Entrevista: Garbage (2016)

por Daniel Tavares

Uma das grandes bandas dos anos 90 que ainda segue na ativa lançando discos elogiados por fãs e crítica, o Garbage apresentou ao público este ano “Strange Little Birds”, seu sexto álbum de inéditas: “O tempo parece apenas ter feito bem para o Garbage”, escreveu o companheiro Bruno Leonel no Scream & Yell em agosto deste ano, pensamento que se conecta com o que o guitarrista Duke Erikson falou ao site em 2012: “Estamos nos divertindo muito, e tocando melhor do que antes. Acho que ficamos mais sábios também”.

Praticando uma mistura de guitarras pesadas com elementos de música eletrônica, a banda formada por Shirley Manson, Butch Vig, Steve Marker e Duke Erikson já vendeu mais de 17 milhões de discos com sucessos como “Only Happy When It Rains” e “Stupid Girl”. No Brasil, o Garbage se apresentou em 2012, dentro do finado Planeta Terra, e retorna ao país em dezembro para shows no Tropical Butantã, em São Paulo (10), e no Circo Voador, no Rio (11). Far From Alaska abre o show paulista e BBGG toca antes no Rio.

Douglas Elwin Erikson, o Duke, guitarrista e membro fundador da banda (na foto abaixo de Liliane Callegari durante o show em São Paulo em 2012), conversou outra vez com o Scream & Yell e falou sobre vários assuntos como o escapismo na música de hoje, o início da banda, o novo álbum (“Tem algumas das melhores letras da Shirley”), o fato de que Butch Vig tinha sido o produtor do “Nevermind”, do Nirvana, e sobre como conseguem manter a mesma formação desde quando começaram e, claro, os shows no Brasil. Confira.

Vocês estão voltando ao Brasil (após quatro anos). O que o público pode esperar?
Bem, eles podem esperar muita empolgação porque nós amamos ir ao Brasil. Nós estivemos ai antes e amamos ir à América do Sul. Os fãs são tão encorajadores, entusiásticos, tão apaixonados. É realmente uma grande experiência e estamos buscando por isso. Acho que o Garbage, como uma banda ao vivo, está tocando melhor hoje do que em qualquer outra época! Mesmo depois de fazer isso por 20 anos! Certamente a Shirley tem se mostrado muito bem no palco. Ela tem dado tudo o que tem todas as noites. Então acho que os fãs podem esperar realmente um show apaixonado por parte da banda também. Nós vamos estar tocando um monte de hits, todos eles, mais algumas coisas obscuras. E nós provavelmente vamos tocar algumas canções do nosso novo álbum, “Strange Little Birds”.

Ambos os shows estão praticamente sold-out. O que significa pra você fazer shows com ingressos esgotados meses antes da data de sua realização?
É absolutamente surpreendente e eu estou surpreso, mas também muito, muito empolgado. E estou muito agradecido aos fãs por terem mostrado tanto interesse no Garbage. Nós não presumimos, não tomamos isso como uma coisa garantida. Nós temos muita sorte de ter fãs ao redor do mundo que sejam assim. Mas, sim, estou chocado. É maravilhoso ter shows sold-out com tanta antecedência. É apenas fantástico. Obrigado por me contar isso.

Vamos falar do seu álbum mais recente, “Strange Little Birds”. Como você vê a recepção a ele?
Bem, nós não temos dado… nós, quer dizer, certamente eu, eu não presto muita atenção às críticas, resenhas e tudo isso, mas, do que tenho ouvido falar e de algumas que tenho lido, tem havido uma ótima resposta da crítica. Mas a coisa mais importante é que temos recebido uma ótima resposta dos fãs, que estão realmente empolgados com o álbum. Nós, como banda, estivemos muito mais focados, estávamos muito de acordo com tudo quando fizemos este álbum. Em álbuns anteriores nós meio que tínhamos tudo espalhado em todos os lugares, ideias diferentes, canções diferentes e as canções tinha uma relação meio esquizofrênica de uma canção para outra, com padrões esquizofrênicos, porque as canções eram muito diferentes, mas neste álbum acho que nós meio que estávamos na mesma sintonia. Estávamos na mesma sintonia sobre como este álbum deveria soar. E então há uma continuidade, há uma espécie de linha através de todo o álbum que faz com que as canções trabalhem juntas. É um dos nossos melhores discos. Certamente tem algumas das melhores letras da Shirley e melhores performances vocais por todo o álbum.

Antes do lançamento de “Strange Little Things” vi uma foto com uma lista de 22 canções que vocês estavam trabalhando. A maioria delas está no disco, mas existem 10 ou mais músicas que não foram lançadas. Vocês têm planos para lançar essas canções em uma versão deluxe, ou outro álbum? O que você acha que vai acontecer?
Sempre que nós gravamos um álbum nós costumeiramente trabalhamos em 20 ou mais canções e vamos refinando um punhado delas. Todo álbum novo tem muitas ideias de canções que são colocadas na mesa, mas são deixadas na lata, por assim dizer. Uma hora ou outra nós podemos retornar a elas, mas, sabe, aquelas são ideias que são meio que exploradas e descartadas e deixadas no chão em geral. E eu não sei o quão frequentemente as pessoas realmente voltam para esse tipo de coisa porque é o trabalho que foi feito na busca de uma ideia em particular. Então se nós decidirmos que uma dessas ideias pode ser encaixada em um álbum futuro ou poderia funcionar no ponto onde estivermos em um ano ou dois é possível voltar para uma, mas minha memória me diz que na maioria das vezes nós nunca voltamos a essas canções. Talvez até as revisitemos de uma forma ou de outra, mas não posso garantir. Veremos.

Shirley Manson e também o Butch Vig disseram que a música popular hoje é feliz demais. Você compartilha esses sentimentos sobre a música hoje? Não a sua música, mas a música em geral, a música popular em geral.
É óbvio que a música popular tem um tom escapista de falsa felicidade. Existe muita música por aí que não é assim, mas acho que não era dessas que eles estavam falando. Acho que eles se referiam às mais populares, as grandes estrelas, sabe, à música que está no rádio, e eu… acho que compartilho isso. Não estou interessado em estar numa banda escapista, mas se encararmos a realidade com a cabeça erguida, se pudermos, acho que existe espaço para todas. Há espaço para todas. A música popular sempre passa por fases onde a parte mais popular é meio que um doce, realmente, sabe. Nada realmente significante, mas que está lá só para puro entretenimento, puro divertimento. Há fases em que a música popular exibe algum tipo de posição política ou tente na verdade importar socialmente falando sobre as coisas que estão acontecendo no mundo. Temos passado por fases como essa e eu não posso imaginar que não vamos passar por outra fase assim onde a música realmente comece a importar mais do que ser apenas feliz.

Sobre a saúde do Butch Vig. Ele teve alguns problemas recentemente. Ele virá ao Brasil ou será substituído nesta turnê?
Butch está indo bem até agora. E tem tocado muito bem. Nós todos nos divertimos. É bom tê-lo de volta. Então eu posso assumir que ele estará no Brasil também.

No começo, de certa forma, vocês tentaram esconder, ou pelo menos não enfatizar o trabalho do Butch como produtor no álbum “Nevermind”, do Nirvana. Isso foi uma decisão mútua ou foi só dele? Você acha que algo seria diferente agora se, no começo, vocês dissessem que estavam começando a banda com um dos produtores de um álbum como o “Nevermind”?
Nós não queríamos ser categorizados como a banda do Butch Vig. Nem ele. Nós queríamos ter sucesso ou nem ter sucesso, mas por nossos próprios méritos. Nós queríamos ser lembrados pela nossa música. Foi uma decisão feita por todos nós. Realmente não me importo das pessoas falarem sobre o Butch ter produzido o “Nevermind”, mas acho que agora as pessoas entendem que nessa banda nós todos escrevemos, nós todos produzimos. Nós somos iguais no Garbage. Não há sentimentos ruins na banda. Por agora eu realmente não me importo se falem disso ou não [risos].

E vocês tem trabalhado juntos, tocado juntos por mais de 20 anos, mesmo antes que o Garbage tivesse sido formado…
Ai [risos]

Qual o segredo para continuar juntos com a mesma formação por tantos anos enquanto outras bandas mal ficam por três anos juntas? Vocês são os mesmos quatro desde que começaram…
Existem muitas formas de responder a essa questão, mas, é só que… bem, em cada banda em que estive tomei a decisão de ser amigo das pessoas com quem estou e não apenas estar em uma banda como alguma forma de movimento da carreira. Você tem que se sentir como alguém absorvido pela família. Você deve se sentir bem quando se senta numa sala para fazer música com outras pessoas, especialmente se você faz isso noite após noite. Você tem que ser amigo, tem que gostar das pessoas com quem você trabalha. De outra forma, a música sofre. Então acho que nós quatro prestamos atenção nesse lance de como é estar numa banda. Tenho tocado com Butch por quase 40 anos! E não consigo me imaginar trabalhando com ninguém mais, realmente. Quero dizer, tenho trabalhado [com outras pessoas] ao longo desses anos, colaborei aqui e ali, mas, sabe, nós continuamos voltando um para o outro e o Steve se envolveu não muito tempo depois e quando Shirley se juntou à banda foi como se nós a conhecêssemos por um longo tempo. Então, nós apenas tivemos sorte. O segredo é: sorte.

O que você conhece da música brasileira? Existe algum artista ou banda que você goste ou mesmo que tenha tido qualquer influência na sua música, no seu estilo de tocar, de compor ou que você escute em casa?
A primeira vez que tomei conhecimento da música brasileira ou qualquer coisa que se pudesse ouvir da música brasileira foi quando eu era garoto, com Sergio Mendes, que era extremamente popular nos Estados Unidos. Ele era bastante famoso. Quando apareceu me apaixonei por aquele som, por aqueles ritmos e explorei um pouco mais. Ele é bastante importante para mim.

Uma mensagem final?
Estou muito empolgado para ir ao Brasil e muito excitado para tocar também para nossos fãs por aí. É uma honra pra gente ser convidados para tocar aí. Nós nos sentimos sortudos.

– Daniel Tavares (Facebook) é jornalista e mora em Fortaleza. As duas fotos que abrem o texto são de Liliane Callegari / Scream & Yell (confira o álbum completo de fotos).

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