Brasil: Três cervejas com pinhão

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por Marcelo Costa

Segundo a Wikipedia, o Pinhão é “a designação genérica da semente de várias espécies de pinaceaes e araucariaceaes, plantas gimnospérmicas, isto é, cuja semente não se encerra num fruto”. No caso das araucárias, também conhecida como pinheiro-do-paraná ou pinheiro brasileiro, a pinha (local que abriga o pinhão) atinge proporções razoáveis, constituindo-se de uma esfera compacta com diâmetro entre 15 e 20 centímetros. Pesquisas históricas sobre as populações indígenas que viveram no planalto sul-brasileiro registram a importância do pinhão no cotidiano desses grupos, e ele ainda vem sendo produzido, comercializado e consumido. Abaixo, três receitas de cervejas brasileiras que recebem adição de pinhão. A primeira vem de Palmas, no Paraná, e as outras duas do estado de São Paulo, sendo que, aparentemente, há um pequeno imbróglio entre as cervejarias Los Dias, de Taubaté, e Campos do Jordão, da cidade homônima, a respeito de uma parceria na receita (hoje cada uma delas faz a sua).

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De Palmas, no Paraná, a segunda Insana a passar por este espaço (a primeira foi a Chocolate Porter), uma American Barley Wine de 8.5% de álcool que (como as três cervejas selecionadas para este post) recebe adição de pinhão, a semente da araucária, árvore símbolo do Estado do Paraná. De coloração acobreada e turva com creme bege de baixa formação e retenção, a Insana Pinhão Barley Wine 2015 apresenta um aroma que destaca tanto as notas carameladas derivadas do malte quanto uma suave sugestão de madeira e castanha, que parecem estar ligadas a adição do pinhão (bastante tímido no conjunto). Na boca, a textura é sedosa e melada, como manda o figurino do estilo. O primeiro toque traz doçura e percepção suave de álcool, que não incomoda. O amargor é baixo e a percepção de pinhão no paladar é quase inexistente. Mesmo a madeira e a castanha se apagam num conjunto que privilegia a doçura do malte. O final é maltado enquanto o retrogosto, caramelado com leve toque de castanhas.

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Do distrito de Quiririm, em Taubaté, no Vale do Paraíba paulista, minha primeira cerveja Los Dias, presente do amigo Leonardo Vinhas, é uma Belgian Dubbel que recebe adição de pinhão. De coloração ambar com creme leve bege de média alta formação e longa permanência, a Los Dias Pinhão apresenta um aroma que combina muito bem as notas adocicadas derivadas da malteação (caramelo, mel e açúcar mascavo) com as que surgem da adição do pinhão. Há leve acidez derivada da levedura num conjunto que ainda traz algo de castanha e, levemente, de amendoim (e paçoca). Na boca, a textura é levemente sedosa. O primeiro toque traz bastante doçura caramelada e leve percepção dos 7% de álcool, muito bem inseridos no conjunto. Dai pra frente (e conforme a cerveja aquece na taça), mel e caramelo praticamente dominam a percepção, com o pinhão ficando na retaguarda. O final é melado e adocicado. No retrogosto, boa sugestão de caramelo e amêndoa.

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Da cidade de Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira paulista, a cervejaria que carrega o nome da cidade também tem a sua versão de Belgian Dubbel cque recebe adição da semente da Araucária. De coloração âmbar um pouco mais escura que a versão da Los Dias e creme bege de média alta formação e longa permanência, a Campos do Jordão Pinhão apresenta um aroma com doçura melada (mel, açúcar mascavo e caramelo) se destacando, mas permitindo perceber ao fundo a sugestão de pinhão, interessante, ao lado de um leve toque herbal. No entanto, a condimentação tradicional de levedura belga não marca presença, o que diminui os contrastes (e a condimentação) do conjunto. Na boca, textura suave. O primeiro toque reforça a opção pela doçura com leve herbal contrastando e álcool aparecendo de forma suave. Dai pra frente, doçura (caramelo e açúcar mascavo), frutado (banana), amêndoa e pinhão. O final é maltado enquanto o retrogosto traz caramelo e amêndoa, de forma suave.

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Balanço
Abrindo o trio de cervejas com pinhão com a American Barley Wine da Insana, e a sensação é que faltou ousadia. O pinhão pouco aparece no conjunto e a doçura caramelada domina a percepção do bebedor. A Los Dias Pinhão oferece um conjunto mais equilibrado numa receita de Belgian Dubbel que, também, soa bastante doce, mas abre espaço para o pinhão, que surge reconhecível no aroma, ainda que perca um pouco de destaque no paladar (principalmente com a cerveja aquecida). Mesmo assim, uma boa surpresa. A Campos do Jordão Pinhão exibe bom aroma e início, mas no decorrer percebe-se certa ausência de derivados da levedura belga, o que resulta em falta de condimentação, deixando com que a doçura se sobressaia (e quase enjoe). Não enjoa, mas perde em equilíbrio.

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Insana Barley Wine Pinhão
– Estilo: Barley Wine
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 2,93/5
– Preço pago: R$ 16 por 300 ml

Los Dias Pinhão
– Estilo: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,07/5
– Preço pago: R$ 14,50 por 600 ml

Campos do Jordão Pinhão
– Estilo: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,05/5
– Preço pago: R$ 15 por 600 ml

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Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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