Entrevista: Braza

entrevista por Marcos Paulino

Em junho de 2015, os integrantes do Forfun publicaram um texto em sua página no Facebook anunciando o fim da banda, o que pegou seus fãs de surpresa. Afinal, o quarteto carioca, formado em 2001, gozava de boa exposição e frequentava com certa assiduidade canais como MTV (participou até da coletânea “MTV ao Vivo: 5 Bandas de Rock”) e Multishow. Tinha lançado cinco álbuns e um DVD ao vivo que bombou.

Mais espantados ainda ficaram seus seguidores quando, em março de 2016, saiu o primeiro disco do Braza, formado por Nicolas Christ (bateria), Danilo Cutrim (guitarra e voz) e Vitor Isensee (teclado e voz). Ou seja, dos quatro membros do Forfun, só o baixista e vocalista Rodrigo Costa ficou de fora do novo projeto. Mas não rolou briga nenhuma, garantem eles. Era só a vontade de respirar novos ares.

Recentemente, o Braza voltou à tona com seu segundo álbum, “Tijolo por Tijolo”, que traz 10 faixas calcadas basicamente no reggae e no rap, conforme o batera Nicolas assume na entrevista a seguir, concedida ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell. E tem como trunfo a participação da cantora Sister Nancy, uma das precursoras do dancehall jamaicano, na pacifista “Exército sem Farda”. Ah, Rodrigo Costa hoje está nas bandas Tivoli e Carranca, que lançaram no fim de 2016 seus discos de estreia.

De onde vocês tiraram o nome Braza?
Desenvolvemos todo o projeto e a última coisa que apareceu foi o nome. Fomos juntando adjetivos, intenções, verbos, e sempre apareciam cores quentes, vermelho, laranja, que inclusive são as cores que usamos na nossa identidade visual. Aparecia muito ímpeto, vontade, raiz. Achamos que Braza sintetizava bem o que a gente queria desenvolver. E também porque remete ao Brasil. Então unimos o nome do país com algo incandescente, a centelha da vida.

Vocês estão lançando o segundo disco pouco tempo depois do primeiro, o que não é fácil, principalmente numa carreira independente. Por que tomaram essa decisão?
Realmente, hoje em dia é difícil ter artistas que lancem dois álbuns no espaço de um ano. Pelo que estávamos acostumados até então, isso pra gente era quase impossível. Mas estamos começando um projeto quase que do zero, e muito pela nossa necessidade de nos expressar, não paramos de fazer música. A gente acabou de fazer um disco e, com certeza, em breve virão novas canções. Além disso, durante a turnê do primeiro disco, por serem apenas 10 canções, a gente precisou colocar alguns covers, pot-pourris de artistas que a gente gosta. Então sentimos falta de um show com mais corpo.

Que diferenças você apontaria no som da banda neste segundo álbum em relação ao primeiro, que foi mais próximo do fim do Forfun?
Quando começamos um novo trabalho, nos expressamos muito com base em nossas referências. Aos poucos, percebo que a gente vem galgando uma personalidade própria. Neste novo disco, a gente conseguiu aparar as arestas e desenvolver os dois pilares que a gente vem estudando muito, o rap e o reggae. A gente conseguiu criar traços da nossa identidade brasileira, que está no nosso DNA. Com isso, com relação ao primeiro disco, acho que é um trabalho mais coeso, que se aproxima mais do que a gente acredita ser nossa identidade.

Você acredita que o segundo disco está menos “impregnado” de Forfun?
Não sei. Mas posso dizer que estamos mais perto daquilo que a gente quer desenvolver neste momento. Fizemos o que queríamos fazer realmente. É como um pintor que vai experimentando tintas. Agora a gente sabe como aquela cor vai aparecer, porque experimentamos muito. Então este trabalho foi menos experimental e mais dentro do que queríamos.

Com o Forfun vocês conseguiram uma boa exposição. Como está sendo essa transição para novamente ter uma banda independente que busca seu espaço?
Com o Forfun, a gente realmente experimentou essa sensação de estar na mídia, mas nunca largamos o underground. Sempre priorizamos meter a mão em todas as etapas do processo, na feitura de clipes, de bonés, de camisetas. Sempre metemos a mão na massa. Com o Braza, a gente retomou essa sensação do início do Forfun, de viajar de van, de desenvolver as artes dos materiais de divulgação, de editar clipe, de participar de todas as etapas. Não é começar do zero, mas começar de novo, com a bagagem que a gente trouxe do Forfun. É muito trabalhoso, mas ao mesmo tempo muito prazeroso estar desenhando algo novo. No Forfun, começamos muito novos, íamos conforme o fluxo da vida nos levava. Agora, com o Braza, pudemos pensar antes no conceito, no que queríamos fazer, desde a identidade visual até o ritmo. Queremos muito fazer uma mescla de reggae e rap com os assuntos que queremos abordar. Tudo isso foi pensado antes.

Como rolou a participação da Sister Nancy no disco?
Dentro dessa intenção de fazer essa ponte com ritmos jamaicanos, no primeiro disco tivemos a honra e o prazer de ter a participação do Mykal Rose (ex-vocalista do Black Uhuru), em “Easy Road”. Agora, pensamos em quem poderíamos chamar pra somar. Nosso produtor, o Bruno Negreiros, deu a ideia de fazer com a Sister Nancy, que é a primeira MC do mundo. A gente já tinha uma música que achava que ela poderia curtir. Ela não só curtiu como botou a letra. Ficamos emocionados, foi uma honra muito grande, porque curtimos o som dela. E a letra é muito linda, fala de amor, de todo mundo estar no mesmo barco, de ser parte do mesmo organismo.

Nos shows que vocês já fizeram, o público certamente misturou fãs do Forfun com a galera que está conhecendo agora o som de vocês. Qual foi a reação da plateia?
Foi muito legal. É um projeto novo, e a gente estava realmente ansioso sobre como as pessoas iriam se expressar. Até porque são propostas diferentes, o show do Forfun é mais agitado, com uma pegada mais rock. Mas a galera teve um carinho muito grande com a gente, com um clima bastante quente, as pessoas cantando junto. Tem realmente a galera que veio do Forfun, mas percebemos também muita gente nova, que está conhecendo o Braza agora.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira.

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