Entrevista: Vanusa

por Marcos Paulino

Os mais novos devem se lembrar de Vanusa como a cantora das antigas que errou o Hino Nacional num evento, gafe que se tornou viral na internet. Os mais velhos, porém, devem saber que essa paulista criada em Minas tem uma história riquíssima na música brasileira, que entre os anos 60 e 80, foi dona de grandes sucessos populares, registrados em pelo menos duas dezenas de discos, vendidos aos milhões, e que lhe renderam muitos prêmios.

Nesse período, Vanusa gravou músicas de compositores desconhecidos, que depois ganhariam a fama, que o diga Belchior (sua versão para a canção “Paralelas” foi um imenso sucesso em todo o Brasil). E não se privou de falar de amor nem de protesto. Bem, a história está nos sites de busca, pra quem se interessar, e também em duas caixas recém-lançadas com quatro CDs cada contendo seus oito primeiros discos, entre 1967 e 1979, num projeto de resgate comandado por Marcelo Fróes, do pelo selo Discobertas.

Depois de uma vida sob holofotes, porém, vieram tempos difíceis, que culminaram numa longa depressão. A qual, ao que parece, ficou para trás. Vanusa Santos Flores está de volta. Depois de 20 anos sem gravar, apresenta seu novo disco, que leva seu nome de batismo e tem produção de seu amigo Zeca Baleiro. São 10 faixas, algumas de sua autoria, outras de velhos e novos compositores, nas quais mostra sua voz inconfundível. Vanusa está feliz, como mostra nesta entrevista ao PLUG, parceiro do Scream & Yell.

Por que, depois de tanto tempo, você decidiu que estava na hora de gravar um novo disco de estúdio?
A música não estava muito propícia pra mim. Vieram os sertanejos, depois o funk, achei que não era momento de gravar. Até que o Zeca Baleiro me chamou pra gravar, aceitei, e só então fui saber que fazia 20 anos que eu não montava um CD novo. Nas redes sociais, meus fãs sempre perguntavam quando eu iria lançar outro disco. Fizemos com muita calma, demoramos quase dois anos. Lancei no dia 19 de outubro, na Livraria Cultura, em São Paulo, que estava lotada, e onde reencontrei velhos fãs e encontrei novos, inclusive jovens. Estou feliz, porque a repercussão foi maravilhosa.

Com tanto tempo sem gravar, de que modo você acredita que esses jovens conheceram seu trabalho?
Fiquei um tempo sem Facebook e, quando voltei com minha página, vieram muitos jovens falar comigo. Disseram que ouviam as mães cantarem minhas músicas e quiseram conhecer. Também saiu um box com oito LPs meus lançados em CD, assim as pessoas puderam escutar todo meu trabalho, desde o começo, acompanhar a transformação, o amadurecimento. Mas foi uma surpresa os jovens estarem próximos. Pra você ter uma ideia, tem uma menina de 15 anos que fez uma página no Instagram chamada “50 tons de Vanusa”, que tem muitos seguidores. Ela posta fotos que nem eu tenho mais.

Você fez um disco MPB/pop. Após esses anos todos, que público você acredita que ele vai alcançar? Porque o sertanejo e o funk continuam por aí…
Acho que os antigos fãs continuam comigo e percebo que está vindo muita gente nova. É um CD que demonstra meu momento hoje. O disco é uma loucura, um sonho quase impossível, mas uma vitória acima de tudo. Nele, fui pro lado que sempre quis, que é o da MPB, mas também do pop e do rock, de que gosto muito.

Que critério você levou em conta para escolher as canções de outros compositores que gravaria para o disco?
O Zeca trazia algumas músicas, e tinha outras de que gosto e que queria regravar. Fomos fazendo as escolhas e acho que o CD ficou bem redondinho. Tem compositores consagrados, como Ângela Ro Ro e Zé Ramalho, e também gente nova. Fui escolhendo pelo feeling, aquelas músicas com as quais me sentia bem. Fizemos um trabalho escutando o coração.

Há duas faixas que você já tinha gravado, mas quis regravar porque não havia gostado dos arranjos originais. Agora, independente, você se sente mais à vontade pra fazer seu trabalho exatamente como quer?
Sim. Tem uma música, “Mistérios”, do Zé Geraldo, feita pra mim há muitos e muitos anos, quando eu ainda era casada com o Antônio Marcos. Mas meu produtor não gostou da música e não me deixou gravar, só que nunca me esqueci dela. Uns quatro anos atrás, recebi um CD do Zé Geraldo que tinha essa música. Mostrei pro Zeca, que achou linda, e resolvemos gravar. O disco tem outras músicas minhas, “Traição” e “Tapete da sala”, que estavam guardadas, porque não passo minhas composições pra outros cantores, até porque não componho muito.

Em determinado período, você foi uma das cantoras mais requisitadas do país, talvez a mais. Você está encarando esta nova fase como um recomeço, ou não é pra tanto?
Estou me sentindo como se estivesse começando a minha carreira. É tudo novo! Tenho feito dois programas de TV por dia, dando entrevistas para grandes jornais e revistas. E a receptividade das pessoas tem sido a melhor possível. Não estou muito preocupada de que este CD estoure. Quis me reposicionar, mostrar que estou aqui de novo.

Vai ter uma turnê desse disco?
Por enquanto, não fizemos uma agenda de shows, estamos trabalhando pra divulgar o CD. Acredito que esses shows vão aparecer naturalmente. Acho que faremos algo do tipo que fizemos na Livraria Cultura em outras capitais. Na linha de tarde de autógrafos, porque os fãs gostam de estar perto do artista. Mas já estou ensaiando pra estar preparada pra quando os shows começarem.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (plugmusic.zip.net), da Gazeta de Limeira.

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