Três CDs: Breno Branches, Estado de Sítio e Joe Silhueta

por Leonardo Vinhas

“Enchanté”, Breno Branches (Independente)
Em sua página no Facebook, Breno Branches diz fazer “música para quem sonha”. O release, por sua vez, fala em “baladas tecidas com o traço da esperança”. Se ao ler você deduz estar diante de canções de sofrência adolescente, acertou. “Enchanté”, seu segundo EP (o primeiro é “Que Bolero”, de 2015) traz quatro canções semiacústicas nas quais se percebe que a mira estava em Beirut, mas o alvo atingido foi algum derivado de Los Hermanos da metade final da década passada. Falta maturidade e direção ao trabalho, que comete o pecado de enfileirar duas faixas – “Do Trem” e “No Final da Noite” – com melodias muito parecidas, soando como variações do mesmo tema. Ao ler o que o rapaz escreve sobre sua música, é possível perceber que ele provavelmente acredita no que faz. Isso, porém, não muda o fato de que ele faz aquele folk de propaganda de supermercado, ralinho e sem muito gosto.

Nota: 2

“Estiagem”, Estado de Sítio (independente)
Os capixabas Estado de Sítio demoraram mais de 15 anos para lançar seu segundo álbum (“Aparências”, seu debute, é de 2001), e hard rock e grunge ainda formam as raízes do seu som, que começa agora a ser regado aos poucos com doses de música brasileira. Esse elemento nacional, combinado com as referências mais noventistas, faz com que faixas como “Santo Caolho” (com participação do conterrâneo André Prando) e “Gente Amarela” guardem uma conexão (involuntária) com a obra dos recifenses Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis. Pena que a banda não invista mais nessa mistura, pois é dela que resultam as faixas mais interessantes. As demais enveredam pelo manjado caminho do rockão pesado com vocal à Chris Cornell (que entoa letras bastante ingênuas e clichê, em especial a de “Depois do Outono”). Mesmo que competente na execução instrumental e na produção, é inevitável a sensação de “já ouvi isso antes, e muuuuuitas vezes”. O lançamento de “Estiagem” tem levado a banda a ser mais ativa nos palcos, e fica a sugestão de a banda aproveitar a cancha dos shows para se lançar mais profundamente em busca de sua identidade.

Nota: 5

“Ritos do Leito”, Joe Silhueta (independente)
Em seu segundo EP, Joe Silhueta (banda/alter ego do brasiliense Guilherme Cobelo) dá alguns passos para frente no refinamento de sua identidade e na qualidade de seu som. Com muito menos Bob Dylan e bem mais Zé Ramalho, “Ritos do Leito” retoma a psicodelia rural do agreste setentista e a traz para o cerrado contemporâneo. Sobra espaço ainda para um tiquinho de Raul Seixas, notado em uma ou outra harmonia vocal e no humor sacana de algumas letras, como “Hora Gagá”, que sacaneia a arbitrária e restritiva Lei do Silêncio que vigora ainda hoje no Distrito Federal. Os melhores momentos são os mais delicados: “Bicho” é uma árida jornada conduzida ao piano, e “Lambida” é uma linda balada caipira, daquelas que raramente se faz hoje em dia. Mas as três outras têm seus encantos: a já citada “Hora Gagá” é um folk entre a fanfarra e o swing, a faixa-título é uma cavalgada lisérgica, e “Sonho de Pipa” encerra tudo como uma quase-vinheta chapada. Persiste, porém, o problema das harmonias vocais ainda irregulares – a voz de Gaivota Naves, em especial, ainda não encontrou seu espaço em estúdio e quase compromete o resultado da faixa-título. Ainda assim, a boa produção (de Gustavo Halfeld, ex-Cassino Supernova) ajuda a trazer equilíbrio e a fazer desse EP uma das primeiras boas surpresas de 2017.

Nota: 8 (download gratuito no Bandcamp)

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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