Para entender: Buffalo Tom

por Leonardo Vinhas

Nostálgicos desde seus primeiros passos, o Buffalo Tom continua a viver o presente com a cabeça e o coração voltados para trás. O trio formado por Bill Janovitz (voz e guitarra), Chris Colbourn (voz, violão e baixo) e Tom Maginnis (bateria) começou seus trabalhos em 1987, teve seu maior sucesso comercial na segunda metade da década de 1990, praticamente sumiu entre 2000 e 2007 para então retornar como revival de si mesmo, com alguns bons momentos criativos e outros nem tanto.

O som do Buffalo Tom é uma lembrança permanente de uma época em que as guitarras predominavam, só que com as melodias à frente dos riffs. Eram parte de uma turma para quem Neil Young importava muito mais que Jimi Hendrix, uma turma que gostava de Rolling Stones e The Who, mas que crescera indo a shows de Dinosaur Jr., R.E.M. e Sonic Youth, e deu um jeito de colocar um pouco disso tudo – e mais uma boa dose de Big Star, Hüsker Dü e underground norte-americano oitentista – em seu som.

Do começo de puro esporro guitarrístico aos arranjos bem-construídos de “Smitten” (1998), muita coisa rolou. É verdade que foi uma trajetória de acontecimentos de poucas surpresas considerando outras bandas contemporâneas: início modesto (“Buffalo Tom”, 1988), transição rumo à identidade (“Birdbrain”, 1990), um disco pleno de personalidade (“Let Me Come Over”, 1992), a maturidade e o sucesso nas college rádios (“Big Red Letter Day”, 1993), um aceno ao que poderia ser um estouro no mainstream (“Sleepy Eyed”, 1996), um álbum ambicioso (o citado “Smitten”), dissolução, coletâneas, retorno sem brilho (“Three Easy Pieces”, 2007) e uma busca sincera pela essência aparentemente perdida (“Skins”, 2011, lançado junto com o EP acústico e gratuito “Bones”). E descontados os trabalhos de 1988 e 2007, apenas para completistas, há pérolas em todos eles, quando não uma obra inteira de brilho inegável, que ultrapassa eventuais timbres datados ou superação da adolescência.

O legado do Buffalo Tom ainda mexe com muita gente. Não só com quem, como a banda, se imbui da nostalgia como modo de vida, mas ouvintes de primeira viagem, que podem se deparar com “Summer”, hit-mor da banda, e ficar obcecado com a canção. E qual será o prazer que alguém entrando na vida adulta terá ao escutar atentamente “I’m Allowed” pela primeira vez? Não seria “Enemy” um mistério a ser descoberto por novas gerações, já que nem as antigas o solucionaram? Quem sabe como soa “Guilty Girls” a quem não tem referência da sonoridade noventista?

O tempo transforma tudo. Algumas coisas melhoram, outras ficam datadas e outras… nostálgicas. Dependendo da sua experiência pessoal e artística, pode ocorrer qualquer uma dessas três opções com a música do Buffalo Tom. Todas são válidas. Ela só não pode ser esquecida.

“Sunflower Suit”: College rock americano, cheio de esporro e distorção, mas com aquela vontade de ter um refrãozinho bacana… Os anos 1990 não haviam chegado ainda, mas o Buffalo Tom se antecipava nessa que é a melhor faixa de seu primeiro álbum (e também single de estreia da banda).

”Larry”: “Esse era o Buffalo Tom da época (1992): só violões, grandes refrões e harmonias suntuosas”, diz Chris Colbourn no encarte da coletânea “A Sides from Buffalo Tom”, de 2000. Poderia ter acrescentado “acordes maiores” e “vocais emocionados”. E era isso mesmo.

“I’m Allowed”: “Summer” pode ter sido o maior sucesso, mas essa é a dona do coração dos fãs de primeira hora. Era uma balada? Um rock sentimental? Um folk pop com distorção? Um pouco disso tudo, e veio ao mundo para falar sobre inadequação e vontade de não ficar só.

“Wiser”: O jogo de vozes – a suavidade aguda de Colbourn e a aspereza grave de Janovitz – nunca dialogaram tão bem quanto nessa balada estradeira, que une Van Morrison e a cena de Laurel Canyon e os traz para os anos 2000. Lindeza!

“Guiding Star”: Versão do original do Teenage Fanclub, “Guiding Star” exprime duas características indissociáveis da personalidade do Buffalo Tom: a seus covers inesperados, em termos de arranjo e repertório, e a eventual voz solo de Chris Colbourn, que também dividia com Bill Janovitz o papel de compositor. As canções de Colbourn ou eram baladas suaves e acústicas, ou power pop com orgulho. Essa brilhante recriação de uma faixa menor de ”Bandwagonesque” entra na última categoria.

– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

Para entender:
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6 thoughts on “Para entender: Buffalo Tom

  1. “Summer” é um treco foda. Fico anos sem ouvir, mas toda vez que ouço, me dá um embrulho no peito. Deve ser aquela guitarra simples, aquele vocal rasgado/gritado e aquela letra que fala sobre dias desperdiçados que não voltam… “When the leaves burn, summer ends”.

  2. Excelente postagem. Uma das melhores bandas dos anos 80|90. Conheci logo no início da MTV no Brasil. Acho Buffalo Tom a cara dos anos 90, uma pena que é um pouco desconhecida por aqui.
    Preferidas:
    Taillights Fade (vc esqueceu de citar essa pérola)
    Wiser (linda, linda, linda, linda)
    Late at night

  3. Muito bom. Lembro bem de ter visto Tangerine no programa da Mtv Gás Total várias vezes. Foi uma boa época – essa de 96, 97 – na emissora.
    Sempre via os cds importados da banda na lojinhas daqui de Belém e nunca comprava por achar caro (na época 24 reais). Logo depois, a banda “terminou” e os A-sides e o B-sides chegaram as lojas por preços módicos. Foi assim que eu virei fã da banda.
    Buffalo Tom, como foi dito acima, é uma banda para ficar-se obcecado. Saudavelmente obcecado, pois a banda é modesta e ambiciosa ao mesmo tempo. Tem o amargo da nostalgia misturado ao doce de suas harmonias; bastando escutar a discografia, coisa tão fácil de se fazer atualmente, para revitalizar uma parte adormecida da nossa formação musical.

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