por Marcelo Costa
Todo ano, ao falar sobre a temporada de shows internacionais no país, alguém sempre se apega a um velho clichê e manda a frase impactante: “O Brasil finalmente entrou na rota de shows internacionais”. É uma verdade, claro, mas uma verdade datada de 30 anos atrás, quando o primeiro Rock in Rio mostrou para os gringos que investir no Brasil era bom negócio. E de lá pra cá a agenda superlota ano a ano, pouco importando com a crise (que crise?).
Em 2015, megafestivais como Lollapalooza, Tomorrowland, Rock in Rio e Monsters of Rock dividiram espaço com eventos de porte médio, mas muita qualidade, como Balaclava Fest, Popload Festival e Festival Dias Nórdicos. A agenda superlotada de shows (só em São Paulo, 510 artistas se apresentaram) trouxe nomes tão dispares quanto A-ha e Slipknot, Ariana Grande e Rod Stewart, Blind Guardian e Katy Perry, Damien Rice e Muse… e muito mais.
Fica difícil ir a todo show que aparece, é preciso fazer escolha$, o que gera uma pequena lista de lamentações. Nunca é legal perder um show do Pearl Jam ou do Morrissey, por exemplo, mas o preço elevado dos ingressos proibia sonhos. Há ainda aqueles shows que você sabe que é bom, mas não acredita no investimento, porém o blá blá blá posterior confirma a perda de um grande momento, e David Gilmour e Chemical Brothers se encaixam nessa categoria.
Assim, a lista de shows abaixo é, no mínimo, interessante, por tentar fugir do óbvio e amplificar o cenário: tem fã que diz que ama a música, mas só se atreveu a sair de casa pra ver dois megashows no ano. Fica difícil, porque a música se concretiza no palco, na relação do artista com seu público, no inusitado do ao vivo, em que tudo pode acontecer. É preciso ver shows. Para mim, os 10 shows abaixo fizeram de 2015 um ano muito mais especial. Que venha 2016.
As fotos são de Marcelo Costa e Liliane Callegari, do Scream & Yell.
Jack White no Lollapalooza Brasil (março)
Jack White fez uma ode ao barulho sem nenhuma concessão ao pop. O repertório uniu canções do White Stripes turbinadas pela excelente banda que acompanha o guitarrista e em arranjos muitas vezes inusitados, números do Raconteurs e da carreira solo culminando em 1h45 de sujeira. Grande momento: o trem desgovernado “Steady, As She Goes”. (texto completo)
St. Vincent no Lollapalooza Brasil (março)
Escudada por dois teclados, bateria e seus riffs ariscos de guitarra, e ainda que impossibilitada de utilizar a luz do palco, já que o dia ainda estava claro no autódromo de Interlagos, St. Vincent conquistou o público com um set list cuidadoso montado com músicas de seus quatro álbuns. Grande momento: a dança calculadamente desequilibrada durante “Rattlesnake”. (texto completo)
The Sonics no Audio Club (março)
Aqueles que duvidavam que os velhinhos que lançaram seu primeiro disco nos anos 60 ainda teriam lenha pra queimar no palco do Cine Joia tiveram um desafio e tanto: aguentar o pique dos setentões, que honraram o nome de uma das primeiras bandas de garagem da história numa apresentação irrepreensível. Melhor momento: o show inteiro. Simples assim.
dEUS no Sesc Pompeia (abril)
Na Bélgica eles são enormes, a ponto de dividir a posição de headliners com Radiohead, Neil Young e Lenny Kravitz. Em São Paulo, conseguiram lotar a aconchegante choperia do Sesc Pompeia, que viu uma apresentação impecável de pop esquizofrênico de altíssima qualidade. A dinâmica das canções mudava drasticamente durante a execução, e o público foi junto. Melhor momento: o hino “Suds & Soda” com 30 fãs no palco. (texto completo)
Johnny Marr no Festival Cultura Inglesa (junho)
Quem viu no Lolla 2014 ficou com um gostinho de deja vu, mas o cara mandou bem ao juntar números da carreira solo, seis canções dos Smiths (entre elas “Panic”, “Bigmouth Strikes Again” e “How Soon is Now”), uma do Eletronic e outra do Depeche Mode. Grande momento (do show e da vida): a maravilhosa “There Is a Light That Never Goes Out”. (texto completo)
Sharon van Etten no Cine Joia (junho)
Uma apresentação comovente, desajeitada e sincera. Ela driblou a timidez, arrancou risos da audiência e, nos momentos certos, ainda leva alguns às lágrimas. Em certo momento, diante do clima aconchegante do público, confessou animadamente: “Esse é o melhor Dia dos Namorados ever!”. Difícil discordar (ainda que tenha sido também um dos belamente mais melancólicos). Melhor momento: “I Love You But I’m Lost” ao piano. (texto completo)
Shai Maestro Trio no Sesc Pompeia (agosto)
De Israel, o Shai Maestro Trio fez uma apresentação impecável, com o baterista Ziv Ravitz mostrando uma condução absolutamente vibrante, e o baixista peruano Jorge Roeder acompanhando o alto nível do pianista Shai. Melhor momento: Shai lamentando a guerra palestina, ressaltando que somos todos iguais e tocando um número solo melancólico. (texto completo)
Iron & Wine no Cine Joia (setembro)
Munido apenas de violão, uma taça de vinho, uma voz poderosa e um repertório de canções praticamente escolhido na hora (a maioria pelos fãs), Samuel Beam fez um show consagrador em sua estreia na capital paulista. Uma hora e quarenta passou imperceptível e voando. Melhor momento: Samuel errando o refrão de “Tree by the River”, e se divertindo. (texto completo)
Lee Ranaldo no Largo da Batata (setembro)
Bastante a vontade em São Paulo (seu Instagram mostrava visitas a restaurantes de comida nordestina, uma exposição no MASP e sua conhecida paixão pelos grafites da cidade), Lee Ranaldo fez uma apresentação envolvente, com direitos a belos riffs de guitarra, arco de violino e declaração de amor à cidade. Melhor momento: a cover de “Revolution Blues”. (texto completo)
Iggy Pop no Popload Festival (outubro)
Todo mundo esperava um bom show, mas ninguém esperava que as quatro primeiras músicas do set fossem “No Fun”, “I Wanna Be Your Dog” (momento do primeiro mosh de Iggy – ele faria outro na segunda parte do show), “The Passenger” e “Lust For Life”, executadas de forma potente. O público se beliscava e Iggy caminhava torto pela plateia rindo de nós. Que noite. Melhor momento: os 20 primeiros minutos do show. Inesquecíveis. (texto completo)
Só showzaço…….matou a pau……