Três perguntas: Letícia Novaes

por Jorge Wagner

Tensão, tesão, suor e talento. Nascida do encontro e posterior romance entre a multiartista Letícia Novaes e o músico Lucas Vasconcellos, Letuce era uma banda única, difícil de categorizar e, tanto quanto, difícil de passar imune – principalmente das eletrizantes e carismáticas apresentações ao vivo.

Dois anos após o término de seu relacionamento com Letícia, ao falar sobre o disco “Estilhaça” (2015), Lucas contou no Scream & Yell o quanto acreditava na mudança. “Pra dar novos passos a gente se reinventa a todo o momento”. E foi assim que, há algumas semanas, a mudança chegou mais uma vez, pondo fim a uma parceria que já durava oito anos – e que rendeu, além de “Estilhaça”, os discos “Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim” (2009) e “Manja Perene” (2012), além do EP “Couves” (2010).

Como seria bobagem esperar uma despedida careta de uma banda como a Letuce, a derradeira, que se daria num coreto na Praça São Roque, em Paquetá – como parte da programação do Festival Circuladô –, acabou acontecendo, de verdade, na viagem de volta, dentro da barca, desplugada, com lágrimas, sorrisos e aplausos. Enquanto Lucas segue tocando na turnê de 30 anos da Legião Urbana, intercalando com alguns shows solos ocasionais, conversamos com Letícia Novaes sobre os momentos marcantes na carreira da banda, a opção pelo ponto final e, claro, sobre o seu futuro como artista. Confira.

Namoro que virou parceria, oito anos de banda, três discos, Churrasquinhos e “couves”, o fim do seu casamento aberto pro público num post sincero e emocionante, você num colchão inflável sobre a plateia durante o lançamento do “Estilhaça”, participação no Esquenta tocando Raça Negra na presença da própria banda, o último show em Paquetá – que virou penúltimo quando você e Lucas se despediram, de fato, com um set acústico na barca… Dá pra destacar qual foi o momento mais marcante na trajetória do Letuce?
Sou extremamente grata à nossa trajetória. Tivemos sorte, tivemos audácia, tivemos resposta do público, foi um mix muito curioso. Uma pena não termos conseguido ir para todos os lugares que nos chamaram, mas enfim. Foram trocentos momentos de troca real e intensa com o público, através da nossa música. Nunca fizemos concessões. A gente compunha o que a gente queria, a gente fazia o arranjo que desejávamos, total autonomia, sem preocupações ou demandas de outros. É um pouco Vinicius de Moraes: “O que tinha de ser”. Foi.

Quando anunciou que o show de Paquetá seria o último da banda, você revelou que, por pouco, o fim não veio antes do “Estilhaça”. Depois que o disco saiu, vocês já imaginavam que seria o último ou pretendiam estender a parceria por mais algum tempo?
Assim que Lucas e eu nos separamos, achei que seria melhor para minha cabeça separar completamente. Mas Lucas é mais analisado do que eu e me mostrou que não poderíamos fazer algo tão brusco assim, e que ainda tinha muita coisa ali pra se criar, e de fato criamos nosso melhor disco (pra gente). Eu sempre achei que fôssemos fazer 4 discos, por conta dos 4 elementos. Veio água, veio fogo, veio o ar. Ficou faltando o terra. Quem sabe no futuro? Mas, por agora, acabou mesmo.

Você nunca deixou de atuar, já teve projetos como os shows do Tru & Tro com Sua Corja ao lado do Arthur, foi colunista do Globo, lançou o seu livro, participou de outros… Quais os próximos passos agora, dentro e fora da música?
Sou formada em teatro e fiz faculdade de Letras (mas não me formei). Lucas me ajudou a me profissionalizar no mundo da música, mas eu me sinto mais escritora do que qualquer outra coisa. Eu penso nas músicas como num romance, como num livro. As letras, a ordem. Calhou d’eu nascer numa família bem musical, apesar de ninguém ser músico profissional. Aos poucos fui lendo meus poemas e inventando melodias, num processo bem natural mesmo. Ainda gosto muito de atuar, embora não me chamem tanto porque acham que eu sou muito eu (risos). Me vejo apresentando um programa, de repente, onde eu possa ser eu, então. Ano que vem devo lançar meu disco solo e um outro livro, se tudo correr bem. Tomara.

Jorge Wagner é jornalista, sambista e produtor do tributo “Ainda Somos os Mesmos”, ao álbum “Alucinação”, de Belchior, lançado pelo Scream & Yell. A imagem que abre o post foi emprestada do Facebook do Letuce. Confira outras fotos aqui. Os vídeos do derradeiro show em Paquetá são de Donnie Darko 73. Há mais registros dele aqui

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