Boteco: Cinco cervejas da Dogfish Head

por Marcelo Costa

Abrindo uma nova sequencia de Dogfish Head (confira as anteriores aqui, aqui e aqui) que veio na mala de Nova York com a Festina Pêche 2014, uma Berliner Weisse que entrou no cardápio da casa em 2007, e segue sazonal desde então sendo produzida anualmente de junho a agosto. Nesta releitura norte-americana é adicionado suco de pêssego para amaciar a porrada de acidez e sal do estilo alemão. O resultado é uma cerveja de coloração amarela, turbidez média e creme branco espessa de formação alta, quase saltando pra fora da taça, e longa retenção. No nariz, um leve azedume se junta à doçura da fruta com um cítrico suave acompanhando. Há sugestão lática mais limão e damasco. Na boca, a textura é frisante e cremosa. O primeiro toque traz forte acidez láctica amaciada no segundo seguinte pela doçura do pêssego, aconchegante e deliciosa. O amargor é quase inexistente (8 IBUs) e, dai pra frente, um conjunto saboroso com acidez na medida, equilíbrio encantador na doçura frutada e final adstringente, com leve sal. No retrogosto, pêssego, damasco, limão e refrescancia. Deliciosa.

A segunda da série é a Romantic Chemistry IPA, uma American IPA de 40 IBUs e 7.2% de álcool que recebe adição de manga, damasco e gengibre. De coloração âmbar alaranjada com creme branco meio alaranjado de boa formação e média alta retenção, a Dogfish Head Romantic Chemistry IPA exibe um aroma tradicional de American IPA, com bastante frutado cítrico (sugestão ainda mais intensa com a adição de manga e damasco), herbal e leve resina. Ainda é possível perceber uma base de mel e caramelo, mas quase nada de gengibre. Na boca, textura pícante e levemente áspera. O primeiro toque traz doçura caramelada rápida e amargor cítrico médio na sequencia, sem profundidade. Dai em diante, uma American IPA facilmente domável com frutado discreto (mesmo com todas as adições) e doçura suave. O amargor foi embora. O final traz leve presença de gengibre. No retrogosto, caramelo, gengibre discreto e damasco.

Lançada pela primeira vez em 2004 e hoje produzida o ano inteiro pela Dogfish Head, a Burton Baton é uma Imperial IPA cuja receita junta malte Amber e Pilsener, lúpulos Warrior e Glacier, duas linhagens de levedura (uma inglesa outra norte-americana) e então passa quatro meses em barris de carvalho francês. O último passo é fazer um blend 50/50 do resultado dos barris com a Dogfish Head 90 Minute IPA, e então surge uma cerveja de coloração âmbar alaranjada com creme laranja claro de boa formação e longa permanência. No nariz, uma deliciosa junção de caramelo, pinho, madeira suave, cítrico (maracujá) e biscoito. Na boca, a textura é melada. O primeiro toque traz doçura cítrica seguida rapidamente por herbal, madeira e álcool antes de amargor, que alcança 70 IBUs, mas parece menos (50 talvez), ainda que soe profunde e se arraste em meio as sugestões de pinho, toranja e caramelo que vão surgir na sequencia. O final é amargo médio com leve herbal. No retrogosto, pinho, toranja e madeira discreta. Boa demais.

A quarta da série é vendida pela casa como “a Fruit Beer” mais alcoólica do mundo por seus absurdos 18% de álcool. Produzida pela primeira vez em 2005 com uma receita de base belga e adição de suco de framboesa, esta versão de 2015 exibe uma coloração âmbar avermelhada com creme bege claro de boa formação e média retenção. No nariz, uma forte pancada de aroma artificial de framboesa envolvida em caramelo, álcool e percepção discreta de azedume. Na boca, textura melada e licorosa. O primeiro toque traz forte doçura caramelada seguida de uma pancada de suco de framboesa (novamente artificial), azedume suave e álcool por todos os lados (não deixe-a aquecer na taça!). O amargor (49 IBUs) é alcoólico e abre caminho para um conjunto confuso com framboesa artificial, caramelo e muito álcool, que vai aquecendo a face do bebedor. O final é queeeente e melado. No retrogosto, framboesa, caramelo e calor.

Fechando o quinteto, outra cerveja de cultura milenar da Dogfish Head (já passou por aqui a Midas Touch), a Chateau Jiahu, que busca recriar uma receita de 9 mil anos atrás (com arroz, mel, uva e frutas de espinheiro branco) obtida por cientistas a partir de resíduos de jarros de cerâmica encontrados na aldeia de Jiahu, no norte da China. De coloração âmbar acastanhada turva com creme branco de boa formação e média alta retenção, a Dogfish Head Chateau Jiahu apresenta um aroma com bastante doçura caramelada chocando com algo fermentado que remete a uva. Há, ainda, sugestão de açúcar mascavo e especiarias. Na boca, a textura é melada. O primeiro toque oferece doçura de mel seguido de herbal condimentado e quase nada dos 10% de álcool. O amargor é discreto e, dai em diante, uma cerveja interessante pela história, mas bastante tradicional no paladar. O final é melado. No retrogosto, mel e doçura.

Balanço
Começando uma nova sequencia de Dogfish Head com a deliciosa Festina Pêche 2014, uma Berliner Weisse que equilibra encantadoramente sua acidez com a doçura do suco de pêssego. Adorei. A Dogfish Head Roman Chemistry IPA é uma American IPA ótima pra quem tem medinho de amargor, porque as frutas adicionadas e a doçura dos maltes amacia o que deveria ser a porrada dos três lúpulos da receita. Mas gostosinha. E nada de perceber os 7.2% de álcool. O mesmo pode ser dito dos 10% da Burton Baton, a Imperial IPA que nasce de um blend de uma versão que passa um mês em barris de carvalho francês e um 90 Minutes IPA. O conjunto é bastante saboroso, impressionantemente equilibrado e saboroso. Uma delica. Já a Fruit Beer mais alcoólica do mundo, a Fort, alterna bastante a percepção durante o percurso: logo aberta e gelada, azedume forte. Depois, a framboesa (notadamente artificial) domina e só fica na retaguarda quando a cerveja aquece, e o álcool parece querer agarrar o bebedor pela garganta. Uma cerveja interessante, mas álcool não é tudo definitivamente. Finalizando com a Chateau Jiahu, uma boa e bastante tradicional Traditional Ale, que é caprichada, mas simples. Pra variar, mais um belo rótulo.

Dogfish Head Festina Pêche 2014
– Produto: Berliner Weisse
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3,51/5

Dogfish Head Romantic Chemistry IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 7.2%
– Nota: 3,45/5

Dogfish Head Burton Baton
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3,71/5

Dogfish Head Fort
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 18%
– Nota: 3,11/5

Dogfish Head Chateau Jiahu
– Produto: Traditional Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3,50/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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