhe é possível para evitar o Dia D, que, no filme, ele considerava fadado a um massacre pelo exército alemão (não há nenhuma fonte da veracidade dessa afirmação e de outras no filme). Desta forma, grande parte dos 98 minutos do longa serão gastos com Brian Cox (interpretando o estadista) gritando para todos os lados enquanto a esposa Clementine (Miranda Richardson, ótima), o chefe do exército britânico, Alan Brooke (Danny Webb, um boneco nas mãos de Churchill), e do exército norte-americano, Ike Eisenhower (John Slattery, o Roger Sterling de Mad Men, muito bem), tentam demove-lo de seu intento. O resultado final é um filme pífio e, de certa forma, vergonhoso, que não combina com a biografia do estadista.
Nota: -1
“Borg vs McEnroe”, de Janus Metz Pedersen (2017)
Uma das maiores rivalidade do tênis ganhou versão cinemão em 2017 pelas mãos do diretor dinamarquês Janus Metz Pedersen: rei de Wimbledon (um dos quatro títulos mais importantes do tênis mundial) na segunda metade dos anos 70 após vencer os campeonatos de 1976, 1977, 1978 e 1979, o sueco Bjorn Borg pisou na quadra em 1980 com a responsabilidade de bater um recorde mundial e conquistar por cinco vezes o sonhado título na grama inglesa. Porém, Borg tinha um adversário a altura e totalmente antagônico: o norte-americano John McEnroe era totalmente o contrário de Borg. Enquanto o sueco era calmo, frio e jogava no fundo da quadra, o norte-americano tinha acessos de fúria, gritava e reclamava constantemente e jogava muito próximo a rede. Nas 14 vezes que se enfrentaram, cada um venceu 7 partidas, e o auge foi nesta final de 1980 retratada no filme. O roteiro de Ronnie Sandahl é educativo e aprofunda a personalidade dos dois heróis: Borg, quando criança, era tão violento e explosivo quanto McEnroe, mas conseguiu domar seus ímpetos aconselhado por um excelente treinador (quase que um segundo pai). McEnroe, por sua vez, era dono de seus ímpetos, encorajados pelo pai, que muitas vezes o levaram a vitória, e outras tantas a derrota. O filme flui muito bem com as atuações seguras de Sverrir Gudnason (Borg) e Shia LaBeouf (McEnroe) e é um prato cheio para fãs do esporte tanto quanto uma ótima introdução para neófitos do tênis. Evitando o spoiler histórico da final de 80, vale dizer que os maiores recordistas de Wimbledon seriam conhecidos nos anos 90 (Pete Sampras com sete títulos) e 2000/2010 (Roger Federer com oito, o mais recente neste ano), mas Borg e McEnroe têm muita história nessa quadra pra contar. Vale assistir!
Nota: 7
“O Castelo de Vidro”, de Destin Daniel Cretton (2017)
A jornalista Jeannette Walls fez sucesso nos EUA trabalhando com celebridades e fofocas, mas sua vida deu uma guinada quando, em 2005, aos 45 anos, lançou o livro “The Glass House”, que narrava memórias de sua infância e adolescência. Best seller com mais de 2,7 milhões de cópias vendidas e traduzido para mais de 20 países, “O Castelo de Vidro” ganhou versão cinemão em 2017 (já disponível em canais de streaming como Now e Youtube) pelas mãos de Destin Daniel Cretton e é um forte candidato a emplacar atores na lista final do Oscar 2017 (ator principalmente). Espécie de junção de “Joy” (o fracasso de David O. Russell em 2015 sobre Joy Mangano) com “Capitão Fantástico” (um dos grandes filmes da safra 2016), “Castelo de Vidro” exibe uma família tentando viver a margem do sonho americano: o pai Rex (Woody Harrelson excelente) é inteligente, crítico do sistema e alcoólatra; a mãe Rose Mary (Naomi Watts também brilhando) é uma excêntrica pintora com ares hippies; e os quatro filhos do casal (três meninas e um menino) tentam sobreviver a mudanças constantes de cidades e aos vícios do pai (em álcool e sonhos). Cretton conduz o novelão dramático com sabedoria amarrando a trama com flashbacks elegantes que não tiram o ritmo do roteiro resultando num filme correto cujo trunfo maior é a própria história de Jeannette (amplificada pelas ótimas atuações do elenco), que, logo nos primeiros minutos de tela (interpretada por Brie Larson), já famosa, ao sair de um jantar chique observa seus pais revirando lixo em Nova York. É apenas a ponta do iceberg de um drama familiar intenso.
Nota: 7,5
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne