Entrevista: Rodrigo de Andrade (Selo 180)

por Marcelo Costa

Da série “entrevistas que a gente lê na adolescência e não esquece”, certa vez, no meio dos anos 80, li Cazuza falando em alguma Capricho da vida que, segundo uma pesquisa, apenas 25% das pessoas  trabalhavam no que realmente queriam e eram felizes no trabalho. Transtornando, ele reclamava: “Como assim? Isso quer dizer que 75% das pessoas são infelizes no trabalho! É um dado muito triste”. Outra pesquisa, essa de 2013, atualizava esse número para 72% mostrando que, com base na margem de erro, praticamente nada mudou em 30 anos…

Olhando por esse prisma, tentar fazer o que gosta pode ser um grande risco (“O meu prazer agora é risco de vida”, canta o bardo na memória), mas também pode ser divertido, especial e realizador. E nessa confusão de apostas, sensações e novidades constantes que se transformou o mundo pós-moderno em tempos de internet, criar um selo musical independente no auge da competição de formatos é algo que pode se considerar um risco, mas também não deixa de ser uma declaração de amor àquilo que todos amamos: a música.

E na contramão da grande indústria, cada vez mais perdida num cenário que já não domina, os selos independentes vem proliferando pelo país: Luiz Valente com a Vinyl Land em Belo Horizonte, Rafael Cortes com a Assustado Discos em Recife, Antonio Augusto da Hearts Bleed Blue em São Paulo são alguns desses desbravadores e a eles se junta Rodrigo de Andrade, que de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, toca (desde 2013) o Selo 180, responsável por lançar compactos e discos de Cachorro Grande, O Terno e Suco Elétrico, entre muitos outros.

Em julho de 2016, o Selo 180 também entrou no mercado de fitas cassete colocando na praça os discos solo de Marcelo Gross e do projeto Tape & Scandurra (este último também está ganhando edição em vinil) e promete, para os próximos meses, uma série de relançamentos para deixar fã de música sorrindo de orelha e orelha: após recuperar o único disco do The Galaxies, uma banda brasileira de garage rock de 1968, o selo prepara uma série de relançamentos de Raul Seixas e os novos álbuns de Frank Jorge e Murilo Sá e Grande Elenco.

Na conversa abaixo, Rodrigo conta como surgiu o desejo de montar um selo musical (“A ideia era ao mesmo tempo ter um selo e uma loja online de discos, uma lógica meio Baratos Afins, “meio” Third Man Records: faz lançamentos, mas também vende”), fala sobre o que o motiva a lançar álbuns em diversos formatos (“Tenho esse lance de curtir analisar as sonoridades específicas de cada mídia. Como tal disco soa no streaming? E no CD? E no vinil?”) e conta planos interessantes, como lançar uma série de fitas cassete lo-fi com raridades de bandas. Papo muito bom. Confira abaixo!

Como nasceu o Selo 180? Como surgiu a ideia de ter um selo fonográfico em 2016?
Eu trabalhava com jornalismo cultural. Tinha um site que se chamava Os Armênios e era bem acessado – aproveitei aquele boom do uso das ferramentas de blog como plataforma de publicação. Começou lá em 2006 e ficou no ar até 2012…

Me lembro d’Os Armênios! Que legal! Então, no site tinha uma seção chamada “Single Virtual” que, na verdade, era uma ideia sacada do que o Fernando Rosa fazia com o Senhor F Virtual. A lógica era mais ou menos a de ter um disquinho encartado (só que a “revista” era na web) e ali fiz uns lançamentos naquele esquema: baixa o MP3, a capa e monta o disco em casa. Sempre de bandas independentes. Dai o ciclo d’Os Armênios foi meio que se encerrando e resolvi tentar a sorte em outros negócios. Como sou colecionador de discos (em todos os formatos) fui acompanhando todo aquele boom do “retorno” do vinil, com matérias todo final de ano dizendo: “Vinil bate recorde de venda novamente nesse ano”. Eu já trampava informalmente com discos novos e usados. Vendia pelo Mercado Livre… Eu ia “melhorando” a minha coleção e atendia alguns amigos. E meio que surgiu a ideia de fazer um lançamento e testar na prática se realmente esse lance do vinil estar dando certo. E aí foi meio que um trampo de jornalismo investigativo. Onde prensar? Porque algumas prensagens eram detonadas pelo público? Como se atingia uma qualidade audiófila?

Isso em que ano?
2012

Quanto tempo para a 180 surgir?
O primeiro lançamento foi 2013, mas comecei a trampar no lance todo já em 2012. Foi bem complicado, pois a ideia era ao mesmo tempo ter um selo e uma loja online de discos, uma lógica meio Baratos Afins, “meio” Third Man Records: faz lançamentos, mas também vende… e se uma coisa vai mal tenta compensar na outra. E foi uma estratégia acertada. Mas engraçado que, meio que paralelamente a isso tudo, alguns poucos anos antes, eu passei por um acidente doméstico. Uma namorada me deu um pé na bunda e meu toca-discos quebrou na mudança. E isso me fez comprar outro aparelho. Até então, eu não tinha tanto esse fetiche pelo vinil. Até preferia o CD com suas faixas bônus, etc. Mas ao comprar um novo aparelho, bem melhor, tomei um susto ao ouvir os mesmo discos que eu sempre tive em casa. Eu meio que redescobri o vinil e isso balançou minha cabeça lá por 2012.

Pés na bunda inspirando grandes discos e grandes ações! (risos)
Hahahaha, bem nessa! Enfim… busquei o que podia existir de melhor em qualidade de vinil. Meu primeiro lançamento foi o “Baixo Augusta” (2012), da Cachorro Grande. Prensei no Leste Europeu, na GZ Media. Na época o dólar estava baixo e havia um representante deles no Brasil (o Clênio Lemos). Esses vinis da República Tcheca tem uma qualidade incrível. E tive todo um cuidado com a edição do “Baixo Augusta”: o som foi remasterizado na Inglaterra, especial para o tipo de corte da GZ (por DMM, que garante a maior fidelidade de som possível). Para a arte gráfica, procurei deixar a mais clean possível: não têm logo de selo, código de barras, textinho de “fabricado em tal lugar” nem nada. Essas informações que poluem a arte visual inclui num obi, tipo os discos japoneses. Enfim, lancei o “Baixo Augusta” na segunda metade de 2013 e foi um sucesso. Fiz em dois formatos: vinil preto e uma tiragem limitada de 100 exemplares numerados em vinil colorido. Era algo que a GZ permitia (na Polysom não rola fazer isso). Logo na sequencia vieram três compactos e um LP, o solo do (Marcelo) Gross, “Use o Assento Para Flutuar”, que é um disco bem legal. Tem toda uma estética voltada para os fãs da primeira fase da Cachorro Grande. Sou de Passo Fundo (RS), então tenho contato com uma base de fãs deles e uma amizade com os caras. Quanto aos compactos, segui sempre a ideia de lançá-los com faixas exclusivas, músicas que não estão nos discos. Inclusive, alguns dos compactos do selo não estão nem em serviços de streaming. São 100% analógicos

O que é importante pra dar um caráter exclusivo ao lançamento…
Claro! Total. Os primeiros compactos foram:

– O Terno: “Tic Tac / Harmonium” (em parceria com o selo Risco, que são uns queridões) – Cachorro Grande: “Quem diria? / Quem Vive o Amor” (essas só foram lançadas no compacto… nem existe master digital para elas) – General BoniMores:” Dia Feliz” (uma banda aqui do Sul)…

Conheci eles num El Mapa de Todos.
Por incrível que pareça, mesmo a General BoniMores sendo uma banda de âmbito local, o compacto vendeu parelho com os d’O Terno e da Cachorro Grande.

E esses lançamentos, pelo jeito, te animaram a seguir em frente.
Sim. E até aí eu queria trampar só com vinil. Foi quando as bandas começaram a me cobrar para cuidar de todos os lançamentos. CD, digital… Elas curtiram o trampo com o vinil

Atualmente são quantos lançamentos em vinil?
Até o momento foram quatro compactos e sete LPs. Tenho ainda mais quatro na fábrica que saem entre agosto e setembro e mais três licenciados para o início do próximo ano.

O que já está esgotado?
O “Baixo Augusta”, da Cachorro Grande, e a “Weirdo Fervo”, uma coletânea de bandas em parceria com outros selos. Outros estão no fim… como o compacto d’O Terno…

Dia desses eu estava arrumando as coisas no quartinho aqui em casa. É onde está meu som. Resolvi montar tudo novamente: toca discos, um aparelho de CDs que tenho desde os anos 90 (aquela bandeja com cinco CDs e tal) e, inclusive, um… toca fitas. Liguei tudo, fiz o teste com umas fitas que tenho aqui (eu havia doado muitas para a Apanhador Só, inclusive) e, no mesmo dia, chegou um pacotinho seu com os lançamentos em fita cassete do “Tape / Scandurra”, projeto da Silvia Tape com o Edgard Scandurra, e do Marcelo Gross! Um timing perfeito que me fez pensar em te perguntar: Como surgiu a ideia de investir em fita cassete?
Que legal! Tenho um Sony com bandeja de 5 CDs… as caixas são grandonas e tem um som poderoso. Sobre o cassete… Ao mesmo tempo que algumas bandas começaram a pedir para eu cuidar dos demais lançamentos (CD, digital), me apareceu um disco em que eu pirei e quis muito lançar. Foi no final de 2014. Só que era um artista novo, não dava para sair fazendo vinil dele. Era o Murilo Sá & Grande Elenco. O disco de estreia dele: “Sentido Centro”. Foi nesse momento que entrei no CD e no digital, e com isso meu catálogo expandiu MUITO em 2015, até no início desse ano fiz o primeiro lançamento em k7, um EP da banda John Filme. Eu andava atento para esse momento de revalorização da fita cassete no exterior, rendendo eventos como o Cassete Store Day, e para o fato de alguns lançamentos NÃO estarem mais saindo em CD. Ao mesmo tempo, alguns selos escamotearam o CD, mas colocaram o K7 de volta no catálogo. E eu também tenho esse lance de curtir ficar analisando as sonoridades específicas de cada mídia. Como tal disco soa no streaming? E no CD? E no vinil? Daí, é claro, bateu aquela curiosidade: e no cassete?

Esse é um tema muito legal! Imagina que a galera que ouvia Beatles nos anos 60 ouvia um som completamente diferente desse remaster que a gente está ouvindo hoje. É praticamente outro disco! É maluco! Independente de ser pior ou melhor! São maneiras de ouvir… e memórias.
Pois é, acho isso muito legal. Porque não é uma questão de procurar o “melhor”. Às vezes, o que a gente precisa não é o melhor. É como poesia: às vezes aquele velho poema preferido não te diz nada. Tem dias que os agudos do digital me irritam, parece que incomodam. Aí a fitinha cai como uma luva…

Que legal!
Sim, e fui descobrindo detalhes engraçados. Somente agora estou com um lançamento feito em todos os quatro formatos: o “EST”, do Tape & Scandurra. O vinil vai ser lançado daqui duas semanas, mas já estou com o LP aqui em casa e realmente pude ouvir e reouvir mil vezes cada formato (hahaha). A primeira faixa do “EST”, “A Sua Intuição”, tem uma bateria eletrônica. Cara, o K7 é a mídia que tem a qualidade mais lo-fi, mas aquela bateria soa no cassete de um jeito tão legal, com uma textura tão bacana, que, porra, eu queria botar aquele som de bateria eletrônica do K7 no vinil (hahaha).

Sensacional! (hahaha)
É engraçado! Só descobri quando começou e, porra… era lo-fi, mas soava mais agradável!

Você está produzindo onde as fitas K7?
Em uma fábrica na Argentina…

E como está sendo a recepção?
É algo que está engatinhando. Semana retrasada estive em Sampa e visitei o pessoal do selo HBB. A gente é parceiro, troca material, esse tipo de coisa de selo independente. Eles também lançaram uns K7s. Mas ainda é um mercado bem pequeno. Até o momento estou com três fitas em catálogo: o EP da banda John Filme, e os álbuns do Marcelo Gross e Tape & Scandurra. Até pretendo seguir lançando alguns álbuns em formato K7 (como, por exemplo, os novos do Frank Jorge e da Cachorro Grande), mas quero lançar uma coleção exclusiva para K7! São títulos que não estarão disponíveis em CD, nem em vinil, nem em streaming. Será uma coleção chamada “Série Lo-Fi”. A ideia é resgatar demos, ensaios, shows… Trabalhar conceitualmente a mídia. Fazer em K7 o que nasceu em K7. Tem gente que tem bastante material legal nesse formato lo-fi. O Marcelo Gross tem uma caixa enorme de fitas K7 com material inédito dele, Cachorro Grande, Júpiter Maçã. Conversei com o Scandurra e talvez role algo do Ira! nesse conceito. O Tim Bernardes, d’O Terno, comentou comigo de resgatar umas demos em K7 também. A ideia da coleção lo-fi de fitinhas é ir resgatando esse tipo de coisa.

Isso entra na próxima pergunta que eu iria fazer. Tu tem lançado praticamente só coisas novas, lançamentos e tal, certo? A ideia é seguir lançando material novo? Por exemplo, a Assustado Discos, do Rafael, tem feito alguns relançamentos…
Eu fiz um relançamento em vinil no ano passado e tenho três títulos licenciados para relançar em 2017. Em 2015 relancei, em parceria com o selo paulista Record Collector Brasil, o único disco do The Galaxies! Uma banda brasileira de garage rock de 1968.

Fernando Rosa curtiu isso (hehehe)
É bem obscuro. Um original de época é raríssimo e caro pra caramba. Nesse resgate ainda conseguimos incluir duas faixas bônus, inéditas! Era uma banda formada por dois brasileiros, uma americana e um inglês, então eles eram bem mais avançados que as bandas da Jovem Guarda na época. Esse foi o primeiro de uma série de reedições históricas feitas em parceria com a Record Collector Brasil, do meu brother Fred Cesquim. Entre os próximos está um do Raul Seixas, “Isso Aqui Não é Woodstock, Mas Um Dia Pode Ser”, que só foi lançado oficialmente em CD num box da Gravadora Eldorado uns dois anos atrás, e é inédito em vinil. É um show no festival de Águas Claras…

Vinil, CD, K7: uns 10 anos atrás, tu imaginava que estaria hoje com um selo lançando música em formato físico?
Acho que até imaginava. Trabalhando com jornalismo musical, sempre topei com bandas independentes legais com que gostaria de me envolver mais ativamente em um lançamento. Antes eu apenas cobria, resenhava, divulgava. Mas sim, rolava vontade realizar lançamentos. E pensar lançamentos, na minha concepção, sempre vai ser também pensar no suporte físico.

Uma primeira pesquisa tempos atrás dizia que a molecada comprava vinil e guardava, mas esse número foi caindo drasticamente em pesquisas posteriores, com a galera comprando mesmo pra ouvir…
Acho que vamos presenciar um retorno ainda maior para as mídias físicas. Como vendo novos e usados, e não só lanço, faço feiras, circulo por lojas, me relaciono com o público consumidor, sem contar aqueles que compram diretamente do meu site, e percebo que, cada vez mais, o virtual não é o suficiente para as pessoas. Elas querem se relacionar de maneira mais profunda com a música, querem ir além do arquivo lá no Deezer ou no fundo do HD. Comenta-se que hoje uma boa parcela da galera que compra vinil é jovem, e que eles compram, mas não escutam, só guardam. Não concordo: tenho muitos clientes bem jovens, da era do MP3, e eles consomem e escutam os discos sim. A gurizada vai se envolvendo com a música, com as bandas, e aí aquele suporte eletrônico não se torna o suficiente, eles querem a biografia de papel, o box, o LP, a edição expandida. Quem desconsidera isso não acredita no poder da música, de como essas coisas encantam. Para mim, as escolas tinham que ter discotecas pelo mesmo motivo que tem bibliotecas. Sou formado em História (e também em Jornalismo com mestrado em Literatura) e tenho essa preocupação com o resgate, com a manutenção as obras. Quando compro um lote de discos usados que estava abandonado em um porão, eu lavo os LPs, troco os plásticos, restauro as capas… e acho uma casinha com um dono que vai saber valorizar aquele LP. Faz parte da história: da história da música, da história das mídias, da história de como as pessoas se relacionam com a música…

Existe um movimento interessante acontecendo. Você tá fazendo seu corre ai. Tem o Luiz Valente, em BH, o Rafael, da Assustado, em Recife. Você citou a Third Man Records e, para mim, foi incrível visitar a loja. Entrei e tinha o “Elephant”, vinil branco, rolando num toca-discos. Comprei um 12 polegadas do Cold War Kids, “Live To Tape”, uma session exclusiva da Third Man Records produzida pelo Jack White que não se encontra em lugar nenhum. Como você, dono de um selo independente, vê esse momento da música e do mercado?
Acho esse momento muito legal! O mercado permite iniciativas independentes. E esses vários selos vão criando uma rede que se retroalimenta. As grandes gravadoras estão por fora dessa onda, o que é bom para os independentes! Sou colecionador antes de tudo e é muito legal ver todos esses lançamentos e relançamentos acontecendo nos mais variados formatos. É uma pena que seja difícil trabalhar algumas bandas novas, às vezes, pois é tanta coisa sendo lançada que a atenção da galera acaba se diluindo. É nessa hora que o jornalista musical tem um papel fundamental. Tenho muitas coisas legais de bandas novas, independentes, que saíram só em CD e digital. E algumas delas são simplesmente sensacionais! Nível de primeiro escalão Mas, às vezes, ficam no âmbito do underground. Ter lançamentos em vinil, em K7, é uma forma de chamar a atenção para algumas coisas. Às vezes, o simples fato de saber aproveitar um hype desses pode garantir uma exposição de um trabalho que esteja realmente merecendo uma atenção. Esse mercado de K7, vinil, etc… ainda vai ficar por aí. Não vai desaparecer. Até pode encolher daqui algum tempo, mas sumir jamais. Talvez estejamos vivendo um novo renascimento das mídias físicas e que seja passageiro, mas ainda vamos ver essas belezinhas sendo lançadas por um bom tempo.

Qual disco que não se encontra em vinil que você sonharia em relançar?
Nossa… vários. Ok, vou citar um: “Tudo Foi Feito Pelo Sol”, d’Os Mutantes (nota do editor: que foi lançado pela Polysom na semana seguinte a esta entrevista). Outro: “A Banda Tropicalista do Duprat”… mas as grandes gravadoras não licenciam para selos como o meu. A Polysom consegue pegar algumas coisas, mas muito do filé ainda fica guardado…


A Sony lançou um projeto de relançamentos em vinis. Tão lançando 12 discos agora (três deles novos e nove relançamentos) e em dezembro deve ter outra leva…
O vinil está bombando em todo o mundo, mas os títulos escolhidos (para esses relançamentos) são meio esquisitos. É o que eu sinto falando com lojistas, com consumidores e tendo um selo. Existe muita gente que não entende nada do mercado decidindo esses relançamentos. Quer um exemplo? Ok, o “O Blesq Blom”, dos Titãs, é um disco importante, mas tu encontra um original de época em ótimo estado em praticamente qualquer sebo por R$ 20. Quem foi o engravatado que teve a ideia de relançar ele em 180g? Sem dúvida alguém que não circula pelas lojas, pelos sebos…

Quais os próximos passos do Selo 180? O que vem por ai?
Para esse ano, em vinil: “EST”, da Tape & Scandurra (LP de luxo); “Se o Futuro Permitir”, da Suco Elétrico; “Electromod”, da Cachorro Grande e “Isso Aqui Não é Woodstock, Mas Um Dia Pode Ser”, do Raul Seixas, iniciando uma série de relançamentos do Raul (pelo menos mais 8 lançamentos dele garanto que vão rolar). Em CD, ainda para 2016: “Escorrega Mil Vai Três Sobra Sete”, novo do Frank Jorge; “Durango”, novo do Murilo Sá e Grande Elenco…

Tu curtiu bastante o trabalho do Murilo, né?
Sim, acho talentosíssimo. Canta pra caramba! É um baita compositor de rock. Merece que as pessoas prestem mais atenção nele.

O que tu pode adiantar de “Durango”? Como tá o Murilo Sá nesse segundo disco?
“Durango” é mais diversificado que o “Sentido Centro”, seu disco de estreia. O “Sentido Centro” é mais introspectivo enquanto no “Durango”, o Murilo conta mais história. Ele olha para fora, para a metrópole. Musicalmente, ele se aventura muito bem em novas paisagens sonoras: 80, synth, indie. O “Sentido Centro” era mais sixtie, mais psicodelia, e isso continua no “Durango”, mas há muito mais…

O Bruno Lisboa entrevistou a Suco Elétrico para o Scream & Yell esses dias…
Eu vi! Ficou sensacional a entrevista! O disco deles ficou bem legal. Eles se reinventaram nesse álbum…

O que no som deles te chamou atenção?
É pesado, mas é pop. Curti a concisão das composições. Na verdade, musicalmente é bem elaborado. Não é tão simples quanto parece. O Cássio é um grande guitarrista. E tem o Marcelo Fruet produzindo. É bem caprichado.

Tu acompanhava os caras?
Sim, acompanhava, mas não tão de perto. Eles me procuraram. Ouvi o material e curti muito Sou abordado por bandas novas toda semana. Algumas são muito legais, outras estão bem no início. Tem que ter um ouvido e um olho pra sacar o que tem potencial. Às vezes aparecem coisas inacreditáveis na minha frente. Uma dessas é uma banda de Porto Alegre que vai ser lançada num formato maluco no próximo mês. Ela se chama Baby Budas. Estão finalizando um EP, produzido pelo Pedro Petracco. Serão sete músicas. Simplesmente chapei no som deles. Uma banda gaúcha de som psicodélico, bem sixtie, Byrds, CSN, mas mais venenoso. Outra coisa legal que vem por ai é um projeto que vem sendo trabalhado desde o ano passado, o primeiro disco da banda Trem Fantasma. Eles são de Curitiba e uns anos atrás lançaram um videoclipe muito legal, mas nunca tiveram um disco. E o disco deles vai ser o disco de estreia desse ano no Brasil! Estou decretando! É uma psicodelia contemporânea, mas que dialoga com muita propriedade com a tradição do rock. Produzido pelo Beto Bruno (Cachorro Grande), gravado pelo Sanjai Cardoso (que gravou produziu Escambau, Lucian Araújo), masterizado pelo mesmo cara que masterizou os discos do Tame Impala, participação do Pedro Pelotas, Charly Coombes… não será um disco que passará despercebido. É algo realmente especial!

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

2 thoughts on “Entrevista: Rodrigo de Andrade (Selo 180)

  1. Poxa,que linda essa entrevista,muito legal Eu também estou bastante entusiasmado e ansioso por esses caras que tem selos, selos e loja também, porque é como ele disse, é um mercado que se alimenta muito. E isso é um tesão, mesmo. Acho legal que eles se preocupam com a qualidade com Q maiusculo dos titulos, o que a maioria dos selos faz e tal. E eu já era muito entusiasmado com o vinil, por causa dessa nova onda comprei discos antigos, reformei os que ganhei da minha irmã (na verdade ainda são dela, hehe) e os novos de 180g. E ainda restaurei minha vitrola, e tá lindo demais. Muito legal isso. Só acho que a distribuição deles, assim como a de cds independentes poderia ser melhor, e o preço mais baixo. Mas é uma coisa que está em progressão e tá indo muito legal. E voltando,a entrevista ficou muito show, ele não é só um dono de selo, é um especialista em cultura

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