Entrevista: Psycho Carnival 2016

por Leonardo Vinhas

Que um festival seja capaz de chegar à sua 17ª edição já é um feito surpreendente. Mais notável ainda quando o evento em questão é dedicado a gêneros de alcance restrito, como psychobilly, rockabilly, garage e surf music. Pois esse é o caso Psycho Carnival, uma festa de cinco dias em que bandas de todos esses gêneros citados tocam em Curitiba para um público dedicado, que cresce a cada edição.

Desde 2014, o festival tem um “evento irmão”, o Curitiba Rock Carnival, com entrada gratuita, realizado na rua e com um elenco um pouco mais amplo em termos de estéticas musicais. Para que se tenha uma ideia, o Psycho Carnival de 2016, que acontecerá de 4 a 8 de fevereiro no Jokers Pub, terá nomes estrangeiros como os britânicos Guana Batz (veteranos do pyschobilly) e The Surf Rats, os russos The Meantraitors, os suíços The Frogz, os holandeses Cenobites, os equatorianos Gatos Zombies e os paraguaios Luizons, além de nomes nacionais como The Mullet Monster Mafia, Ovos Presley, Sick Sick Sinners e outros. Já no Rock Carnival, cabem bandas como Blindagem (lenda do underground curitibano), ruidomm, Pão de Hamburguer, The Dead Rocks e até os proto-punks norte-americanos do Death, que ganhou grande notoriedade após um documentário (A Band Called Death) lançado em 2012.

Ambos os festivais contam com Vladimir Urban, sócio da cervejaria Diabólica e guitarrista dos Sick Sick Sinners, na organização. Na verdade, Vlad, como é conhecido, é fundador e responsável pelo Psycho. No Rock Carnival, ele divide a curadoria e a organização com os produtores culturais J.R. Ferreira (também proprietário do 92 Graus The Underground Pub e guitarrista e vocalista da banda de ska Specialites) e Neri Melo. Ao longo dos anos, o Psycho Carnival ganhou reputação internacional, e hoje é considerado um dos maiores eventos do estilo na América Latina, além de ter entrado até mesmo na agenda cultural oficial da Prefeitura de Curitiba. E para fazer um balanço dessa história, o Scream&Yell conversou com Urban no começo deste ano.

O Psycho Carnival é um dos festivais mais antigos do Brasil – já indo para a 17ª edição. A que você atribui a longevidade?
É difícil dizer por que um festival deixa de ser produzido. Talvez por falta de tempo, às vezes por falta de patrocínio, muitas vezes falta do poder público de entender a importância de um festival de música independente, para a vida cultural da cidade. O Psycho Carnival é um festival de um tipo de música específico, que não depende do mainstream, mas depende bastante do público, e um público que cresceu junto do festival, aos poucos. E enquanto tiver esse público, que é
realmente quem faz o festival acontecer, imagino que vamos continuar fazendo.

O festival mudou em tamanho, estrutura e divulgação desde sua primeira edição. Os objetivos também mudaram, ou continuam os mesmos?
O festival mudou bastante, naturalmente. Começamos fazendo só um dia de show, já no segundo ano eram dois dias, a partir do terceiro já eram quatro… Mudamos de casa várias vezes, tínhamos diversos eventos paralelos, oficina de musica, palestra, workshop, almoço de confraternização, até futebol… Mas acabamos tendo cada vez mais compromissos, e a realização do Curitiba Rock Carnival acabou nos ocupando de tal forma que também tivemos que deixar algumas coisas de lado. O objetivo é fazer uma grande festa para quem gosta do estilo, trazendo bandas que que muitas vezes nunca imaginávamos que poderiam tocar no Brasil. O festival acabou se tornando uma referencia não só no Brasil mas como na América Latina, o que nos deixa muito felizes.

Já que falamos sobre as atrações internacionais: o número delas cresce a cada edição. O público estrangeiro também? Afinal, o Psycho Carnival já entrou até na agenda oficial da cidade.
Sim, a cada ano temos mais atrações internacionais, e público também, o que é sensacional. Existe uma troca muito grande, entre as bandas e o público. Inclusive produtores de outros países acabam levando bandas que tocam no Carnival para as suas cidades. Importantíssimo que a prefeitura de Curitiba através da Fundação Cultural de Curitiba apoie o evento da forma que faz.

O Scream&Yell fala muito da integração latino-americana pela música. Algumas bandas latino-americanadas de surf music, psychobilly e rockabilly que entrevistamos dizem que a cena desses estilos musicais é muito colaborativa e interligada no continente. Lidando com tantos aritstas latino-americanos no festival, você também tem essa percepção?
Realmente, como acontece a integração das bandas brasileiras da cena, também acontece com as bandas latino-americanas. A primeira banda que veio foi no ano de 2003, os chilenos do Surfin Carambas, e de la para cá vieram várias: da Argentina vieram Motorama, Primitivos e Jinetes
Fantasmas; do Chile, Los Infiernos e Voodoo Zombie; do Equador, Los TXKs. Quase todo ano temos um ou dois representante da América Latina.Acho sensacional essa integração, somos latinos, temos que cada vez mais ter essa troca cultural com a América Latina.

O grande nome veterano deste ano é o Guana Batz, de volta ao Brasil depois de quase 30 anos. Quais outros nomes “clássicos” o festival tem especial apreço por ter trazido ao país?
Tem algumas bandas como Batmobile, Mad Sin, Frantic Flintstones (que toca esse ano no Curitiba Rock Carnival), Nekromantix, Monsters, Banane Metalik, Robin, que realmente a gente fica muito feliz de ter viabilizado a vinda ao Brasil. Shows que ficam na nossa memória, não só pela qualidade das bandas, mas também por todo mundo ter a oportunidade de ver essas bandas. Porque não são bandas grandes, porque o estilo em si não é muito grande. Mas também por que nunca imaginávamos que iríamos ver essas bandas ao vivo algum dia. .

O Curitiba Rock Carnival abre espaço para outros estilos musicais. Como co-curador do projeto, o que você busca, artisticamente, com esse festival?
Buscamos diversificar o que temos no Psycho Carnival, com bandas que tenham a ver, que tenham alguma conexão, mas também bandas importantes do rock curitibano, que muitas vezes não têm espaço nas grandes produções que acontecem por aqui. Bandas de punk rock, ska, metal, rock, folk, hard rock.. Acho que hoje o Curitiba Rock Carnival é o maior festival de música independente de Curitiba, e graças a Prefeitura de Curitiba, através da Fundação Cultural acontece de forma gratuita. Uma grande sensibilidade dessa gestão.

Na edição de 2014 do Rock Carnival, houve brigas que terminaram com quatro pessoas feridas por facadas. Houve pressão da imprensa e muita desinformação sendo veiculada. Mesmo assim, o evento resistiu aos ataques, e continuará sendo gratuito e aberto ao público. Como foi lidar com esse episódio?
Nós temos muito claro que não foi o evento que deu oportunidade para aquilo acontecer. Foi um caso isolado. O Curitiba Rock Carnival é muito frequentado por toda a família, os pais roqueiros levam os filhos, vão avós, é um evento para se divertir, que acontece em grande parte de dia. Acho que todo mundo entendeu isso. Reforçamos a segurança e as coisas foram de uma forma muito boa já em 2015.

Voltando a falar sobre o festival: o Jokers já está intrinsecamente ligado a ele, não? Qual a importância do bar para o Psycho Carnival?
O Jokers é sensacional, é uma casa excelente, tem um espaço muito bom para o público, e é bem confortável. Mas não foram todas as edições lá, já fizemos em diversas casas diferentes em Curitiba, sempre no intuito de viabilizar o festival. Esse ano voltamos para la, mas não é
certo onde será o próximo..

Por fim: o Psycho Carnival, por mais que tenha a música como foco, é também espelho de um estilo de vida, da estética às ambições pessoais do público. Assim sendo, como você definiria o público do festival? Quem são essas pessoas que fazem o Psycho Carnival crescer a cada edição?
São acima de tudo pessoas que tem uma profunda identificação com esse estilo de vida, que curtem demais a cultura trash, os filmes de terror, o rockabilly, o punk rock. O psychobilly é uma degeneração do rock, tem todo um universo cultural que faz parte do estilo e algumas pessoas acabam ficando aficionadas por essa cultura. A internet deu uma grande chance dessa turma se interagir e cada vez mais se identificar com essa cultura.

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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