Três bons discos da cena paraense

“Eu Sou Spartacus”, Turbo (Independente)
por Adriano Mello Costa
Segundo disco do trio formado por Camillo Royale (guitarras, violões e vocal), Wilson Fujiyoshi (baixo) e Netto Batêra (bateria), “Eu Sou Spartacus” vem de uma longa gestação que remonta a 2012. Gravado em Gotemburgo, na Suécia, por Chips Kiesbye, produtor de bandas como o Hellacopters (influência confessa do power trio), e remasterizado por Henryk Lipp, o registro apresenta oito faixas que condesam todo o poder do grupo. Com as guitarras em primeiro plano conduzindo uma cozinha eficientíssima, a Turbo apresenta um disco ganchudo, vigoroso e com energia explodindo pelos cantos. O bom humor, um dos pontos fortes da banda, continua em alta como atesta “Fã #1”, onde a letra foca em uma fã que sabe todas as músicas de todas as bandas, ou “Gibson”, que retrata o sonho maior de ter uma guitarra Gibson Les Paul Custom Black, independente do que os outros acham. As guitarras dão o tom das “rajadas” – que é o como o grupo nomeia suas apresentações – em músicas como “Já” e “Mais Além”, esta última bastante pessoal com versos sobre resistência e falta de valor. Some-se a elas o riff garageiro e possante de “Elis”, a balada torta “Bem Vinda”, o powerpop de “Pilar” (com letra fantástica citando “Ok Computer”, do Radiohead) e o rock acelerado, quase stoner, “Calor Senegâles”, sobre a questão climática da região, e você pode ter uma ideia real do que é a Turbo. “Eu Sou Spartacus” consegue transpor o poder do ao vivo para as gravações, o que nunca é tarefa fácil, e, acima disso, é um disco à altura do que se espera de Camillo Royale, um ídolo da cena local e um dos caras mais talentosos da região.

Nota: 8,5
Download gratuito: http://www.turbooficial.com

“#1”, Jaloo (Skol Music)
por Marcelo Costa
Uma das boas surpresas da cena local, Jaime Melo começou a chamar a atenção em 2010, quando lançou na web remixes de canções como “Back to Black”, de Amy Winehouse, e “I Feel Love”, de Donna Summer. De elogios de Caetano até a escalação no projeto Terrua Pará 2013, o músico seguiu burilando seu repertório, que chega ao ápice nesta estreia pelo selo StereoMono, coordenado por Carlos Eduardo Miranda. Quem acompanhou a escalada de Jaime, ou melhor, Jaloo, irá se surpreender como o jovem tímido dos primeiros shows conseguiu compor uma persona musical interessantíssima, que se apoia no que ele apelida de sci-fi brega, uma busca por universalizar o regional (e vice-versa) – sem se descuidar das letras. Desta forma, “#1” é dançante, esperto, regional e mundial. Logo na faixa de abertura, a empolgante “Vem”, ele intima com o dedo em riste: “Não subestima a minha rima, essa parada é minha”. A próxima, “Insight”, apresenta um sotaque mais brasileiro enquanto a marchinha sessentista “A Cidade”, de MC Tha, atualizada com beats, observa: “É fácil se emocionar / Com o mundo internacional / Mas na esquina de casa / Mendigo mora em jornal”. Há algo de Gang de Eletro no pancadão “Pa Parará”, que junto a deliciosa “Tanto Faz” pode animar muita festa noite afora. “Chuva”, de Iara Rennó e Thalma de Freitas, gravada por Gaby Amarantos em seu disco de estreia, ganha sobrevida num disco que merece atenção. Jaloo não é só uma das boas surpresas da cena paraense de tecnobrega, mas sim uma das boas promessas para a música inteligente brasileira, algo que parece estar em extinção. Fique atento.

Nota: 8,5

“Pequenas Juras de Amor…à Vida”, Telesonic (Independente)
por Adriano Mello Costa
O ano era 2006 e o músico Klebe Martins conseguia enfim lançar o primeiro trabalho solo com o nome de Telesonic. “Canções de Bolso” apostava num folk-rock aliado com pop que foi bem recebido pela crítica e público da região. Quase 10 anos depois, seu sucessor ganha vida. “Pequenas Juras de Amor…à Vida” tem produção própria, nove canções e vai além da estreia, inserindo sonoridades mais amplas e outras influências com uma produção mais cuidadosa e trabalhada. O tempo que separa um disco do outro serviu para que Klebe lapidasse as canções, com forte apego nas melodias e zelo nas letras, que dessa vez aparecem mais positivas, mais contemplativas, porém ainda flertando com o cotidiano e apresentando boas tiradas. Da grudenta “Manifesto II” até o dedilhado da suave e terna “Nas Nuvens”, o trabalho exibe várias facetas, como o folk-pop de “Dois Pares”, o trompete de “Tanto Faz” ou o pop pegajoso de “Balada do Retirante”. O suingue e guitarras de “Não Sei Andar Sozinho” e o balanço de “Desafeto”, também com presença marcante da guitarra e backing vocals chicletudos ao fundo, são a novidade em um álbum cujo amor, presença marcante no disco de estreia da Telesonic, aparece com louvor na perfeitinha e crítica “Sétimo Céu”, assim como a questão “vida que segue” (outra temática explorada antes) se apresenta nos violões de “Bem Mais Simples”, reafirmando o cotidiano e rotina tão bem explorados pelo músico. “Pequenas Juras de Amor…à Vida” é um disco prazeroso de ser escutado, com coisas simples de se ouvir e que carregam em si o poder de melhorar uma parte do seu dia.

Nota: 8,5

Download gratuito: https://soundcloud.com/klebe-martins/

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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3 thoughts on “Três bons discos da cena paraense

  1. Existe alguma chance da banda ASTROMATO fazer um show esse ano pra comemorar os 15 anos de seu disco?

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