Plebe Rude ao vivo em São Paulo

Texto por Marcelo Costa
Fotos por Liliane Callegari

No final de 2014, a Plebe Rude lançou “Nação Daltônica”, seu sexto álbum de estúdio em mais de 30 anos de carreira. Gravado em Brasília com dois membros originais (o guitarrista vocalista Philippe Seabra e o baixista André X) mais Clemente (Inocentes) e o baterista Marcelo Capucci, “Nação Daltônica” mantém a pegada forte e as letras politizadas que fizeram a fama da Plebe, ainda que hoje a banda não goze do mesmo status de sucesso que a contemporânea Capital Inicial, que formava com a Legião Urbana o trio de ferro do rock candango nos anos 80.

Para marcar o lançamento do disco em São Paulo, a Plebe Rude esgotou duas noites de shows no Sesc Belenzinho, e o reencontro com o público paulista foi, nas palavras do próprio Philippe Seabra, “uma celebração”, com uma boa dose de emoção (e diversão) tentando compensar as falhas técnicas. Desta forma, a nova “Mais Um Ano Você” abriu a noite com impacto trazendo consigo a boa “O Que Se Faz”, primeira faixa do álbum “R ao Contrário”, de 2006 (o primeiro com Clemente fixo na guitarra base).

Uma das melhores canções de “O Concreto Já Rachou”, primeiro EP lançando pela Plebe em 1985, “Seu Jogo” surgiu numa versão desajeitada. “Anos de Luta”, outra nova, manteve o show morno, algo que “Johnny”, uma das faixas mais incendiárias do primeiro EP de 30 anos atrás, tratou de mudar: com Clemente só no microfone incitando a galera, André carregando tudo no baixo e Philippe dividindo os vocais (marca registrada da primeira fase da banda), uma versão encorpada de “Johnny” já valeu o ingresso. Mas tinha mais!

“O terceiro disco da Plebe é muito negligenciado”, disse Philippe Seabra em certo momento. “Essa que vamos tocar agora, por exemplo a gente não toca há 12 anos”, avisou, antes do riff cortante de “A Serra” invadir a comedoria do Sesc Belenzinho e disparar uma versão mais festeira (para os fãs antigos) que correta – e sem o vocal dobrado. “Sempre desconfio de bandas que duram tanto tempo”, provocou Philippe depois. “No nosso caso dinheiro não é”, alertou, entregando ao público uma das senhas para entender a noite: diversão.

E foi por diversão roqueira que Philippe e André ensaiaram um medley do pouco conhecido, mas excelente quarto álbum da Plebe Rude, “Mais Raiva Do Que Medo”, de 1993, quando a banda se resumia apenas aos dois. Em formato power trio desajeitado, Philippe, André e o baterista Marcelo encavalaram as ótimas “Mais Tempo Que Dinheiro”, “Sem Deus Sem Lei”, “Não Nos Diz Nada” e “Aurora” confirmando o tom celebratório da noite, como que presenteando os fãs mais antigos por seguirem a banda até os dias de hoje. Mas havia mais!

Clemente voltou ao palco para encorpar os riffs de “Este Ano” e participar de outro momento de celebração. “No Dia 1 da Plebe, no meio de um ensaio do Aborto Elétrico, a gente fez essa música”, contou Philippe, puxando “Pressão Social”, faixa que encerra o álbum “Mais Raiva Do Que Medo” (com Renato Russo no segundo vocal e Dado Villa-Lobos solando). “Katarina”, do álbum “R ao Contrário”, apaziguou os ânimos e fez a fila do balcão de cerveja aumentar antes da reta final para fã nenhum colocar defeito.

Outro medley, agora do álbum “Nunca Fomos Tão Brasileiros” (1987), trouxe “Bravo Mundo Novo”, “48”, “Consumo” e “Nova Era Tecno”, fechando com uma bonita versão de “A Ida”. Dai pra frente, um set para deixar todo mundo rouco começou com a homenagem à Redson, do Cólera, numa grande versão de “Medo” seguida das cinco canções (históricas) que faltavam do EP de estreia: “Sexo e Karatê”, “Brasília”, “Minha Renda”, “Proteção” (com citação de “Pátria Amada”, dos Inocentes) e, claro, “Até Quando Esperar”, com um coro de crianças pedindo para vigiar o carro dos presentes.

Longe de ser uma apresentação impecável (a guitarra base de Clemente encobriu a voz de Phillipe em algumas canções; e em vários momentos ficou nítida a falta de entrosamento da banda – principalmente com o novo baterista), o show da Plebe no Sesc Belenzinho teve sabor de ensaio aberto, descontraído e, sim, celebratório, com quatro músicos se divertindo no palco, e uma plateia apaixonada curtindo o momento. Sem o hype dos hits do momento, a Plebe concentrou-se no que tem de melhor, grandes canções, numa bela noite roqueira.

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Liliane Callegari (@licallegari) é fotógrafa e arquiteta. Veja galeria de fotos dos shows aqui

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