Balanço: Popload Festival 2015

Texto por Marcelo Costa
Fotos por
Liliane Callegari

James Newell Osterberg tem 68 anos, mas no primeiro dia do Popload Festival 2015, na sexta-feira (17), mostrou a vitalidade de um garoto absolutamente apaixonado pelo palco. Ainda que a segunda noite tenha arrebatado um público maior, o grande show desta edição do Popload Festival (e um dos grandes shows do ano no Brasil) foi de Iggy Pop na noite de abertura do evento, que enfileirou hinos, tomou banho de cerveja (R$ 12 cada copo, e dezenas deles foram arremessados pela plateia festeira) e deu dois moshs sobre a galera mostrando uma forma física excelente e uma voz ainda marcante.

A festa começou em clima romântico com um show fofíssimo da norte-americana Natalie Prass, uma apaixonada por música brasileira (ela foi às compras na Galeria do Rock e adquiriu vinis da Gal Costa, Raul Seixas e Bezerra da Silva). No palco, de vestido preto e guitarra quase maior que ela, Natalie – mais baixo, guitarra e bateria – mostrou covers de Simon & Garfunkel (“The Sound of Silence”) e Janet Jackson (“Anytime, Anyplace”, b-side do single “Bird of Prey”) além de duas faixas inéditas e quase a integra de seu disco de estreia em versões mais cruas e emocionais sem os arranjos de cordas (muitas vezes exagerados) do disco.

Já o norueguês Sondre Lerche (outro apaixonado pelo Brasil) parecia uma criança feliz exibindo o que aprendeu ouvindo Milton Nascimento e Tom Jobim: “Minhas melhores progressões de acordes foram roubadas de vocês”, brincou, emendando um trecho a capela de “San Vicente”, de Milton e Fernando Brant. Entre o público surgiam comparações com Josh Rouse (melodia) e Rufus Wainwright (a postura inquieta) num show de vibe ótima e um set list de 13 músicas, quatro delas do ótimo “Please” (2014). Dois bons momentos: a antiga “Two Way Monologue” e “My Hands Are Shaking”, da trilha do filme “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada” (2007).

Levemente atrasado e visivelmente consternado, Emicida entrou em cena com uma baita banda de apoio para mostrar um dos shows mais importantes do ano na Ilha de Vera Cruz. Conforme as canções foram se sucedendo, o rapper foi se soltando e entrando no bom clima do festival. No set, um repertório mais pesado e focado nas guitarras mostrou a versatilidade do músico, que ainda abriu espaço para o samba na junção da ótima “Chapa” com Candeia (“Preciso Me Encontrar”) e ainda contou com a participação de Drik Barbosa, Muzzike, Coruja BC1 e Raphão Alafin em “Mandume”. Showzão.

Iggy Pop veio em seguida e não poupou os fãs enfiando de uma só vez quatro hinos: “No Fun”, “I Wanna Be Your Dog” (momento do primeiro mosh de Iggy – ele faria outro na segunda parte do show), “The Passenger” e “Lust For Life” cantadas com garra (a voz, excelente, impressiona) diante de uma galera que parecia não acreditar no presente que estava ganhando. E ele não parou por ai! A noite ainda teve “Sister Midnight”, “Real Wild Child”, “Nightclubbing” e, no bis, “Search and Destroy”, “Raw Power” e “Funtime”, entre outras, em uma hora e meia de esporro. Que show! Que show!! Que show!!!

Na segunda noite do Popload Festival, o Cidadão Instigado mostrou a evolução do repertório do grande álbum “Fortaleza”, que cresce ainda mais no palco a cada nova apresentação. Já havia um salto entre a noite de estreia no Sesc Pompeia, em abril, tipicamente insegura, para o set irrepreensível apresentado no Festival Radioca, em Salvador, em agosto. Duas semanas após outro ótimo show, desta vez gratuito abrindo para Lee Ranaldo, o Cidadão exibiu no Audio Club um som cada vez mais prog e psicodélico, com longas jams e uma good vibe no palco que evidencia a boa fase que o quinteto vive. Se passar por você, não perca esse show.

Os texanos do Spoon, por sua vez, dividiram a plateia. Quem esperava o tom arisco e vibrante que marcou a apresentação no Planeta Terra, sete anos atrás, saiu decepcionado. As guitarras estavam inaudíveis, encobertas por baixo, bateria e teclado num mix de soul funk sexy branquelo que valoriza a baita voz rasgada de Britt Daniels, mas não oferece risco, não provoca. Mesmo assim, muita gente aprovou, mas o grande show do Spoon em São Paulo aconteceu apenas no dia seguinte, no Beco, com luz baixa, guitarras altas e um repertório muito mais caprichado e executado com vontade. Valeu pelo segundo show.

Encerrando a maratona, o Belle & Sebastian carregou um público maior do que o Iggy (com um gargarejo menos “violento”, mas muito mais “intenso”) e fizeram um show fofim. De calça de couro prateada (!), Stuart Murdoch não é mais o rapaz tímido que cantou no Tim Festival 2001 vestindo uma camiseta dos Smiths. Agora ele dança e banca o crooner, só com o microfone nas mãos. Mesmo músicas do fracote “Girls In Peacetime” (2015) soaram melhores, até dançáveis, mas o grande momento foi o trecho final, com uma dezena de fãs no palco cantando “The Boy With the Arab Strap” e “Legal Man”. Ainda assim, o set list poderia ter sido mais generoso.

Com um show fenomenal de Iggy Pop (que vai pras cabeças nas listas de melhores de 2015) e uma produção impecável, repleta de acertos (destacando a praça de alimentação funcional, os banheiros limpos, um segundo palco com DJ set e a boa localização do Audio Club, um local de fácil acesso para chegar e sair) e com poucos erros (a cerveja muito cara, o choque dos horários entre os palcos), o Popload Festival (que recebeu 7 mil pessoas em dois dias) firma-se como o grande evento musical (indie) do segundo semestre em São Paulo, ocupando o espaço vago deixado pelo já saudoso Planeta Terra, e já deixando expectativas para 2016. O que será que vem por ai?

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Liliane Callegari (@licallegari) é fotógrafa e arquiteta. Veja galeria de fotos dos shows aqui

3 thoughts on “Balanço: Popload Festival 2015

  1. Fui no sábado e achei o local excelente, a limpeza e a organização eram inacreditáveis de tão boas. Mas o que mais importa que é o local do show ficou devendo muito. O palco estava extremamente baixo, só quem tinha mais de 1,80 m conseguia enxergar perfeitamente o show do B&S. Quanto à apresentação do B&S acredito que ficou devendo bastante, além do pequeno número de músicas (só 15!!!), cinco músicas do novo disco é muito (ainda mais com a chatíssima Perfect Couples). Poderiam ter mais de uma do Tigermilk e alguma do Life Pursuit e do Hold Your Hands… que foram ignorados no show.

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