A coletânea Goiânia Rock City MMXV

por Marcelo Costa

Uma das gravadoras independentes mais importantes da história do país, responsável direta pela consolidação da cena goiana como uma realidade barulhenta no cotidiano musical nacional, a Monstro Discos continua apostando no barulho, lançando agora “Goiânia Rock City MMXV”, terceira coletânea do selo, que visa mostrar a força da cena local ao reunir 15 bandas, 14 delas da própria cidade de Goiânia (The Galo Power, Dry, Space Truck, Damn Stoned Birds, Verne, Mechanics e Evening são algumas das bandas presentes no álbum). E para mostrar que essa seleção é só a ponta do iceberg, o selo planeja um Volume 2 ainda para 2015. No encarte de “Goiânia Rock City MMXV” (à venda por R$ 15 na loja do selo), uma declaração de intenções:

“2015. Tempos estranhos. Há menos de uma década a coisa tava pegando fogo: festivais pipocando ao sabor do vento, redes sólidas funcionando, bandas em alta rotatividade, mainstream apaixonado pelo underground, a mídia lambendo os beiços, CD independente vendendo igual água (que passarinho não bebe), público sedento, curioso, antenado, ativo. Agora? Agora o papo é outro. Cortina de fumaça. Molecada anestesiada. Panelaço. Curtir é apertar um botão num computador (ou tablet, ou celular) invocado. Banda boa é banda cover. Ou melhor: banda tributo. Muita casa e pouco show. Nos festivais, tudo menos Rock. Rock? Rezaram a missa de sétimo dia ontem. Mas a Monstro não foi. A Monstro ainda acredita em neurônios funcionais e em moleques (alguns pra lá dos 40) que têm o que dizer. Ou gritar. Pra Monstro, Goiânia ainda é ROCK CITY!”

Além da coletânea (lançamento número 157 do selo!), a Monstro também colocou nas lojas o documentário “Nas Paredes da Pedra Encantada”, de Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim, sobre o álbum duplo “Paêbirú – Caminho da Montanha do Sol”, da dupla Lula Côrtes & Zé Ramalho. “Saber a história desse disco é algo que interessa a todo mundo que curte rock no Brasil”, avisa Leo Razuk em conversa por e-mail com o Scream & Yell. Em 2014, a Monstro colocou quatro bandas do selo num ônibus e partiu para uma tour por sete cidades de Minas Gerais e São Paulo (“Foi uma experiência fantástica”) e neste ano segue com a 21ª edição do Festival Goiana Noise (marcado para os dias 13, 14 e 15/11): “Nossa ideia é fazer algo mais underground, mais alternativo”, conta Razuk, que comando o selo e o festival ao lado de Leo Bigode, Márcio Jr. e Guilherme Batista Pereira. Abaixo, Leo Razuk fala sobre a coletânea, o Noise e muito mais.

“Goiânia Rock City MMXV” é a terceira coletânea que a Monstro Discos lança em sua história. Como foi feito o trabalho de seleção das 15 bandas que participam do álbum?
Sem bairrismos, mas foi bem penoso. Goiânia tem hoje um monte de bandas legais e selecionar algumas é sempre bem complicado. Sempre sofremos isso na época do Noise também. Mas no caso dessa coletânea, a nossa ideia inicial era reunir um número de bandas e depois lançar um volume 2 até o fim do ano. Vamos ver se teremos fôlego financeiro para fazer isso e aí virá uma outra edição com mais bandas tão legais quanto essas.

Pelo que entendi, das 15 bandas selecionadas para a coletânea, 14 são de Goiânia e apenas uma, Evening, é de fora da cidade (mas não do Estado!). É isso? É um número impressionante!
Exato. A coletânea é de bandas de Goiânia. Em anos passados já havíamos feito isso. A primeira foi em 2006. Sempre com esse nome, que foi também o nome de um projeto de shows semanais que a gente tinha. Só bandas autorais e da cidade. Nas edições passadas tinham nomes como Violins, Réu e Condenado, Valentina… nomes que depois tiveram um grande destaque nacionalmente. Nessa, reunimos uma nova geração. Tem muita coisa legal ali: Galo Power, Cherry Devil, Space Truck, Two Wolves… é uma cena bem diversa. E resolvemos convidar uma banda bem legal de Anápolis, que é uma cidade a 50 km daqui. No fundo, é uma forma de apresentar o que anda rolando no rock feito aqui em Goiás. E, em primeira mão, já estamos trabalhando também numa coletânea de bandas de metal aqui da cidade.

Uma das características que percebo em “Goiânia Rock City MMXV” é a união de bandas notadamente pesadas, com riffs fortes, sujos. Queria saber o que vocês acham de bandas locais que tem uma pegada mais pop, sem deixar de ser rock, nomes como Boogarins, Carne Doce… Lembro que no Noise de 2013 vi uma de que gostei muito, Shotgun Wives…
A gente gosta muito dessa bandas que você citou também. Tanto que elas tocam em nossos eventos. Como eu falei, Goiânia tem uma cena bem rica e diversa. Essas bandas que você falou poderiam perfeitamente estar na coletânea, mas não entraram por alguma impossibilidade da banda ou nossa. A Monstro sempre teve um propósito de fomentar, divulgar e valorizar o rock goiano. Temos um conceito e uma estética dentro do selo e da produtora, mas isso não nos impede de também navegar em outras praias. A primeira Goiânia Rock City era mais ampla e entraram até bandas como o Vícios da Era, Olhodepeixe e Casa Bizantina que eram de uma outra cena, mas que sempre dialogaram (e dialogam) com esse cenário “construído” pela Monstro.

A Monstro Discos já tem 17 anos de história (completa 20 em 2018!) e vocês já viram muita coisa acontecer no mercado independente brasileiro neste tempo. As coisas hoje estão melhores ou piores do que quando o selo surgiu?
Em muitos aspectos melhoraram. Em outros, pioraram. O lance das vendas de discos mesmo está bem pior. Vende-se pouco hoje. E o digital ainda não é rentável. Lançar disco hoje é algo mais pro nosso prazer mesmo e para gerar fato. Uma coletânea como essa serve mais para isso: divulgar as bandas. Não dá pra pensar em retorno financeiro. Tanto que a Monstro antes lançava, em média, 12 discos por ano. Agora, reduzimos bem e nos concentramos mais em eventos, shows, festivais…

Além do disco, vocês continuam agilizando anualmente o Goiânia Noise e, ano passado, produziram o Rock na Estrada, uma road trip com quatro bandas de Goiânia que passou por sete cidades de Minas Gerais e São Paulo. Como foi a experiência? Pretendem repetir a dose?
O Rock na Estrada foi uma experiência fantástica e pretendemos sim repetir a dose. Ficamos bem felizes com o resultado da turnê e as bandas mais ainda. O problema é que os custos são altos e precisamos de patrocínios para viabilizar o projeto. Este ano não conseguimos, mas já estamos batalhando para o ano que vem.

Outro lançamento recente foi o documentário “Nas Paredes da Pedra Encantada”, de Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim, sobre o álbum duplo “Paêbirú – Caminho da Montanha do Sol”, da dupla Lula Côrtes & Zé Ramalho. Como rolou a ideia de lança-lo em DVD?
O Cristiano Bastos, diretor do filme, é um amigo de longa data e volta e meia ele vem aqui cobrir nossos eventos. Numa dessas, ele comentou conosco sobre o projeto e logo nos interessamos. O Paêbirú é um puta disco e cercado de lendas. Saber a história desse disco é algo que interessa a todo mundo que curte rock no Brasil. Isso nos animou e sempre curtimos projetos como esse. Além disso, a nossa ideia é de investir mais no que a chamamos de Monstro Filmes, com lançamentos de documentários e filmes ligados ao rock e à música brasileira. Há uma grande carência de registro audiovisual do rock no Brasil. Se conseguirmos nos estruturar, com certeza iremos lançar mais documentários como esse.

Goiânia Noise 2015: o que vem por ai?
Muito rock!!! E este ano, nossa ideia é fazer algo mais underground, mais alternativo. Sentimos que os festivais de rock de hoje se tornaram o mainstream, com atrações que são escolhidas muito mais pelo retorno de público do que propriamente pelo valor artístico. Mas nós nunca sonhamos em ser mainstream. Então, vamos fazer um festival de rock pra quem curte rock. Como sempre fizemos!

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia também:
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– 19º Goiânia Noise honrou a promessa de barulho: felicidade roqueira garantida (aqui)
– Leo Bigode fala do Noise 2012: “É muito gratificante olhar pra trás” (aqui)
– Leo Bigode fala do Noise 2013: “Um festival de rock. Sem hypes, sem modismos” (aqui)
– Leo Razuk fala do Noise 2014: “Nunca imaginei que (o festival) fosse tão longe” (aqui)

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