Boteco: 11 cervejas da linha IPA da Dogma

por Marcelo Costa

Grande sucesso da temporada 2016 no Brasil, a Dogma Rizoma é uma Double IPA com lúpulos Citra e Mosaic que foram adicionados apenas no final da fervura, buscando oferecer um amargor muito mais limpo e de melhor qualidade. De coloração âmbar alaranjada com creme branco de boa formação e retenção, a Dogma Rizoma exibe um aroma encantadoramente frutado oferecendo doçura e cítrico (de maracujá, manga, tangerina, lichia e limão) com uma base bastante suave de mel. Há, ainda, leve percepção herbal. Na boca, textura cremosa com leve picância. O primeiro toque traz rápida doçura atropelada no segundo seguinte por uma pancada assertiva de frutas e são mais alguns segundos até o amargor potente (80 IBUs) elevarem o conjunto a um nível de capricho. Dai em diante, frutado e herbal apaixonante nadando em meio a amargor agradável, nada arisco, até o final, deliciosamente cítrico. No retrogosto, frutado (manga, abacaxi, lichia), herbal, mel e amor cervejeiro.

A primeira versão da Rizoma foi lançada em maio de 2016 e, no final de outubro, surgiu uma segunda versão do hit do ano, que mantém os lúpulos Citra e Mosaic adicionados apenas no final da fervura, mas altera a levedura, optando agora pela Conan Vermont Ale. O resultado é uma âmbar âmbar mesmo, com delicados traços alaranjados da primeira versão. O creme é branco e de boa formação e permanência. No nariz, porém, não há a mesma fartura de notas cítricas percebidas na primeira versão. Ainda que muitas delas estejam aqui (maracujá e tangerina principalmente além de doçura de manga), a sensação é a de uma cerveja menos aromática que a primeira versão. Na boca, textura cremosa com leve picância. O primeiro toque traz doçura um tiquinho mais persistente do que na versão 1. Na sequencia, a pancada frutada cítrica não é tão potente quanto na versão 1, o que sugere mais equilíbrio, e menos elementos que conquistaram os bebedores. O final é cítrico e refrescante. No retrogosto, mais cítrico e leve doçura.

Lançada em janeiro de 2017, a Rizoma Double Dry Hopped segue na trilha aberta pela Rizoma 2 com aroma bastante próximo, mas com muito mais sensação de amargor presente, ainda que o IBU de cada uma se mantenha na casa dos 80. Na taça, a Rizoma 3 exibe uma coloração amarelo turva quase alaranjada com creme branco de média formação e resistência. No nariz, notas frutadas cítricas contagiantes (maracujá) e algo que remete a mofo e suco concentrado de caju. Na boca, frisante rápido e cremoso subsequente na textura. O primeiro toque traz um milésimo de segundo de doçura atropelado por um amargor violentíssimo, o mais intenso até agora em cervejas Dogma. Dai pra frente, o amargor seguirá riscando a garganta e deixando para trás um traço cítrico, mofado e levemente (e estranhamente) parafinado. O final é torto, seco e mofado. No retrogosto, mofado se sobrepondo ao cítrico. A levedura deve ter se rebelado no tanque e o resultado é a mais fraca das Rizoma.

Colocada no mercado em agosto de 2016, a Alpha Ryeno é uma colaborativa da Dogma com a (também excelente) J.Beer. Trata-se de uma Rya American IPA, ou seja, uma potente India Pale Ale (de 6.2% de álcool e honestos 70 IBUs) com centeio e quatro lúpulos: El Dorado, Yellow Sub, Azzaca e Ella. Na taça, a Alpha Ryeno exibe uma bonita coloração alaranjada levemente turva com creme branco de boa formação e média retenção. No nariz, aroma frutado desde que a lata é aberta sugerindo manga, pêssego e melão sobre uma base delicadamente doce. Na boca, textura levemente cremosa com pouquíssima picância. O primeiro toque oferece o frutado cítrico macio antecipado pelo aroma, mas os lúpulos vão amargando o centeio logo no segundo seguinte, mas a doçura consegue equilibrar bem um conjunto arisco e rebelde até o trecho final amargo, bastante amargo. No retrogosto, frutado, amargor leve e doçura. Boa!

Lançada anteriormente pela Serra de Três Pontas, e a partir de outubro de 2015 já com o nome Dogma, a Hop Lover é a base das single hop que fizeram a fama da casa posteriormente. Na receita original, a Dogma Hop Lover trazia (em grandes quantidades) os lúpulos Citra, Amarillo e Simcoe, mas, na falta do último, esse novo lote traz o lúpulo Equinox. De coloração âmbar clara levemente alaranjada com creme branco de boa formação e permanência, a Hop Lover exibe um aroma deliciosamente cítrico com sugestão de maracujá, abacaxi, casca de laranja e lichia em destaque. Ainda é possível perceber notas herbais e leve condimentação. Na boca, a textura é picante. O primeiro toque traz leve doçura atropelada na sequencia por uma pancada incrível de lúpulo cítrico e herbal. O amargor é marcante (90 IBUs intensos!), mas não agressivo, abrindo caminho para um conjunto delicioso, refrescante, cítrico (maracujá e abacaxi à frente) e herbal (leve pinho). O final é seco e herbal. No retrogosto, um fio de amargor mais cítrico, herbal e felicidade. Que baita cerveja!

Da caprichada série Double IPA Single Hop da casa que tem como base a Dogma Hop Lover, a Dogma Equinox Lover (terceiro rótulo da série, lançado em novembro de 2016) utiliza o lúpulo norte-americano desenvolvido pela Hop Breeding Company e lançado em 2014. De coloração amarela meio alaranjada com creme branco de boa formação e longa permanência, a Dogma Equinox Lover exibe um aroma que combina notas frutadas (limão, laranja, lichia, pêssego), herbais (pinho e ervas) e leve condimentação (pimenta preta). Na boca, textura meio cremosa com leve picância. O primeiro toque marca a força do lúpulo sugerindo herbal e frutado potentes e deliciosos (um pouco de damasco mais lichia e pinho). O amargor (80 IBUs declarados, mas que aconchegados no belo conjunto soa 50/60) é impactante, mas limpo e saboroso abrindo as portas para um conjunto caprichado, que consegue mostrar a que veio: provar a força única deste lúpulo. O final é seco. No retrogosto, frutas, leve herbal e felicidade. Boa demais.

Segundo rótulo da série Double IPA Single Hop, a Dogma Mosaic Lover (lançada originalmente em agosto de 2016 e com um segundo lote em dezembro) utiliza o lúpulo Mosaic, variedade que surgiu em 2012 (também via Hop Breeding Company) fruto da junção dos lúpulos Simcoe e Nugget. De coloração amarela meio alaranjada com creme branco de boa formação e longa permanência, a Dogma Mosaic Lover apresenta um aroma absolutamente incrível, que salta para fora assim que a lata é aberta ofertando uma salada de frutas (laranja, tangerina, mamão, maracujá, abacaxi) incrível. Na boca, a textura é meio cremosa com leve picância. O primeiro toque é uma pancada de lúpulo cítrico mostrando primeiro doçura frutada (mel e tangerina) e logo depois um amargor que soa mais potente do que na versão Equinox Lover (honrando os 80 IBUs). Dai pra frente, uma cerveja incrível que não dá vontade de parar de beber (e olha que são 8.7% de álcool!) e que finaliza amarga e cítrica. No retrogosto, maracujá, abacaxi, laranja… uma salada de frutas espetacular. Palmas!

Lançada em janeiro de 2017, a Dogma Galaxy Lover foi a quinta cerveja da série single hops da casa (ficaram de fora deste review apenas a quarta, Azzaca Lover). O Galaxy é um badalado lúpulo australiano que combinou caprichadamente com o conjunto da Dogma Lover. De coloração amarela, juicy, com creme branco de ótima formação e média alta retenção, a Galaxy Lover exibe um aroma deliciosamente frutado sugerindo bastante cítrico (maracujá, laranja, abacaxi e doçura de manga) e também um interessante toque herbal. Na boca, a textura é cremosa e picante. O primeiro toque traz cítrico e herbal praticamente juntos, mas na sequencia é o frutado (maracujá e manga) que se sobressai e chama a atenção até a pancada de amargor, 80 IBUs de respeito que abrem caminho para um conjunto caprichado, que é um dos melhores dessa série, com o frutado conquistando o paladar até o final, longo e amargo. No retrogosto, leve resina, herbal e cítrico. Muito boa.

Lançada no final do mês de outubro de 2016, a Dogma Estigma é uma American IPA com os lúpulos Citra, Mosaic, Equinox e Azzaca alcançando 70 IBUs e 7% de graduação alcoólica. Na taça, uma cerveja de coloração amarelo turva com creme branco de excelente formação e longa retenção exibe um aroma intensamente frutado com notas que remetem a maracujá, manga, mamão e abacaxi (num frescor incrível). Há uma suave doçura também frutada que surpreende por não remeter a caramelo. Na boca, a textura é cremosa e levemente picante. O primeiro toque reforça tudo que o aroma adianta oferecendo uma salada de frutas cítricas que vão surgindo na língua como pétalas se abrindo. Seguindo, há leve doçura e amargor potente, mas limpo e nada exagerado. E nenhuma percepção dos 7% de álcool. Dai pra frente, uma cerveja incrível, lupulada e cítrica, mas aceitavelmente amarga além de refrescante e muito saborosa. O final é seco e cítrico. No retrogosto, saladinha de frutas cítricas e refrescancia. Uou!

Lançada em março de 2017 e apresentada pela casa como “a mais complexa IPA criada pela Dogma”, a Magnum Opus une os lúpulos Citra, Amarillo, Centennial e Chinook com a levedura britânica London III, tradicionalmente usada em Bitter, Oatmeal Stout e English IPA na terra da rainha. “A ideia é ter um perfil resinoso e frutado”, disse o cervejeiro da casa, Bruno Moreno. De coloração amarelo juicy (como um suco concentrado) com creme branco de boa formação e média permanência, a Dogma Magnum Opus exibe um aroma incrível: deliciosamente frutado (manga, casca de laranja e abacaxi), herbal (pinho) e levemente resionoso. Na boca, a textura é cremosa e suavemente picante. O primeiro toque traz frutado suave e levemente cítrico seguido de resina também suave e de um amargor deliciosamente limpo, que se arrasta caminho à frente levando os 80 IBUs até o trecho final, cítrico e resinoso (mas limpo). No retrogosto, amargor, cítrico, resina e herbal. Medalha de ouro pra menina.

Fechando a série India Pale Ale da Dogma com a primeira e mais querida (pelos bebedores) da série Single Hop Lover, que ganhou uma reedição em abril de 2017: Dogma Citra Lover, com o lúpulo norte-americano HBC 394, que foi lançado em 2007 e chamado de Citra. De coloração amarela levemente turva com creme branco de boa formação e permanência, a Citra Lover exibe um aroma repleto de frutas (manga, goiaba, tangerina e abacaxi) e, ainda, um leve herbal e mel suave. Na boca, textura cremosa e picante. O primeiro toque traz rapidíssima doçura atropelada por uma salada de frutas (acrescente uva verde ao conjunto) e, na sequencia, uma pancada de amargor potente (80 IBUs de muito respeito) abrindo caminho à frente a navalhadas e deixando um traço riscado garganta abaixo (até o coração – nhoim). O final é seco, levemente herbal e amargo. No retrogosto, uva verde, amargor e felicidade. Uau!

Balanço
A Dogma Rizoma é uma das unanimidades cervejeiras no Brasil em 2016, e a turma toda não está errada: é uma cerveja sensacional. Já a Rizoma II deixou a desejar, e mesmo ficando devendo ainda é uma cerveja bem interessante (o nível da casa é que é alto). Já a Rizoma 3 soa um erro… amargamente exagerado e com a levedura radicalizando no conjunto, que traz, entre outras coisas, mofado e parafinado. Estranha. A Alpha Ryeno não havia me agradou muito nas vezes anteriores, mas essa lata da foto estava redondinha, e ainda que fique abaixo da linha Lover da Dogma, merece uma estudada com mais carinho. Quero mais. Abrindo a linha Single Hop com a Equinox, que é boa, mas fica atrás do encanto da Mosaic, simplesmente sublime. A Galaxy parece ainda melhor, com um herbal interessante em meio a salada de frutas cítricas. A Dogma Estigma, junção de quatro dos lúpulos da série Single Hop, é interessante e bem gostosa, mas mostra que separados eles funcionam bem melhor. Ranheta que sou, fiquei um tempo procurando defeitos na Magnum Opus e… está espetacular. Clap clap clap. Fechando a série com a melhor das Single Hop Lover, a Citra, extremamente apaixonante.

Dogma Rizoma
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.3%
– Nota: 4,03/5

Dogma Rizoma II
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.3%
– Nota: 3,40/5

Dogma Rizoma Double Dry Hopped
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.3%
– Nota: 3,11/5

Alpha Ryeno
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.2%
– Nota: 3,61/5

Dogma Hop Lover
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.5%
– Nota: 3,91/5

Dogma Equinox Lover
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3,86/5

Dogma Mosaic Lover
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.7%
– Nota: 4,02/5

Dogma Galaxy Lover
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.7%
– Nota: 4,03/5

Dogma Estigma
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,81/5

Dogma Magnum Opus
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 4,04/5

Dogma Citra Lover
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.3%
– Nota: 4,03/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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