Entrevista: João Suplicy

entrevista por Marcos Paulino

Quando seus pais são os políticos Eduardo e Marta Suplicy e seu irmão é o roqueiro espalhafatoso Supla, querendo ou não os holofotes estarão sobre sua família. Mas João Smith de Vasconcelos Suplicy, apesar da já ter sido casado com a também midiática Maria Paula, é um tanto mais discreto que seus familiares. No entanto, aqui ou ali, acaba também ganhando seu espaço. Como foi com o “Brothers”, programa de variedades que apresentou com Supla na RedeTV. Também com o irmão mais velho, formou o Brothers of Brazil, banda que lançou três discos nos seus oito anos de existência e se apresentou até nos EUA e no Reino Unido.

Fazia um tempo, porém, que João Suplicy queria retomar sua eclética carreira solo. Aos 43 anos, João achou que estava na hora de se separar de Supla. Juntou 14 das muitas canções que tinha na gaveta e gravou “João”, disco onde passeia do rock ao samba ou do blues ao baião sem pudores. O que certamente não causa estranheza para quem conhecia seu trabalho autoral ou que acompanha o “Violão ao Vivo do Quarto”, programa no Facebook em que já fez releituras de músicas de Gilberto Gil, Elvis Presley e Tim Maia, entre outros, e onde recebeu convidados do naipe de Zeca Baleiro, Criolo, Kiko Zambianchi, Mestrinho e Nasi.

“Foram quase oito anos com o Brothers of Brazil e tive essa vontade de voltar ao meu trabalho solo muitas vezes”, conta João Suplicy em entrevista ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell. “Acho que o Brothers pode vir a fazer algo junto no futuro, mas não acho que eu possa voltar a deixar meu trabalho solo em segundo plano”, comenta. No bate papo abaixo ele fala sobre “João”, no qual canta e toca quase todos os instrumentos, sobre sua família midiática (“Agora tenho pais de lados bem opostos – Risos) e outros assuntos, João deu a entrevista a seguir.

“João” tem blues, samba, baião… É um verdadeiro caldeirão sonoro. Esse ecletismo foi pensado ou as composições foram surgindo em vários ritmos naturalmente?
Não foi uma coisa pensada fazer um disco misturando vários estilos. Na verdade, umas faixas pendem mais pra um lado, outras pro outro, mas os estilos se fundem. Tem baião com pegada de blues, com um violão de nylon distorcido, ou com um riff de rock, tem rock na minha bossa, tem rockabilly com orquestração que remete a big bands. Sou de fato todas essas coisas, elas estão dentro de mim. Minha identidade musical é múltipla, e penso que o Brasil também é assim. Nossa cultura é múltipla e miscigenada.

Com tanta diversidade musical, é mais fácil ou mais difícil formar um público fiel?
Mercadologicamente, o fato de eu ser plural pode ser uma dificuldade. Talvez se eu focasse numa coisa só, fosse mais efetivo em termos de vendas. Tenho um estoque enorme de músicas, então poderia, por exemplo, fazer um disco inteiro romântico, ou mais puxado pro rock, ou até um de samba. Mas não foi essa minha vontade nem minha preocupação. Me senti mais representado e pleno fazendo como fiz, mesmo que isso venha a representar uma dificuldade comercial.

Se os ritmos se alternam, o amor é onipresente no disco. As letras quase monotemáticas também foram aparecendo de forma natural?
[Risos] Também foi totalmente espontâneo. A maioria, de fato, é de amor e totalmente biográfica. As letras surgiram de coisas que eu estava vivendo e sentindo. Mas tem também aquelas que faço como crônicas, de observação do mundo que está à minha volta.

Depois de vários anos trabalhando com o Supla, você sentiu que era o momento de retomar a carreira solo?
Sim, foram quase oito anos com o Brothers of Brazil e tive essa vontade de voltar ao meu trabalho solo muitas vezes. Componho muitas coisas que não cabiam no Brothers, porque não tinham a ver com o conceito da banda. Queria dar vazão a essas músicas, mas o Brothers tinha atividade o tempo todo, turnês, festivais, lançamos três álbuns, fizemos programa de TV… Foi um projeto que deu muito certo, mas não queria voltar à carreira solo quando tivesse 60 anos.

Mas você está encarando essa separação do Supla como temporária ou é realmente definitiva?
Sinto essa retomada solo como uma coisa mais definitiva do que como uma possível volta com o Brothers. Acho que o Brothers pode vir a fazer algo junto no futuro, mas não acho que eu possa voltar a deixar meu trabalho solo em segundo plano.

Em 2007, você saiu em turnê com o projeto “Elvis’n’Bossa”, em que interpretava o repertório de Elvis Presley em formato bossa nova. Tem vontade de fazer tributos a outros artistas?
De certa forma, até faço isso no “Violão ao Vivo do Quarto”. Sempre crio uma pauta pro programa, como, por exemplo, Dorival Caymmi. Fiz uma releitura da obra dele. Outro dia fiz do Elvis, e faço de várias praias diferentes mesmo, porque me sinto à vontade pra isso. Já mergulhei na obra do Caymmi, do Elvis, dos Beatles, do Gil…

Antes, em 2015, você lançou o João Suplicy & The Hound Dogs, e assumiu uma persona rockabilly até no visual. Há quantas anda esse projeto?
Parei também. Foi um movimento de querer fazer algo separado do meu irmão, mas já bem segmentado, de rock’n’roll mesmo. Mas agora estou focado no meu trabalho pessoal.

Você tem uma família ultramidiática, não só famosa, mas polêmica. Isso dificulta ou impulsiona seu trabalho? Ou não faz diferença?
Às vezes, interfere. Agora tenho pais de lados bem opostos. [Risos] Procuro me guiar da forma mais independente possível, no sentido de não alterar meu caminho em função disso. Se a pessoa não gosta da minha mãe ou curte minha família não está no meu controle. Posso despertar simpatias e antipatias independentemente do que faça. O meu foco é sempre fazer e apresentar meu trabalho, mas de que forma isso vai chegar no outro não depende de mim.

Marcos Paulino é editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)

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