Três CDs: Valsa Binária, Dibigode, Iconili

por Bruno Lisboa

“10”, Valsa Binária (Independente)
Formado pelo quarteto Danilo Derick (guitarra, teclados e variados), Leo Moraes (guitarra e voz), Rodrigo Valente (bateria) e Salomão Terra (baixo), em “10” os mineiros da Valsa Binária apostam numa continuidade natural do primeiro disco lançado em 2011 (disponível também para download gratuito no Bandcamp da banda). Autoproduzido, “10” é composto por 10 faixas que promovem a junção, em plena harmonia, de canções alegres e bem humoradas com melodias introspectivas. Já na abertura o ouvinte é convidado à dança na ótima “Receita”, canção que ironiza as necessidades femininas modernas. O clima jovial é mantido na jovem guardista “Vou Correndo” e na esteticamente folk “A esquina” (única faixa cantada por Danilo). Em contraponto, faixas como “Céu de Abril” e “Dona de si” (conduzida por belo arranjo ao piano) respondem pela porção delicada do álbum. Já em “Melhor Que Sou” e “Quis”, o encontro promovido é entre a dramaticidade com a urgência, conduzida por arranjos atmosféricos e soturnos. A valsa circense “O Palhaço” encerra de modo agridoce o disco que é altamente indicado para os que gostam da sonoridade pop com ares descompromissados.

Nota: 8
Ouça e faça download gratuito em: http://www.valsabinaria.com.br/
Preço: a banda optou pelo formato pague o quanto quiser + frete. O pedido do CD pode ser feito diretamente com o grupo através do e-mail producao@valsabinaria.com.br.

“Piacó”, Iconili (Indepedente)
Formado em 2006, o combo instrumental mineiro Iconili atinge o ápice de sua criatividade em “Piacó”, seu segundo disco, lançado em março de 2015. Sem impor limites a sua já peculiar sonoridade, o álbum (composto por 11 faixas) segue a fórmula afrobeat testada no debute, “Tupi Novo Mundo”, de 2013, mas com abertura para novas sonoridades. Essa proposta já é percebida em “Jorge Botafogo”, faixa de abertura do novo trabalho, onde o clima jazzístico dá o tom. O experimentalismo e a fusão com o carimbó conduzem a faixa título como também a pulsante “Gentil”. Sem deixar a energia cair, a atmosfera dançante é quase interrupta no disco. Afinal é basicamente impossível ficar impassível a faixas como “Nêgo Preto” (conduzida por guitarras em ode a disco music), “Preta de Tataqui” e “Mr. Ok”, canção que promove o encontro de ritmos brasileiros e africanos. Em tempos de alta cozinha, como autênticos chefes culinários, os mineiros do Iconili criaram em “Piacó” um prato bem elaborado, composto por ingredientes diversos que soam saborosos a cada audição. Um dos discos essenciais do ano até agora.

Nota: 10
Ouça e faça download gratuito em: http://www.iconili.com.br/
Preço do CD: R$ 21,00 (compre na loja virtual do grupo em http://loja.iconili.com.br/)

“Garnizé”, Dibigobe (Independente)
Em seu segundo álbum, a turma mineira da Dibigobe trafega pelo caminho da ousadia. Tendo como mote central uma homenagem semi-instrumental ao sambista Ataulfo Alves, o grupo não se rende as armadilhas da mera reprodução dos arranjos originais, pois aposta alto na pessoalidade e a na criatividade ao longo de oito faixas de “Garnizé”. Gravado em Mineapollis (EUA) com produção de Zachary Hollander (que já trabalhou com Explosions in the sky e The Polyphonic Spree), “Garnizé” recria de maneira desconcertante clássicos do compositor de Miraí, MG. Faixas como “Tempos de Criança” (que ganha ares de post-rock carregado de batidas eletrônicas), “Laranja Madura” (relida com elementos do rock e jazz), a desacelerada e bela “Mulata Assanhada”, os ares carnavalescos de “Você Passa, Eu Acho Graça” e a releitura gipsy (ritmo popular nos EUA nos anos 20) para “Aí Que Saudades da Amélia”, que conta com a participação do clarinetista Pat O’Keffe, destacam-se. Mas o climax concentra-se em “Na Cadência do Samba”, única faixa com vocais, onde a presença da icônica cantora mineira Dona Jandira abrilhanta a canção. O resultado final é tão acima da média que deixaria o finado ícone da música popular brasileira orgulhoso.

Nota: 10

Ouça em: https://soundcloud.com/dibigode/sets/garnize
Preço: R$ 50 (vinil). Pode ser adquirido no site www.amusicaquevemdeminas.com.br

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator/colunista do Pigner e do O Poder do Resumão

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