1965-2015: 50 discos com 50 anos

450beatles.jpg

por Marcelo Costa

50 anos atrás, em 1965, muitos discos clássicos estavam sendo lançados transformando-se em referencia para novas bandas e gerações. Abaixo uma lista que destaca 10 destes grandes discos (optando por selecionar um álbum por artista num período em que o comum era lançar dois, até três discos por ano) e mais 40 grandes álbuns que completam 50 anos em 2015. O mais interessante é perceber que, passado todo o tempo, muitos destes álbuns mantém um frescor que não diz que eles foram compostos no meio dos anos 60.


“Rubber Soul”, The Beatles
1965 foi o ano que marcou o amadurecimento do quarteto de Liverpool. O primeiro passo havia sido dado com “Beatles for Sale”, lançado em dezembro de 1964. No meio de 1965, porém, eles lançaram o “Help”, cuja trilha sonora, apesar de conter canções introspectivas (como “You’ve Got to Hide Your Love Away”), ainda mantinha um forte laço com a primeira fase do grupo. O rompimento aconteceu em outubro, quando o quarteto mais George Martin se enfurnou em estúdio para “Rubber Soul”, que, lançado em dezembro de 1965, foi saudado como a maturidade musical e textual da banda, que iria além nos anos seguintes. “Rubber Soul” é o álbum que traz “Norwegian Wood”, “In My Life” e “Michelle”, esta última influenciada por outro grande disco de 1965 (mais abaixo).


“The Beach Boys Today!”, The Beach Boys
Hoje em dia uma banda lança um disco e passa dois, três, quatro, ás vezes cinco anos sem lançar nada novo. Nos anos 60 era diferente. Se em 12 meses os Beatles lançaram três discos (“Beatles for Sale”, “Help” e “Rubber Soul”), os Beach Boys não ficaram atrás colocando nas lojas “The Beach Boys Today! (em março de 1965), “Summer Days (And Summer Nights!)” (em julho) e o ao vivo (em estúdio) “Beach Boys’ Party!” (em novembro). Dos três, “Today!” é o mais importante por flagrar o amadurecimento (forçado) de Brian Wilson: em dezembro de 1964, Brian sofreu um colapso nervoso e foi medicado com… maconha. O resultado se vê neste disco, em que o gênio abandona temas relacionados a surf e carros apostando em canções mais profundas. O destaque do álbum é “Help Me, Ronda”.


“Highway 61 Revisited”, Bob Dylan
1965 também marca a mudança sonora de Bob Dylan, para desespero dos puristas do folk, que haviam elegido o jovem Dylan (então com 24 anos) ao posto de porta-voz dos direitos civis nos Estados Unidos. Dylan, porém, tinha outros planos, e a mudança sonora (e temática) foi apresentada no primeiro álbum que ele gravou em 1965: após três anos ao violão, Dylan surgia convertido a guitarra em “Bringing It All Back Home”, álbum lançado em março de 1965 e com as icônicas “Subterranean Homesick Blues”, “Mr. Tambourine Man” e “It’s All Over Now, Baby Blue”. Aqueles que acreditavam que o disco refletia apenas um momento passageiro na vida de Dylan foram surpreendidos em agosto de 1965 quando o músico lançou “Highway 61 Revisited”, e cravou o sucesso “Like a Rolling Stone” nas paradas.


“Out of Our Heads“, The Rolling Stones
A discografia inicial dos Stones (do disco de estreia de 1964 até “Between the Buttons”, 1967) sofreu consideráveis mudanças na lista de canções em suas versões britânica e americana. O primeiro disco dos Stones em 1965 foi lançado como “The Rolling Stones No. 2” em janeiro na Inglaterra e “The Rolling Stones, Now!” em fevereiro nos EUA. “Out of Our Heads“, o segundo álbum da banda naquele ano, foi lançado primeiro no mercado americano (em julho) pegando carona no imenso sucesso do hino “Satisfaction”, que abria o lado B do vinil e só chegou às ilhas britânicas em agosto – ficando, inclusive, de fora da versão inglesa do álbum “Out of Our Heads“, lançado em setembro, cedendo lugar a outro hino da banda (que se converteu em um grande sucesso nos anos 90 através de uma versão do Soup Dragons): “I’m Free”.


“A Love Supreme”, John Coltrane
Integrante da lista dos melhores álbuns de jazz de todos os tempos, “A Love Supreme” foi gravado em uma única sessão em 9 de dezembro de 1964, e lançado pelo selo Impulse! em fevereiro de 1965. Acompanhado de Jimmy Garrison (contrabaixo), Elvin Jones (bateria) e McCoy Tyner (piano), John Coltrane gravou um disco altamente espiritual, que marca a luta de um homem (o próprio Coltrane) em busca da pureza e sua gratidão pelo talento inconteste no instrumento, algo que ele dizia ser um reflexo de um poder espiritual que nada tinha a ver com o homem, carne e osso, mas sim com algo mais grandioso. São quatro faixas tão icônicas que fizeram o álbum transcender limites a ponto do manuscrito original estar no National Museum of American History, fazendo parte da coleção do Instituto Smithsonian.


“Here Are The Sonics!!!”, The Sonics
Responsáveis por um dos grandes shows de 2015 em São Paulo, o Sonics lançou “Here Are The Sonics!!!”, seu álbum de estreia, em 1965. Canções emblemáticas que se tornariam hinos do rock de garagem foram prensadas nos 38 minutos deste vinil precioso. Estão presentes aqui “The Witch”, “Do You Love Me” e o grande hino “Psycho” além de versões para “Roll Over Beethoven”, de Chuck Berry, e “Good Golly, Miss Molly”, de Marascalco e Blackwell, grande sucesso com Little Richard. A banda chegou a lançar mais dois discos até dar uma parada em 1969, e fazer pequenos retornos em 1972 e 1980. O mais longo período em atividade do grupo, porém, é o atual: reunidos desde 2007, o Sonics lançou em 2015 um ótimo álbum de inéditas: “This is the Sonics”.


“My Generation”, The Who
Após três singles poderosos em sequencia – “I Can’t Explain” em janeiro de 1965, “Anyway, Anyhow, Anywhere” em março e “My Generation” em outubro –, o Who estava pronto para compilar toda sua força ao vivo e seu apelo radiofônico em um álbum cheio. Surgia “My Generation”, o álbum, que um crítico da Esquire em 1967 definiu como “o álbum de rock mais brutal da história”. Assim como os discos dos Stones e dos Beatles na época, “My Generation” ganhou uma versão britânica e outra americana (“The Who Sings My Generation”), cuja grande diferença foi a ausência nos EUA da versão de “I’m a Man”, cover de Bo Diddley, por seu conteúdo sexual (em sem lugar foi inclusa a canção “Instant Party”). Outro hino (mod) presente no disco: “The Kids Are Alright”.


“Son House: Father of Folk Blues”, Son House
Edward James House Jr. nasceu em 1902 no Mississippi, e após voltar-se ao blues aos 25 anos, abandonando a profissão de pastor de igreja, chamou a atenção de Charles Patton, o artista mais importante do Delta na época, que o convidou para gravar algumas canções em 1930 (da sessão nasceram os 78 RPM “My Black Mama” e “Death Letter“), influenciando nomes como Robert Johnson e Muddy Waters. Son House seguiu gravando (sem sucesso) até 1942, quando desistiu da carreira de músico e mudou-se para Nova York. Cerca de 20 anos depois ele foi reconhecido por jovens fãs de blues que admiravam suas primeiras gravações, e o resultado foi o convite de John Hammond (que havia descoberto Bob Dylan e lançaria Bruce Springsteen) para a gravação deste álbum pela poderosa Columbia em 1965, amplificando o alcance do mito, idolatrado por Jack White (o White Stripes gravou uma versão de “Death Letter“).


“The Angry Young Them”, Them
Formado em Belfast, na Irlanda do Norte, em abril de 1964, o Them é famoso por ter projetado a carreira de Van Morrison, então com 20 anos e assumindo a posição de vocalista e saxofonista da banda. “The Angry Young Them”, o álbum de estreia do quinteto, foi lançado em junho de 1965 com 6 das 14 canções do lançamento britânico assinadas por Van Morrison (nos Estados Unidos o tracking list foi diminuído para 12 faixas), incluindo a clássica “Gloria”, que ganharia versões poderosas do The Doors (presente no álbuns ao vivo “Alive, She Cried” e “In Concert”), do AC/CD (Bon Scott gostava da canção desde quando estava à frente do grupo The Spektors, e incluiu a música no repertório inicial do AC/DC) e, principalmente, de Patti Smith, que abriu seu álbum de estreia, “Horses”, acrescida do poema “In Excelsis Deo”, aquele que diz que “Jesus morreu pelos pecados de alguém, não pelos meus”.


“I Put a Spell on You”, Nina Simone
O ano de 1965 viu o lançamento de três discos de Nina Simone: “Sincerely Nina”, que junta faixas ao vivo em 1964 com alguns números em estúdio; “Pastel Blues”, álbum gravado em Nova York que traz canções como “Nobody Knows You When You’re Down and Out” e “Strange Fruit” e este “I Put a Spell on You”, o mais celebrado devido as definitivas versões de “Ne Me Quitte Pas”, de Jacques Brel, e principalmente da faixa título, canção de Screamin’ Jay Hawkins que ganhou de Nina Simone sua versão mais celebrada, a ponto de influenciar os Beatles (o arranjo orquestral de “Michelle” surgiu após audições de “I Put a Spell on You”) e nominar a autobiografia oficial da cantora, lançada em 1992.

11) “The Kinks Kontroversy”, The Kinks
12) “In the Midnight Hour”, Wilson Pickett
13) “Mr. Tambourine Man”, The Birds
14) “Otis Blue – Otis Redding Sings Soul”, Otis Redding
15) “Solo Monk”, Thelonious Monk
16) “Live At The Regal”, B.B. King
17) “Maiden Voyage”, Herbie Hancock
18) “Coisas”, Moacir Santos
19) “Having a Rave Up with The Yardbirds”, The Yardbirds
20) “My Funny Valentine: Miles Davis in Concert”, Miles Davis
21) “Jovem Guarda”, Roberto Carlos
22) “Going To A Go-Go”, Smokey Robinson And The Miracles
23) “September Of My Years”, Frank Sinatra
24) “The Paul Butterfield Blues Band”, The Paul Butterfield Blues Band
25) “Leader Of The Pack”, The Shangri-Las
26) “Do You Believe In Magic”, The Lovin’ Spoonful
27) “Samba eu Canto Assim”, Elis Regina
28) “The Ventures on Stage”, The Ventures
29) “The Astrud Gilberto Album”, The Astrud Gilberto
30) “Orbisongs”, Roy Orbison
31) “Orange Blossom Special”, Johnny Cash
32) “Begin Here”,The Zombies
33) “Fairytale”, Donovan
34) “Dance Party”, Martha Reeves & The Vandellas
35) “Show Opinião”, Nara Leão, Zé Kéti e João do Vale
36) “Big Ben”, Jorge Ben
37) “Animal Tracks”, The Animals
38) “Town Hall, 1962”, Ornette Coleman
39) “Secrets of the Sun”, Sun Ra & His Solar Arkestra
40) “All I Really Want to Do”, Cher
41) “Maria Bethânia”, Maria Bethânia
42) “The Wailing Wailers”, The Wailers
43) “We Remember Sam Cooke”, The Supremes
44) “Papa’s Got a Brand New Bag”, James Brown
45) “Rock ‘n’ Soul”, Solomon Burke
46) “…E Vamos Nós!”, Jackson do Pandeiro
47) “…And Seven Nights”, John Lee Hooker
48) “O Canto Livre de Nara”, Nara Leão
49) “L’amitié”, Françoise Hardy
50) “Farewell, Angelina”, Joan Baez

50discos.jpg

One thought on “1965-2015: 50 discos com 50 anos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.