HQs: Excalibur, Robô Esmaga, Battlefields

por Adriano Mello Costa

“Excalibur”, de Chris Claremont e Alan Davis
O trabalho do artista e roteirista Chris Claremont com os X-Men redefiniu o grupo, alongou seus tentáculos e transformou a série em um sucesso estrondoso para a Marvel. Esse ícone da nona arte tentou outra ousada ideia com a habitual mão centralizadora por qual é conhecido: criar outro desses braços dos X-Men em 1987. Junto com o artista Alan Davis, responsável por uma fase esplendorosa do Capitão Britânia ao lado do gênio Alan Moore, Claremont criou uma nova equipe em um mundo que pensava que os mutantes do Professor Xavier estavam mortos. A equipe reunia além do já citado Capitão, a namorada transmorfa Meggan, Rachel Summers e os sobreviventes Noturno e Kitty Pride. Esse início foi publicado no Brasil em meados de 2015 pela Panini Comics com encadernado de capa cartonada e 180 páginas reunindo as edições originais “Excalibur” de 1 a 5, além de “Excalibur Special Edition: The Sword is Drawn” lançadas entre março de 1987 e fevereiro de 1989. A trama começa com as óbvias diferenças e ajustes de um grupo que está se formando: brigas, desavenças e até mesmo um triângulo amoroso. No entanto, a partir do momento em que percebem sua importância, as coisas começam a fluir no combate a situações rotineiras e vilões malucos. Uma das grandes sacadas do autor na época foi usar todo o arcabouço de ideias produzidas antes por Alan Moore em Capitão Britânia. O tom amalucado, com algum humor e situações bem surreais dão o tom, apoiadas na sobriedade dos desenhos de Davis. Contudo, mesmo se reconhecendo alguns méritos e com a nostalgia envolvida, “Excalibur” é uma história que envelheceu mal e hoje cansa mais do que diverte, tanto pelas assertivas que expõe quanto pelos caminhos que explora. Vale para conhecer o trabalho, porém hoje não vai muito além disso.

Nota: 5

“Robô Esmaga”, de Alexandre S. Lourenço
Desde 2010 o carioca Alexandre S. Lourenço publica de maneira independente na web a tirinha “Robô Esmaga”, sendo premiado nacionalmente por esse trabalho. Em 2015, a Editora JBC, mais conhecida pelo foco em mangás, publicou uma compilação dessas tiras em 84 páginas através do selo INK Comics (criado e administrado por ela). Nas tiras de Lourenço são explorados temas do cotidiano como o trabalho, a família, o ofício de quadrinista, os amores e a nossa própria inadequação para com o mundo e com aquilo que estamos fazendo no dia a dia. Com traço minimalista, rabiscado, e sem se prender a fórmulas de quadros pré-estabelecidas no que tange a orientação e tamanho, Lourenço apresenta também algumas outras facetas como na ótima crítica social de “gigante”. Mas é olhando para esse nosso aceite (voluntário ou não) perante a sociedade e aquela vontade ali dentro do peito de dar uma bicuda em tudo que ele se sobressai de verdade. Tiras como “2-15”, “Cinco Centímetros”, “Amarras” e “Fabrízio” são especialmente arrebatadoras. Na verdade, ao ler “Robô Esmaga” é difícil para o leitor não se identificar pelo menos parcialmente com alguma das tiras. Mesmo concluindo a leitura em poucos minutos, fica aquela vontade de ler tudo de novo, para pegar algum sentimento que porventura possa ter passado despercebido. O trabalho de Alexandre S. Lourenço destaca-se por isso. Por gerar essa identificação e fazer isso com delicadeza e até arrancando um sorriso do leitor. É torcer que mais volumes com essa qualidade sejam publicados no futuro.

Nota: 7.5

“Campos de Batalha – Vol. 1”, de Garth Ennis
“Battlefields” é uma grande série desenvolvida pelo quadrinista Garth Ennis na Dynamite Entertainment. Publicada nos EUA desde o final de 2009, ela é dividida em pequenas minisséries de três capítulos todas vinculadas a Segunda Guerra Mundial. Agora em 2016, a Mythos Editora publica as duas primeiras histórias em um encadernado de capa dura com extras, 164 páginas e classificação adulta. “Campos de Batalha – Vol. 1” apresenta duas tramas desenvolvidas pelo irlandês criador de HQs como “Crossed”, “The Boys” e “Preacher”, mostrando aspectos um pouco diferentes dessas obras, mas ainda com a violência como condutor (afinal, estamos falando em guerra), porém apresentada sobre outro viés. A primeira delas é “As Bruxas da Noite” com ilustrações de Russ Braun e cores de Tony Aviña. Uma história forte, vigorosa, com algum humor ácido, que trata da invasão do exército alemão nazista na extinta União Soviética, apresentando um esquadrão de aviação composto só por mulheres russas, que aterrorizam os soldados alemães enquanto estes avançam. Coesa e com um final repleto de clímax, essa história é o ponto alto da edição. A segunda história tem arte de Peter Snejbjerg e cores de Bob Steen e se chama “Querido Billy”. Desta vez, o cenário é a invasão japonesa na China e o envolvimento de britânicos e americanos em relação a isso, apresentando como personagem principal uma enfermeira repleta de ódio e com desejos de vingança aos japoneses por conta do que lhe aconteceu. Também com final em ponto elevado, fica um pouco abaixo da primeira pelo andamento como um todo, mas ainda sim se configura em uma boa história. Com capas do grande John Cassaday (Planetary), “Campos de Batalha – Vol. 1” apresenta um Garth Ennis com outra levada no âmbito geral, mas ainda assim esbanjando maestria pelas páginas.

Nota: 8.5

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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