Livros: Tó Teixeira, Bebado Gonzo e DK

por Adriano Costa

“Tó Teixeira – O Poeta do Violão”, de Salomão Habib (Violões da Amazônia)
O paraense Salomão Habib é exímio músico, domina como poucos a arte de tocar violão e ainda é compositor, pesquisador e professor. Por mais de duas décadas, Habib se debruçou sobre a obra de Antônio Teixeira do Nascimento Filho, o Tó Teixeira, que nasceu em 13 de junho de 1893 e faleceu em 29 de outubro de 1982, aos 89 anos. Tó Teixeira é um importante nome da cultura paraense, sendo inclusive dele o nome da Lei de Incentivo à Cultura de Belém. Salomão Habib é fã confesso desse músico, compositor de vários estilos que encantava a cidade com seu dedilhar, principalmente na primeira metade do século passado. Essa admiração originou o livro “Tó Teixeira – O Poeta do Violão” (270 páginas), publicado pela Editora Violões da Amazônia em 2013, parte de um projeto maior que inclui também CDs, DVD e um álbum de partituras. É inegável a relevância do resgate feito de um artista apaixonado por música em uma cidade ainda romântica, mesmo que enclausurada dentro das relações sociais da época, que não davam margem para muito sucesso sem a subserviência aos poderosos. “Tó Teixeira – O Poeta do Violão” é relevante por esse fator, porém peca bastante na forma em que o autor usa para explanar os fatos, principalmente quando emite opiniões próprias que exalam não somente uma saudade desmesurada (de um tempo que não viveu) como também certo grau de conservadorismo em relação às possibilidades da música nos últimos tempos. A revisão desleixada chega a incomodar em alguns momentos, mas não tira a importância da obra.

Nota: 6

“Bêbado Gonzo e Outras Histórias”, de Anderson Araújo (Independente)
Em 2012, o jornalista paraense Anderson Araújo iniciou um projeto de crowdfunding com o intuito de publicar o seu primeiro livro. O objetivo foi alcançado e em 2013 foi lançado “Bêbado Gonzo e Outras Histórias”, que compila (de maneira independente) 24 contos e crônicas espalhados em 194 páginas. O nome foi retirado de um blog que o autor mantinha e combina relativamente bem com o teor dos temas escolhidos para os textos que misturam fatos verídicos com pura ficção e que fabricam uma mistura de malandragem, sexo, solidão, azar e cotidiano. Não obstante, os personagens desenvolvidos por Anderson Araújo estão meio cansados da vida ou então se deparam com um obstáculo estranho para ser ultrapassado, porém, esses personagens são sempre envolvidos com uma boa carga de humor e sarcasmo, mesmo que a tristeza fique guardada ali em algum canto, na espreita. Como os contistas de boa estirpe, o autor apresenta ótima desenvoltura, por exemplo, em “O Choro da Pata”, “A Bala Perdida de Carlos Enoque”, “Fim de Festa” e, principalmente, no afiado “22o. Andar”. Ainda que o regionalismo seja utilizado em demasia e prejudique um pouco a visão geral da obra, “Bêbado Gonzo e Outras Histórias” é uma boa estreia que mostra que a literatura do estado continua viva e se defendendo mesmo sem o apoio das grandes editoras.

Nota: 7
Twitter do autor: http://twitter.com/andersonjor

“Dead Kennedys – Fresh Fruit For Rotting Vegetables (os primeiros anos)”, Alex Ogg (Ideal)
O título já escancara logo as intenções do livro escrito pelo jornalista Alex Ogg e com tradução de Alexandre Saldanha. Com 240 páginas e lançado no Brasil em 2014, “Dead Kennedys – Fresh Fruit For Rotting Vegetables (os primeiros anos)” apresenta o início da carreira de uma das bandas mais poderosas do punk. Começando na formação dos Dead Kennedys, as páginas avançam até pouco tempo depois do lançamento do disco de estreia, em 1980, que empresta o nome ao título do livro, deixando de fora a separação em 1986 (esqueça a banda depois disso nas novas formações) e todos os problemas que levaram a crise, principalmente a briga por direitos autorais e méritos de criação entre o vocalista Jello Biafra, o guitarrista East Baty Ray e o baixista Klaus Flouride. Com canções do porte de “Kill The Poor”, “California Über Alles”, “In The Head” e “Holiday in Cambodia”, o álbum evidentemente é o foco mostrando tanto fatos sobre a elaboração e gravação, como também indo além para narrar todo o rebuliço e importância da obra. Repleto de fotos e com ilustrações de Winston Smith (que defende a anarquia gráfica em um capítulo: “Toda arte é propaganda”) “Dead Kennedys – Fresh Fruit For Rotting Vegetables (os primeiros anos)” soma (segundo o autor) 956 aspas de East Baty Ray, 1227 de Klaus Flouride, 1167 de Jelo Biafra e 585 de Bruce Slesinger, ou Ted, o primeiro baterista dos Kennedys. No trecho final, Alex Ogg resgata citações famosas sobre o quarteto de gente como Kurt Cobain (“Seria bem legal se Jello Biafra fosse uma estrela internacional”), Lou Barlow (“Eu tinha 14 anos quando escutei “Holiday in Cambodia” pela primeira vez”), Thom Yorke (“Os Dead Kennedys são mais engraçados que políticos”) e, entre outros, Grant Young, do Soul Asylum, que definiu (pra desespero do vocalista): “Jello Biafra é o Morrissey americano”.

Nota: 7

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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