Três shows: Wanclub, Vanguart, Selton

Textos por Marcelo Costa

Selton – Auditório Ibirapuera (10/04)

De volta para mais uma turnê brasileira, dessa vez divulgando o recém-lançado e aguardado “Loreto Paradiso” (2016), disco que homenageia no título o bairro em que eles moram em Milão, os “ítalo-gaúchos” da Selton tinham um grande desafio numa noite agradável de domingo: vencer a imponência do majestoso Auditório Ibirapuera, um local perfeito para shows íntimos, e não muito indicado para quem quer fazer o povo sacolejar – um dos méritos dos dois últimos discos desse excelente quarteto, que fez sua parte, usando 1/3 do enorme palco, e mostrando a inventividade de seu som, que mescla referências tanto de Paul Simon (e o obrigatório “Graceland”) como do Brooklyn (Vampire Weekend e Dirty Projectors) e da bossa samba de Caetano e Devendra (com exceção do Vampire Weekend, todos os nomes foram citados pelo grupo numa lista para o site Tenho Mais Discos Que Amigos).

O show (e o disco novo) começa(m) exatamente de onde “Saudade” (2013) parou: os vocais da faixa título tem conexão direta com “Eu Nasci No Meio De Um Monte de Gente”, que só vai aparecer no bis. Entre elas, bons números de “Loreto Paradiso”, como “Cemitério de Elefante”, em execução impecável, e a excelente “Don’t Play With Macumba”. Outros bons números novos (“Qualcuno Mi Ascolta”, “Feliz Ano Velho”) se alternam com faixas reluzentes do álbum anterior (“Ghost Song”, “Across The Sea”, “Drunken Sunshine”). Maurício Pereira, com quem o grupo dividiu um EP, deixa ainda mais bela a nova “Junto Separado” além de mostrar a sua “Pra Marte”. A tradicional “Eu Quero Mudar”, com o baterista Daniel assumindo a guitarra, ainda é um dos grandes momentos do set, que termina com o fundo do palco do Auditório subindo e revelando a beleza do parque Ibirapuera (e guerreiros da Idade Média). Um grande show.

Vanguart – Sesc Santo Amaro (22/04)

Março de 2006: em uma Funhouse abarrotada (ainda com palco na pista para os shows), os cuiabanos do Vanguart faziam uma de suas primeiras apresentações na capital paulista, um show vigoroso em que a entrega do grupo era latente, comovendo e conquistando. Corta para Abril de 2016, 10 anos depois, e cá estamos frente a frente novamente. Naquela época eles tinham apenas um EP com cinco canções em inglês. Agora já carregam três álbuns elogiados, um séquito fidelíssimo de fãs (que esgotou todos os ingressos para estes dois shows uma semana antes) e estão, nessa primeira noite no teatro do Sesc Santo Amaro, lançando seu segundo DVD, “Muito Mais Que o Amor Ao Vivo” (2016), soando viver sua melhor fase. O tempo passou e o grupo conseguiu agregar profissionalismo e experiência sem perder o tesão pelo palco, e o resultado é um show maduro, elegante e repleto de nuances.

Tal qual o novo DVD, a noite é aberta com “Estive” e “Demorou Pra Ser”, ambas cantadas em coro pelos fãs. Duas novidades chamam a atenção: Loco Sosa (Los Pirata) aparece na bateria e Julio NhaNhá nos teclados. O baixista Reginaldo Lincoln parte para o microfone e canta “Mesmo de Longe”, que antecede a primeira surpresa da noite, a inédita “Quando Eu Cheguei na Cidade”, com Hélio Flanders cantando por mais de um minuto sobre uma base gélida de teclados até a banda entrar com peso (a violinista Fernanda Kostchak se destaca). O trecho final trará outra inédita, “Quente É O Medo”, com Reginaldo no violão e vocal e Hélio trocando de instrumento com Julio. “Cachaça”, “Olha Pra Mim” e “Meu Sol” rendem bons momentos de uma noite que termina, no bis com “Semáforo” e “Mi Vida Eres Tu” (com citação de “Não Éramos Tão Assim”, de Pélico, presente na plateia) encerrando uma bela noite.

Wander Wildner – Sesc Belenzinho (23/04)

Fruto de um financiamento coletivo de sucesso, com uma arrecadação 23% maior do que a meta pedida (o projeto visava arrecadar R$ 39 mil, mas os fãs juntaram R$ 48.344,00!), o projeto Wanclub (regravações de canções solo de Wander além de clássicos d’Os Replicantes) aportou em São Paulo para uma noite histórica no Sesc Belenzinho. Com ingressos esgotados, Wander Wildner surgiu acompanhado de uma formação luxuosa dos Comancheros – o eterno companheiro Jimi Joe numa guitarra; Andrio Maquenzi (Superguidis / Medialunas) na outra; Arthur de Faria se alternando entre piano, teclado e gaita (ou sanfona) mais Luke Faro na bateria e Gustavo Chaise no baixo – e o resultado pode ser balizado pela opinião dos próprios protagonistas: “Um dos melhores shows destes meus 10 anos comancheros”, cravou Arthur em seu Facebook. Wander referendou: “O melhor show da minha carreira”.

Esbanjando carisma, bom humor e uma voz potente, ora rasgada, trovejante e gutural, ora melódica, teatral e discursiva, Wander abriu a noite entoando “Astronauta” (do clássico disco de 1987, “Histórias de Sexo & Violência”, d’Os Replicantes) e dai em diante uma sequencia de hinos para deixar velhos fãs roucos: “Eu Tenho Uma Camiseta”, “Bebendo Vinho” (em arranjo reggae), “Eu Não Consigo Ser Alegre”, “Um Lugar do Caralho”, “Surfista Calhorda”. Jimi Joe cantou a primeira estrofe de “Sandina” (composta por ele). Já “Amigo Punk”, mesmo num arranjo inicialmente eletrônico, emocionou. Grandes momentos: a aula “Hippie-Punk-Rajneesh”, o novo (bom) arranjo de “Um Bom Motivo” e a inédita “Jovens”, texto de Juvenil Silva musicado por Wander (e apresentada à capela nesta noite). Pra fechar, “Festa Punk”, com uma roda de pogo (em marcha lenta) festejando o grande momento de Wander. Ele merece esse sucesso!

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Fotos: Liliane Callegari (Selton – veja galeria) / Marcelo Costa (Vanguart e Wander Wildner)

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