CDs: Muse, Libertines e Disclosure

por Bruno Leonel

“Drones”, Muse (Warner Music)
Com a promessa de retorno às raízes rock combinada com excessos futurísticos-glam, o trio britânico lança “Drones”, seu sétimo disco, não mudando um milímetro sequer na temática das letras: o líder Matt Bellamy foca mais uma vez na ideia de um futuro distópico e totalitário, tema explorado desde o quarto trabalho do Muse, “Black Holes and Revelations” (2006), denotando certa falta de assunto. Após explorar territórios tortuosos com o pavoroso “The Resistance” (2009) e o insosso “2nd Law” (2012), “Drones” cumpre a promessa roqueira na enérgica “The Handler”, no virtuosismo de “Reapers” e em “Psycho”, uma canção feita a partir de um riff que a banda já tocava há 12 anos. A repetição, no entanto, talvez seja a maior responsável pela superficialidade do disco, como exibem as orquestrações e excessos influenciados pela música clássica da piegas “Revolt” e os sofridos 10 minutos de “Globalist”. O trio parece acertar mais quando volta ao básico, apostando no peso, no entanto, mesmo em faixas carregadas, a guitarra soa bem mais mansa do que já soou em outros tempos. Com produção assinada por Robert John Lange (AC/DC, Def Lepard), “Drones” marca um avanço em relação aos dois (ruins) trabalhos anteriores, mas ainda assim é um trabalho abaixo da média para uma banda que já mostrou que pode mais (como atestam “Origin of Simnetry”, de 2001, e “Absolution”, de 2003). No fim das contas, “Drones” soa como uma típica superprodução hollywoodiana: visual e tecnologia de ponta, e nada de conteúdo.

Nota: 5,5
Preço em média: R$ 30 (CD nacional)

Leia também:
– Em 2001: “Muse, a melhor das bandas que copiam o Radiohead” (aqui)

“Anthems for Doomed Youth”, The Libertines (Harvest)
Após conflitos pessoais, problemas com drogas, bandas paralelas (Babyshambles, Dirty Pretty Things) e carreiras solo alternando momentos de sucesso relativo e fracasso retumbante, Carl Barât e Pete Doherty decidiram fazer as pazes e voltar com o The Libertines. O retorno foi iniciado em 2010 (seis anos após o fim da banda) com shows nos festivais de Reading e Leeds, e se confirmou em 2014 com a formação original voltando aos palcos e ao estúdio, de onde saiu com “Anthems for Doomed Youth”, primeiro disco de inéditas em 11 anos. Com produção de Jake Gosling (Ed Sheeran, One Direction), o novo álbum mostra que, mesmo após tanto tempo sem tocar junto, ainda há prazer em colocar o time de campo. O passar do tempo trouxe amadurecimento e, com ele, envelhecimento. Não é à toa então que o som continue, em essência, o mesmo, ainda que exiba traços de amargor e, em alguns momentos, soe até comportado. Mesmo canções de destaque como “Guinga Din” e “Fame and Fortune” não trazem o mesmo brilho ‘feliz’ que, por exemplo, “Can’t Stand Me Now” tinha. As referências ainda estão lá: “Barbarians” ecoa The Jam enquanto “Glasgow Coma Scale Blues” é a tradicional ode aos caos, mas a atmosfera parece mais controlada, o que soa estranho para um grupo que chamou a atenção pelo desleixo e senso de irresponsabilidade. No geral, “Anthems for Doomed Youth” (12 músicas inéditas na versão oficial, 17 na edição de luxo) pode causar estranheza a quem esperava mais energia do quarteto, mas não desonra a discografia do Libertines. Ainda bem.

Nota: 7
Preço em média: US$ 12 (CD Importado)

Leia também:
– “Up The Bracket”, a estreia do Libertines, faixa a faixa (aqui)
– Em São Paulo, Carl Barât fez uma digna apresentação de fim da carreira (aqui)
– Pete Doherty opta por sonoridade acústica em seu primeiro álbum solo (aqui)
– Carl Barât se dá bem com a estreia do Dirty Pretty Things (aqui)
– “Shotter’s Nation”: três faixas matadoras e um bando de canções medianas (aqui)

“Caracal”, Disclosure (Universal)
Na onda do estouro mundial de “Settle” (2013), que levou a dupla britânica para festivais de vários continentes (Brasil incluso), os irmãos Guy e Howard Lawrence retornam agora com o aguardado segundo disco, “Caracal”, álbum que foi antecipado por singles poderosos como “Holding On” (com o vozeirão de Gregory Porter) e uma parceria com Sam Smith (em “Omem”, que tenta repetir “Latch”, de 2013, também com o cantor). “Caracal” investe no jazz, no R&B e até no soul, como exibe a sensacional “Superego”, com a cantora Nao. O competente duo evita a repetição (artificio usado por dezenas de artistas em tempos cada vez menos confiáveis para a indústria musical) e busca mudanças tratando de explorar novas referências – até uma serie de ‘clipes conceito’ foi feita. Há também (sabiamente) menos samples e mais instrumentos. Com um olho no som e outro no mercado, o Disclosure segue bem relacionado: 9 das 11 faixas da edição oficial do álbum possuem participações especiais. Os convocados somam bastante como no caso da hedonista “Nocturnal” (com o canadense ‘The Weekend), da sexy “Hourglass” (com o duo Lion Babe) e “Magnets”, que traz a neozelandesa Lorde nos vocais. A ótima “Jaded”, cantada por Howard, é outro destaque de um álbum que, talvez, não supere o sucesso da estreia, mas exibe uma inegável sofisticação. A ambição que “Caracal” apresenta mostra um inteligente segundo capítulo na trajetória de uma dupla que soube reutilizar ideias e inserir uma necessária dose de inteligência na música eletrônica para as pistas.

Nota: 9
Preço em média: R$ 30 (CD nacional)

Leia também:
– “Settle”, do Disclosure, soa como se fosse uma coletânea “Best Of” (aqui)

– Bruno Leonel (https://www.facebook.com/silva.leonel.900) é jornalista.

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