Três perguntas: Pin Ups

por Richard Cruz

O Pin Ups voltou. De vez. Depois de ter gravado um último disco (na verdade, um EP chamado “Bruce Lee”) no século passado, mais propriamente em 1999, e encerrado as atividades após a turnê de divulgação do trabalho, a banda símbolo do indie paulistano só fez algumas apresentações esporádicas (para comemorar 20 anos do clássico “Time Will Burn” com o primeiro vocalista Luiz Gustavo, em 2009, e em 2012, na Virada Cultural, quando bizarramente tocou às 8h da manhã). Depois, em 2015, chegou a fazer um “show de despedida” catártico para um Sesc Pompeia cheio de órfãos da banda – muitos que não tinham nem nascido quando a banda começou em 1988.

Foi por causa da boa repercussão dessa “noite de despedida” que, de acordo com um comunicado oficial da banda, a decisão de encerar definitivamente as atividades foi revertida. Da formação da segunda fase do Pin Ups (a mais pop e que gravou os últimos dois discos), só não está de volta a guitarrista Eliane Testoni (que hoje vive em Londres). Para completar o time, a baixista/vocalista Alê Briganti, o baterista monstro Flavio Cavichioli e o único membro fundador ainda presente, Zé Antônio Algodoal, chamaram o homem das mil bandas, Adriano Cintra (ex – CSS, e atual dezenas de outras).

E essa volta não ficará restringida aos palcos. “Estamos trabalhando para colocar os álbums nas plataformas digitais”, conta Zé Antônio Algodoal, que promete ainda “gravações inéditas, coisas ao vivo e gravações que só saíram em três cassetes distribuídas em shows”. O álbum “Lee Marvin” ganhará reedição em vinil (relembre a discografia)! Pra saber um pouco mais sobre o futuro e também esclarecer um pouco sobre o passado dos Pin Ups, fizemos três perguntas para o guitarrista e escritor (o volume II do seu livro “Discoteca Básica” sai no final do ano, pela Edições Ideal) Zé Antônio Algodoal.

Para muita gente, a melhor fase da banda é a dos dois últimos discos. Lembro-me de uma entrevista pra MTV em que os integrantes diziam que não se incomodariam em ser contratada pelo selo Chaos (na época da Sony). Pra quem gosta dessa fase, ficou um gosto de “quero mais” depois do Bruce Lee. O que faltou pra continuar?
Pode me incluir nessa lista das pessoas que preferem os dois últimos discos! Sempre nos perguntam o que faltou para continuar… O Pin Ups surgiu em uma época em que tudo era mais complicado, sem internet, com longas viagens de ônibus, equipamento caro, cachês que nem sempre cobriam os custos, dificuldade de divulgação, etc… Sem falar que cantar em inglês sempre foi algo mal visto pelas gravadoras e parte da imprensa (digo parte porque muita gente bacana nos ajudou, justiça seja feita). E quando parecia que as coisas poderiam melhorar, surgiu a cena hardcore da qual não fazíamos parte. Essas dificuldades foram determinantes para que a gente optasse por desacelerar.

Essa entrevista que citei foi no programa especial do Fábio Massari para a MTV Brasil sobre o Festival Junta Tribo (de 1993). Na cena daquela época havia “brodagem” entre as bandas indie?
O cenário nessa época era bem interessante e bastante criativo. Sobre brodagem a resposta é sim e não. Bandas como Killing Chainsaw, Mickey Junkies, Tube Screamers, Garage Fuzz, Concreteness, Happy Cow, Muzzarelas, entre outras sempre foram muito próximas de nós, todos muito queridos. Mas havia sim uma concorrência bem besta entre bandas de estilos diferentes. Lembro-me de algumas bandas góticas que disputavam atenção e espaço, e também de bandas de uma geração anterior à nossa que tratavam as novas com certo desdém. Coisas da época que o tempo acabou sanando

Agora que a banda voltou a fazer shows regulares, deve haver planos para relançamentos em vinil (ou outros formatos) dos discos anteriores da banda, com gravações inéditas e lados B. O que o futuro reserva para o Pin Ups em estúdio e também nos palcos, com a entrada do Adriano Cintra?
Estamos trabalhando para colocar os álbums nas plataformas digitais, mas por enquanto só posso confirmar os dois últimos, “Lee Marvin” e “Bruce Lee”. Os outros dependem da autorização do Luis, co-autor das músicas, que ainda não liberou. O Rodrigo Lariú, do Midsummer Madness, está cuidando disso para nós, mas acredito que tudo se resolva, afinal acho importante que mais pessoas tenham acesso à fase com os vocais do Luis. Faz parte da nossa história e da dele também. Para esse lançamento digital estamos reunindo algumas gravações inéditas, coisas ao vivo e gravações que só saíram em três cassetes distribuídas em shows. Fora isso, o “Lee Marvin” logo ganhará uma edição em vinil, que será lançada graças a uma iniciativa da Assustado Discos em uma parceria com o Midsummer Madness. Quanto aos shows, ter o Adriano na banda é um privilégio, não só pelo incontestável talento como instrumentista, compositor e produtor, mas principalmente porque ele é uma pessoa muito generosa e traz um clima bom pros shows e ensaios, algo que sempre buscamos. E musicalmente também é foda, ele tem uma sensibilidade incrível pra saber o que colocar na hora certa, está sendo ótimo tocar com ele.

Leia também: Discografia comentada: Pin Ups (aqui)

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