Boteco: 10 cervejas da To Øl

por Marcelo Costa

Abrindo mais uma série da dinamarquesa To Øl, produzida na belga De Proefbrouwerij, com a Mikropolis, uma Pilsener glúten free que recebe adição de casca de laranja de Curaçau feita para o bar especializado em cervejas e coquetéis que leva o mesmo nome em Copenhague. De coloração levemente alaranjada com creme branco de traços laranjas com boa formação e longa retenção (um fio de espuma permanente), a To Øl Mikropolis exibe um agradável aroma de notas frutadas cítricas suaves (tangerina e damasco), percepção de cereais, floral e mel. Na boca, a textura é seca. O primeiro toque traz cítrico delicioso (mais tangerina que damasco) seguido de suave doçura e amargor convincente (a casa fala de 65 IBUs, mas não passa de 45 – ainda assim digníssimos!). Dai pra frente, um conjunto bastante agradável que termina seco e cítrico. No retrogosto, tangerina, damasco e mel. Uma delícia.

Assim como a Mikropolis, a To Øl Hundelufter Bajer foi produzida especialmente para um outro bar de Copenhagen, o Barking Dog, que pediu à casa para produzir uma Session IPA Single Hop, especialmente com lúpulo Mosaic. O resultado na taça é uma cerveja de coloração alaranjada (mais turva que a Mikropolis) com creme branco de traços laranjas (mais fortes que na anterior) de boa formação e longa retenção. No nariz, notas cítricas sugerem uma salada de frutas (tangerina, pêssego, manga, abacaxi) acompanhada de floral e herbal graciosos além de mel. Na boca, a textura é seca e levemente picante. O primeiro toque traz rápida doçura de mel seguida de uma boa dose de cítrico (tangerina e manga) seguida de leve herbal e amargor marcante, mas não excessivo. Dai pra frente, uma cerveja deliciosamente leve e refrescante, com final cítrico. No retrogosto, mais tangerina, manga, mel e sorrisos. Bem boa.

Outra boa surpresa, a To Øl Sur Citra é uma Sour com dry-hopping de lúpulo Citra, integrante de uma série que ainda utiliza os lúpulos Mosaic, Simcoe e Amarillo. De coloração alaranjada com creme branco espesso de boa formação e longa retenção, a To Øl Sur Citra apresenta um aroma com notas frutadas cítricas envolventes sugerindo abacaxi, melão, cupuaçu e manga seguido de bom herbal (pinho) e percepção de acidez, mel e leve salgado. Na boca, a aridez esperada oferecendo aspereza e frisante. O primeiro toque traz rápida doçura que segue uma trilha cítrica e interessantemente azeda que aproxima o conjunto de maracujá e cupuaçu. O amargor ganha impacto com a pancada de azedume e salgado, mas, ainda assim, não é nada excessivo, abrindo as portas para uma belíssima cerveja, arisca, deliciosa e refrescante. O final é salgado e adstringente, sensação que retorna no retrogosto com cítrico e terroso. Delícia!

A To Øl Sur Amarillo segue o padrão da receita anterior, uma Pale Ale com maltes Melanoidin, Pilsner, Cara Crystal e trigo mais, neste caso, o lúpulo Amarillo. Há uma diferença alcoólica, porém: enquanto a versão anterior alcança 5.5% de álcool, esta bate nos 7.5%. De coloração alaranjada um tiquinho mais turva que a anterior com creme bege clarinho de boa formação e média alta retenção, a To Øl Sur Amarillo exibe um aroma com frutado cítrico caprichado, mas puxado mais para o terroso do que para a salada de frutas da versão Citra. Há, ainda, caramelo e percepção de salgado e acidez. Na boca, textura é seca. O primeiro toque traz doçura muita rápida envolvida por cítrico e terroso seguidos por azedume caprichado e amargor eficiente. Dai pra frente, uma cerveja que mantém a refrescancia, mas oferece, ainda, um conjunto bem provocante que finaliza seco, terroso e cítrico. No retrogosto, salgado e maracujá. Delicia (2)!

A quinta da série é a To Øl Sans Frontière, uma cerveja “sem fronteira”, segundo a casa, pois tem perfil de IPA com direito a dry-hopping de lúpulos europeus e é refermentada com a levedura belga Brettanomyces além de receber adição de Rock Candy, uma espécie de bala de açúcar tradicional. De coloração âmbar alaranjada com creme bege espesso de bela formação e longa retenção, a To Øl Sans Frontière exibe um aroma que sugere equilíbrio entre doçura de caramelo, terroso bastante suave, cítrico discreto e herbal sugerindo pinho. Na boca, textura quase cremosa com leve picância. O primeiro toque oferece doçura caramelada seguida de terroso, aridez e herbal. O amargor (45 IBUs) é mais baixo do que se espera e, dai em diante, uma cerveja interessante, mas que entrega menos do que a proposta adianta por estar no meio do caminho entre uma American Pale Ale é uma Belgian Ale com Brett discreta. O final é terroso. No retrogosto, caramelo, maracujá e terroso. Ok, mas a mais “fraca” das cinco.

“A gente tinha vontade de fazer uma cerveja que pudesse ser bebida a qualquer hora do dia”, avisa o site da To Øl, e o resultado é esta LikeWeisse, uma Berliner com dose caprichado de lúpulos (Citra e Motueka). De coloração amarela com leve turbidez a frio e creme branco de média formação e permanência, a To Øl LikeWeisse apresenta um aroma com percepção de acidez e muitas notas frutadas cítricas (limão, abacaxi, uva verde e pêssego) além de azedume e salgado. Na boca, a textura é frisante e efervescente. O primeiro toque oferece azedume rápido e cítrico envolvente (raspas de limão com acidez de abacaxi) seguido por salgado suave e amargor baixo, encoberto pela acidez. Dai em diante, uma cerveja agradável e refrescante que, sim, pode ser bebida a qualquer hora do dia e também funciona como uma introdução para interessados neste estilo rebelde e apaixonante de Berlim. O final é seco e levemente adstringente. No retrogosto, cítrico leve, salgado suave e refrescancia. Bem boa pro estilo.

Na sequencia, a sétima dinamarquesa da série reúne nada menos do que 26 variedades de lúpulo, em homenagem a cada uma das categorias normais das Olimpíadas. Então, como era de se esperar, essa American Amber Ale (com jeito American Pale Ale lupuladíssima) da To Øl leva o nome de Olympics. De coloração alaranjada levemente turva com creme bege clarinho de boa formação e média alta retenção, a To Øl Olympics apresenta um aroma com doçura caramelada brilhando em meio a um conjunto notadamente frutado cítrico (manga, maracujá e laranja) e levemente condimentado. Na boca, textura levemente cremosa e picante (lúpulo). O primeiro toque repete o que o aroma adiante: doçura caramelada atropelada no segundo seguinte pelo amargor cítrico dos 26 lúpulos, que alcançam 65 IBUs comportados (parece 45). Dai pra frente, uma cerveja maltada, mas amarguinha, que finaliza seca e terrosa. O retrogosto oferece leve terroso, caramelo e manga. Boa, mas menor dentro da linha da To Øl.

Produzida com exclusividade para o clube brasileiro Wbeer, a To Øl Sesson é uma Session Saison com dry-hopping dos lúpulos Vics Secret e Amarillo. De coloração amarela levemente turva com creme branco de boa formação e permanência, a To Øl Sesson exibe um aroma com caprichadas notas frutadas cítricas (manga e abacaxi), florais e herbais (ervas) mais doçura de mel na base e intensa percepção funky e rustica derivada da levedura Saison. Na boca, textura frisante, picante e efervescente. O primeiro toque traz rápida doçura de mel seguida por uma pancada de acidez e, então, frutado cítrico (manga e abacaxi) e herbal (ervas) e amargor e mais acidez num conjunto envolvente e rústico, que segue de forma refrescante provocando o paladar do bebedor, como manda o estilo. O final é seco e cítrico enquanto o retrogosto traz um pouco mais de cítrico (manga e abacaxi) e leve herbal. Delicinha.

Partindo para o territórios das porradas com a To Øl James Braun, que tem o desejo de fazer o bebedor sacolejar ao som do Mr. Dynamite acompanhado por uma singela Imperial Brown Ale de 10.5% de álcool e 88 IBUs. Na receita, maltes chocolate e torrado mais aveia em flocos e os lúpulos Sorachi Ace e Citra. De coloração marrom escura com creme bege claro de excelente formação e longa retenção, a To Øl James Braun exibe um aroma achocolatado com nuances cítricas (laranja) e alcoólicas. Ainda é possível perceber caramelo, café e amadeirado. Na boca, textura é sedosa e picante (de álcool). O primeiro toque reforça a ideia achocolatada, mas dai o álcool vem e “mela” tudo trazendo consigo algo de madeira e uísque. O amargor é potente e arrastado e segue perseguindo as notas cítricas (bem distinguíveis) e adocicadas do conjunto, que finaliza amargo e alcoólico.

Fechando a sequencia de To Øl com a Goliat (Golias, o rei dos Filisteus, para os íntimos), uma Russian Imperial Stout que recebe adição de café gourmet, flocos de aveia e açúcar mascavo. De coloração marrom bastante escura, quase preta, com creme bege escuro espesso de ótima formação e média alta retenção, a To Øl Goliat exibe um aroma com notas de torra e café em primeiro plano seguidas de chocolate amargo e toffee além de leve toque de baunilha. Na boca, textura sedosa e bastante picante (até parece que tem pimenta, mas são os 10.1% de álcool agindo). O primeiro toque traz doçura de chocolate que vai se transformando em café torrado até esbarrar no amargor alcoólico, potente, mas rapidamente deixado para trás num conjunto caprichado que valoriza a torra e a doçura do açúcar mascavo. O final é achocolatado e alcoólico. No retrogosto, mais café, chocolate amargo e alegria.

Balanço
Mea culpa: sempre evitei essa To Øl Mikropolis por ser uma Pilsener, e não é que ela é uma delícia! O fator glúten free é um ponto a se destacar, mas, para os bebedores tradicionais, taí uma bela cerveja com cítrico caprichado, amargor pontual e muito sabor. Adorei. Uma bela surpresa. A To Øl Hundelufter Bajer mantém alto nível da anterior propondo uma pouco mais de frutado, e com amargor mais suave, mas ainda assim marcante. Muito boa! Outra grande surpresa foi a To Øl Sur Citra, impressionantemente equilibrada dentro da radicalidade do estilo. Mais alcoólica, mas tão boa quanto a Citra, a To Øl Sur Amarillo me soou mais direta em sua proposta de Sour. Curti, mas prefiro levemente a salada de frutas da Citra. Mais fraca que as anteriores, e casualmente a que mais me criou expectativa por ser da linha de experimentações da casa: To Øl Sans Frontière, uma cerveja sem fronteira, por ser meio IPA, meio Belgian Ale. É boa e interessante, mas não honra o investimento. Esperava mais. A To Øl LikeWeisse, por sua vez, representa bem o estilo Berliner, e a dose carregada de lúpulos dá uma amaciada na rebeldia do estilo, o que a indica para quem quer dar um pontapé inicial no gênero, mas não se sente seguro com as Berliners mais ariscas. Começa com essa que é sucesso. A To Øl Olympics, por sua vez, é interessante por sua proposta ousada de juntar 26 lúpulos diferentes na “panela”, mas o resultado soa… normal. Uma boa cerveja, e só. A To Øl Sesson é uma Session Saison como manda o figurino: amarguinha e rustica. Uma delicinha. Já a To Øl James Braun é uma Imperial Brown Ale invocada, alcoólica e levemente cítrica. Com menos álcool e mais cítrico ficaria muito melhor, mas tá ok. Fechando a seleção com a melhor do pacote, Goliat, uma potente Russian Imperial Stout com café e muita personalidade. Potente como tem que ser.

To Øl Mikropolis
– Produto: Pilsener Gluten Free
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5.6%
– Nota: 3,43/5

To Øl Hundelufter Baje
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,49/5

To Øl Sur Citra
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 3,61/5

To Øl Sur Amarillo
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3,51/5

To Øl Sans Frontière
– Produto: Belgian Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,30/5

To Øl LikeWeisse
– Produto: Berliner Weisse
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 3.8%
– Nota: 3,43/5

To Øl Olympics
– Produto: American Amber Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 5.7%
– Nota: 3,16/5

To Øl Sesson
– Produto: Session Saison
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 3,37/5

To Øl James Braun
– Produto: Imperial Brown Ale
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 10.5%
– Nota: 3,41/5

To Øl Goliat
– Produto: Russian Coffee Imperial Stout
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 10.1%
– Nota: 3,85/5

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