Três HQs: Luke Cage e Punho de Ferro, Esquadrão Amazônia e Suicidas

por Adriano Mello Costa

“Luke Cage e Punho de Ferro – Edição 1 – Eles Voltaram”, de David F. Walker e Sanford Greene (Panini Comics)
Mantendo o plano traçado já há algum tempo, a Marvel faz novas revistas com seus personagens que ganham adaptações para o cinema ou televisão. Dessa forma, personagens até então sem muita chance de encabeçar uma publicação reaparecem. Por conta das séries do Netflix, a dupla Luke Cage e Punho de Ferro é mais um exemplo da diretriz e a Panini Comics coloca no mercado nacional um volume com 116 páginas contendo as edições de 1 a 5 de “Power Man and Iron First”, impresso nos EUA entre abril e maio de 2016. Nesta nova incursão da dupla, o roteiro ficou com David F. Walker (“Liga da Justiça”) e a arte com Sanford Greene (“Deadpool”). O estilo escolhido para essa viagem corrente foi extremamente leve, ambientado na mesma seara dos personagens mais engraçadinhos da editora. Fica óbvio e latente o desejo de agregar um público mais jovem, o que por si só é louvável para revigorar antigas ideias, no entanto é de se esperar que a qualidade venha junto com esse desejo. Em “Luke Cage e Punho de Ferro – Edição 1 – Eles Voltaram”, porém, o roteiro é repleto de piadas e tiradas “engraçadas”, que funcionam poucas vezes, mas consegue respeitar a história da dupla e os eventos em que estiveram inseridos nos últimos anos, o que é um alento. A arte, por sua vez, opta por ser mais cartunesca, caricata, com destaque para expressões faciais espirituosas, o que convenhamos não funciona bem. Como o título já denuncia, a história exibe a dupla trabalhando nos tempos dos Heróis de Aluguel, a princípio para ajudar uma ex-secretária que acaba de sair da cadeia. Com envolvimento de nomes conhecidos e muita magia no meio, esse início é fraco e só rende bons momentos no fim com a trapalhada que envolve acidentes e um programa de rádio, mas nada além disso.

Nota: 4

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“Suicidas – Volume 1”, de Lee Bermejo e Matt Hollingsworth (Panini Comics)
Um terremoto de proporções gigantescas atingiu Los Angeles e transformou totalmente a Cidade dos Anjos. Uma nova cidade surgiu do desastre com um muro afastando os pobres e indignos e uma brutal força policial se certificando que ninguém passe (lembra algo?). Os administradores e donos dessa nova cidade utilizam de um truque muito antigo para entreter a população: batalhas entre homens em uma arena. Faça aqui a correlação que quiser, desde os gladiadores do império romano até os octógonos dos dias atuais do UFC. A ideia é a mesma, basicamente. Esses lutadores têm melhorias mecânicas para as lutas e são comandados de acordo com as vontades da corporação que lhes paga muito bem e proporciona uma vida de estrela (enquanto for do seu interesse). Esse é o mote da série criada pelo exímio Lee Bermejo (de “A Piada Mortal” e “Coringa”), que conta ainda com as cores de outra fera da nona arte, Matt Hollingsworth (de “Tom Strong” e “Preacher”). A Panini Comics lançou “Suicidas – Volume 1” no mercado nacional em 2017, um encadernado contendo as edições 1 a 6 da série, originalmente publicados nos EUA entre abril e novembro de 2015 com 164 páginas e papel LWC. O personagem principal é Santo, o maior lutador das arenas e um verdadeiro popstar (lembre, apesar do desastre ainda estamos em Los Angeles), contudo sem vontade própria devido a segredos que carrega do passado. O maior acerto do roteiro de Lee Bermejo é que, ao mesmo tempo em que faz o leitor se envolver com os dramas do protagonista, insere coadjuvantes que também tem brilho próprio. E, indo mais além, coloca ao lado da questão das lutas e busca de redenção, considerações sobre poder, mídia, opressão e desmandos das grandes corporações. Das séries que o selo Vertigo publicou no último triênio, sem dúvida essa é uma das mais interessantes.

Nota: 8

“Esquadrão Amazônia”, de Joe Bennett, Alan Yango e Alan Patrick (Independente)
O Esquadrão Amazônia foi criado e utilizado como peça promocional no início dos anos 2000 para uma empresa de telefonia da região Norte do Brasil por Joe Bennett, hoje um experiente artista da Marvel e DC. O quadrinhista já espalhou talento por revistas como Homem-Aranha e Vingadores, entre tantas outras. Ele é paraense, assim como Alan Yango, criador do poderoso Maximus, que vem publicando com a regularidade que é possível. Os dois decidiram reviver a ideia de um grupo de super-heróis oriundos da Amazônia e lançaram o projeto para financiamento coletivo, sendo que o primeiro número dessa jornada inicial foi lançado oficialmente no final de 2016. “Esquadrão Amazônia” tem roteiro dividido pela dupla e arte de Bennett com auxílio de Alan Patrick. O resultado em 46 páginas aponta para uma equipe de indivíduos com relação direta com o Norte que levam nomes como Açu, Jurema, Búfalo, Onça, Sucuri, Iara e Aruã. Para forjar os poderes são utilizados mitos, tradições, lendas e folclores, um mundo vasto e poderoso nesse sentido. Com a inserção do Maximus na edição, pensa-se mais além, na ambição de um universo próprio compartilhado por todos. A trama de origem em si, a exemplo de outras equipes famosas nos quadrinhos, é simples e funcional. Para deter uma grande ameaça (alienígena, no caso aqui), vários indivíduos com dons e habilidades se reúnem para evitar o caos e destruição. Se isso não apresenta nada de muito novo, planta, porém, a semente para histórias mais elaboradas no futuro. A arte merece destaque não somente pelo traço habilidoso de Bennett, como também por retratar no cenário e nos coadjuvantes a cidade de Belém e suas peculiaridades, assim como as da região. É inegável o apelo que “Esquadrão Amazônia” estampa nessa ressuscitada, tanto para o quadrinho nacional, quanto pela expansão do mercado e fica a torcida para que como está escrito na contracapa a aventura esteja realmente apenas começando.

Nota: 7,5

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) assina o blog de cultura Coisa Pop

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