HQs: Esquadrão Suicida, Tom Strong, Uma Noite em L’enfer

por Adriano Mello Costa

“Esquadrão Suicida: Chute na Cara”, de Adam Glass, Federico Dallocchio, Scott Hanna e Clayton Henry (Panini Comics)
Como é de costume quando um filme que tem os quadrinhos como matéria-prima chega à telona, as bancas recebem novas edições com esses personagens em destaque. Não seria diferente com o “Esquadrão Suicida” que estreou filme no Brasil no início de agosto. Um pouco antes disso, a Panini Comics havia colocado no mercado o encadernado “Esquadrão Suicida: Chute na Cara”, com 160 páginas e capa dura que reúne as edições originais de 1 a 7 do grupo publicadas nos EUA entre novembro de 2011 e maio de 2012. Essas histórias já haviam sido lançadas aqui em revistas anteriores, mas agora aparecem juntas e dão uma amplitude maior para as ações e dilemas dos vilões que são forçados a serem heróis para diminuir um pouco a pena. O Esquadrão Suicida teve origem no final dos anos 50, mas a roupagem que ficou conhecida é a da metade dos anos 80, quando o quadrinhista John Ostrander resolveu utilizar supervilões para ingressar na Força-Tarefa X sobre o comando de Amanda Waller. É essa roupagem que é recontada nesse volume que engloba o time dentro do projeto “Novos 52” da DC Comics e conta com roteiro de Adam Glass (da série televisiva “Supernatural”). Nesse novo início lá estão Pistoleiro, Arlequina, El Diablo, Voltaico, Aranha Negra e Tubarão-Rei, recrutados a duras provas para um resgate no meio de uma multidão ensandecida. Depois, outros vilões entram e dão sequência para que ainda exista um controle de rebelião e uma caçada a um dos seus. Um dos pontos altos do Esquadrão Suicida sempre foi o confronto de personalidades e desejos dos integrantes e Adam Glass faz isso muito bem, deixando a trama com bons picos de ação e drama intercalados. Único ponto a se questionar dessa edição é a arte, que por passar na mão de vários desenhistas, como Federico Dallocchio, Scott Hanna e Clayton Henry, acaba sendo inconstante e não ajuda muito.

Nota: 7,5

“Tom Strong: A Origem”, de Alan Moore, Alan Gordon e Chris Sprouse (Panini Comics)
Alan Moore criou Tom Strong em 1999 junto com Chris Sprouse durante o tempo em que ficou na WildStorm, uma espécie de selo alternativo da DC Comics. O autor de obras como “Watchmen” e “V de Vingança” concebeu um personagem de aventura com a ciência em nível de igualdade com as habilidades físicas. Criado dentro de um silo pelos pais em uma ilha distante e obscura, pois assim não teria contato com os males da humanidade antes de ser forte o suficiente e não teria dessa maneira o julgamento comprometido, ele emerge depois de um acidente na ilha e com a ajuda dos habitantes locais e seu alto nível de inteligência realiza várias proezas técnicas antes de partir para o mundo de verdade, mais precisamente para a ficcional Millenium City na costa oeste dos EUA. A série que já havia sido publicada aqui no Brasil antes pela Devir e pela Pixel (mas nunca de maneira completa), agora ganha novo lançamento pela Panini Comics, com a promessa de ir até o final. “Tom Strong: A Origem” é um encadernado com 212 páginas de capa cartonada e alguns esboços como extras, reunindo as edições 1 a 7 que chegaram às bancas dos EUA entre junho de 1999 e março de 2000. A história começa com um garotinho lendo a história do nascimento de Tom Strong em uma revista e vai alternando entre fatos do passado e do presente, conduzidos ricamente por Alan Moore que joga diversas referências das épocas de ouro e prata dos quadrinhos, assim como da literatura pulp do começo do século passado. Os desenhos de Sprouse auxiliados pela arte final de Alan Gordon são limpos e claros e comungam dessas mesmas referências. Nos relançamentos que a Panini vem apresentando nos últimos anos, “Tom Strong” é um dos mais interessantes. As aventuras e confrontos do protagonista em conjunto com a esposa, a filha, um esperto robô e um gorila com alto nível de inteligência, remetem a missão pioneira dos quadrinhos que é divertir a quem lê.

Nota: 8

“Uma Noite em L’enfer”, de Davi Calil (Editora Mino)
Foram três anos que o artista, pintor e ilustrador Davi Calil dedicou a produção de “Uma Noite em L’enfer”. Conhecido pela arte de “Quaisqualigundum” e pelas cores de “Turma da Mata – Muralha”, esse paulista fez uma graphic novel onde tem por intuito homenagear seus heróis da pintura, mas foi muito além. Com formato grande (21 x 28cm) e 192 páginas, o álbum é mais um excelente lançamento da editora Mino, um dos melhores do ano por aqui em terras tupiniquins. Na trama estamos na França no ano de 1891, quando o holandês Vincent Van Gogh, recuperado de uma tentativa de suicídio (que na vida real foi além de mera tentativa), chega na cidade a procura de uma antiga musa inspiradora. Lá encontra o francês Paul Gauguin que o encaminha para o cabaré L´enfer, no bairro de Montmartre, onde estão os contemporâneos Toulouse-Lautrec e Gustav Klimt, além de um enigmático Francisco de Goya, o único que não viveu na mesma época que os demais. Durante a conversa, regada a muito álcool e drogas, os integrantes dessa excêntrica mesa se dispõem a contar causos pessoais que envolvem sexo, terror, mistério e decisões bem questionáveis. Essas histórias servem para definir o futuro de cada um mais adiante. Davi Calil usa como referências tanto a produção de cada um dos artistas que homenageia como também a biografia deles, e em cada caso individual utiliza cores que remetem ao que cada um produziu na carreira. Inspirado em “Uma Noite na Taverna”, do escritor Álvares de Azevedo (falecido em 1852 aos 21 anos), Davi Calil edifica um trabalho em que tanto roteiro quanto arte estão em nível de excelência, ainda que a arte prevaleça um pouco mais. “Uma Noite em L´enfer” valeu toda a dedicação do autor e brinda o leitor não somente com a obra em si, mas como instiga este a saber mais sobre os personagens retratados.

Nota: 9,5

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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