Boteco: Cinco cervejas de Minas Gerais

por Marcelo Costa

Aberta em 2009 em Nova Lima, a Cervejaria Escola Taberna do Vale tem 10 rótulos disponíveis em seu sitio oficial, entre eles essa (Irish) Dry Stout, uma cerveja de coloração entre o marrom bem escuro e o preto com creme bege escuro de excelente formação e longa permanência. No nariz, aroma delicado de maltes torrados sugerindo mais café que chocolate, com percepção suave de acidez metálica. Na boca, a textura é cremosa com picância metálica. No primeiro toque, café e chocolate (novamente com leve predomínio do primeiro) seguidos de amargor médio (elevado pela torra) e acidez. O conjunto se reveza entre esses vértices (amargor de café, doçura de chocolate e acidez metálica) e soa mais arisco do que as Dry Stout originais, mais suaves e sem tantas arestas (metálicas). O final traz café encorpado em malte torrado. No retrogosto, café e chocolate juntos remetem a cappuccino suave, sem açúcar. Interessante.

Também de Nova Lima e integrante da cooperativa cervejeira Inconfidentes, a Grimor volta ao Scream & Yell com seu quarto (e melhor) rótulo (veja as outras três aqui), o de número 18, uma Belgian Blond Ale que se gaba de utilizar levedura genuinamente nacional: Gabriela Montandon isolou a levedura nunca antes usada na produção de cerveja em território brasileiro, estudou-a e certificou-a em solo belga e agora exibe o resultado nesta bela Blond Ale de coloração amarelo turva com creme branco de ótima formação (com direito a rendas belgas na taça) e longa permanência. No nariz, um aroma com notas florais deliciosas seguidas de frutado (banana) e condimentado assertivo. Na boca, a textura é cremosa e levemente picante. No primeiro toque, cítrico (limão e abacaxi) e condimentação surpreendendo o bebedor. O amargor é médio e eficiente abrindo as portas para um conjunto que sugere uma Belgian Blond Ale com traços de Saison. No final, doçura cítrica deliciosa. O retrogosto oferece abacaxi, condimentação e sorrisos. Bela cerveja.

De Formiga, no oeste mineiro, surge a Fürst Cerveja Artesanal, aberta em 2012 e hoje com oito rótulos em seu cardápio (sete produzidas o ano todo e uma sazonal) mostrando variedade: há escola alemã (Marzen, Hefeweizen), irlandesa (Red Ale), belga (Blond Ale) e norte-americana (Session Pale Ale, IPA e Premium Lager). Essa IPA com dry-hoping de lúpulo Mandarina atende pelo nome de Magnus e exibe coloração âmbar acastanhada com creme levemente bege de boa formação e longa permanência. No nariz, uma doçura caramelada disputa a atenção com a pancada de lúpulo cítrico (maracujá e toranja) e percepção resinosa suave. Na boca, textura sedosa. O primeiro toque traz doçura caramelada e frutado cítrico praticamente juntos, ambos interrompidos por uma porrada assertiva de amargor, que abre o caminho para uma IPA maltada e amarga. O final é suavemente resinoso. No retrogosto, amargor, resina e cítrico.

De Belo Horizonte e se apresentando como “a primeira cervejaria artesanal de Minas Gerais”, a Krug Bier, aberta em 1997, marca presença nesta degustação com a Uaiktoberfest Bier, uma Marzen que recebe adição de rapadura e homenageia o Oktoberfest mineiro, que acontece desde 2010 em Nova Lima apenas com cervejarias do estado. De coloração âmbar caramelada com creme bege de boa formação e média retenção, a Krug Uaiktoberfest Bier apresenta um aroma levemente maltado (e até um pouco tímido) sugerindo caramelo, rapadura e doce de leite. Na boca, a textura é leve. O primeiro toque traz doçura maltada caramelada seguida de amargor médio e eficiente. Dai pra frente, um conjunto mais representativo no paladar do que no aroma, oferecendo caramelo, toffee, doce de leite e rapadura sem prejudicar o drinkabilty. O final traz tímida doçura. No retrogosto, leve adstringência e doçura.

Fechando o quinteto com a Backer, uma das primeiras micro cervejarias mineiras a chamar a atenção para a produção local (e hoje com duas linhas respeito: Três Lobos e Las Mafiosas). A Backer marca presença na lista com a cerveja comemorativa dos 50 anos do Mineirão, uma Dortmunder Export limitada (mais pra Premium American Lager) de coloração entre o dourado e o âmbar, creme branco de boa formação e rápida dispersão. No nariz, malte em destaque sugerindo cereais (pão e biscoito), quase nada de percepção de lúpulo e um leve amanteigado que não põe em risco o conjunto, mas não deveria estar aqui. Na boca, O Mineirão é Nosso exibe uma textura levemente picante e acética. O primeiro toque traz doçura maltada suave sugerindo cereais. O amargor subsequente é baixo e, dai em diante, uma cerveja sem muitos destaques. O final é maltadinho e esquecível. No retrogosto, cereais, malte e Zzzzzz.

Balanço
Primeira da série mineira, a Taberna Dry Stout soa bastante encorpada e com uma aridez metálica não comum no estilo, o que incomoda no começo, mas que vai se aconchegando conforme a garrafa esvazia e termina de maneira positiva. Interessante. Mas mais interessante ainda é a Grimor 18, que, além do fato de usar levedura nacional, alcança um resultado arrebatador dentro do estilo Belgian Blond Ale. Na boa, é uma das melhores cervejas a sair de Minas Gerais recentemente. A Magnus IPA da Fürst representa muito bem o estilo de origem (American IPA), mas não acrescenta novidades. A Uaiktoberfest da Krug Bier é bastante leve, mas ainda assim saborosa (ainda que o aroma seja tímido). Uma boa cerveja pruma festa em que se bebe muita cerveja. Fechando o quinteto com a decepção d’O Mineirão é Nosso, uma cerveja que não honra o estádio. Quem esperava um golaço da Backer vai ter que se contentar com um cartão vermelho do juiz. Deixe-a de lado e se concentre nas Mafiosas.

Taberna do Vale Dry Stout
– Estilo: Dry Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3,8%
– Nota: 3,02/5

Grimor 18
– Estilo: Belgian Blond Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,52/5

Fürst IPA
– Estilo: India Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,1%
– Nota: 3,22/5

Krug Uaiktoberfest Bier
– Estilo: Oktoberfest
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,04/5

Backer O Mineirão é Nosso
– Estilo: Dortmunder Export
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4,8%
– Nota: 1,85/5

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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