Boteco: Hamurabi, Branca de Brett e Cafuza

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por Marcelo Costa

Surgida em 2014, a Cervejas Sazonais é a união de forças de três novas pequenas cervejarias paulistas: Noturna, Prima Satt e Serra de Três Pontas. A ideia da união é viabilizar o comercio de suas cervejas buscando atingir um público maior através de uma produção que segue o modelo de “contract brewing”, no qual um micro cervejeiro aluga a capacidade ociosa de uma fábrica de cerveja para que ali se produza suas receitas. Nascidas em 2011 de forma caseira, as cervejarias Prima Satt (de Leonardo Satt) e Serra de Três Pontas (de Bruno Moreno de Brito) vem surpreendendo o público com belíssimas receitas autorais. Como explica o Facebook de um deles, “não somos multimilionários, não temos uma grande estrutura, na verdade nem temos uma cervejaria própria, mas temos muita paixão pela cerveja”. Abaixo você conhece um rótulo da Prima Satt e outro da Serra de Três Pontas, mais a parceria de ambas que rendeu a deliciosa Cafuza. Um adendo: os rótulos são sensacionais.

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Primeira cerveja individual da Prima Satt, a Hamurabi é uma India Pale Lager que homenageia o rei que governou a Babilônia por volta de 1750 a.c. e que criou um conjunto de 282 leis (o Código de Hamurabi), sendo que uma delas definia: aquele que produzisse uma cerveja ruim, seria afogado nela (o belo rótulo foi feito em nanquim e pintado com aquarela). Produzida na fabrica da cervejaria Invicta, em Ribeirão Preto, a Hamurabi India Pale Lager é uma cerveja de coloração dourada e opaca (devido a não filtração) com creme branco de excelente formação e longa permanência (com direito a rendas belgas). No aroma, o destaque vai todo para o lúpulo cítrico, percebido assim que se abre a garrafa, e amplificado na taça em notas frutadas remetendo a tangerina, manga, lichia e leve maracujá. Na boca, textura suavemente picante. O primeiro toque traz bastante cítrico enquanto o amargor subsequente é caprichado e extenso. Na retaguarda, o malte expõe doçura sem tirar a concentração da grande estrela da receita: os lúpulos, que ainda marcam presença no final (amargo e frutado) e no retrogosto, refrescante frutado e delicioso. Uma bela cerveja.

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Novo lançamento da cervejaria Serra de Três Pontas, a Branca de Brett é uma American Wheat cuja receita une lúpulos Mosaic e Citra com a levedura Brettanomyces Trois, que consome tudo que encontra pela frente (o rótulo genial traz uma Branca de Neve zumbi). Produzida na fábrica da Tupiniquim, em Porto Alegre, a Branca de Brett é uma cerveja de coloração amarela com creme branco de excelente formação de excelente formação e média alta permanência (com direito a rendas belgas nas laterais da taça também). No aroma, bastante frutado cítrico (muito mais do que um wheat tradicional) remetendo a abacaxi, acidez de levedura e sugestão de condimentação (pimenta do reino) com o malte na retaguarda, discreto. Na boca, textura frisante. O primeiro toque traz acidez cítrica e, no segundo seguinte, a Bretta devora a atenção do bebedor, auxiliando os lúpulos a acentuarem o amargor (são 40 de IBU muito presentes sugerindo uma Wheat IPA) e inserindo um leve azedinho num conjunto frutado (abacaxi, lima e pêssego) que inibe o trigo, que faz a base pra receita, e desaparece. O final é levemente cítrico e acético. No retrogosto, adstringência, azedinho, cítrico, acético e felicidade. Uau.

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Finalizando esse primeiro post da Cervejas Sazonais com a parceria (já clássica) da Serra de Três Pontas com a Prima Satt, Cafuza, uma Imperial Black IPA de 8.5% de álcool e 110 de IBU que resulta da mistura de uma “Imperial India Pale Ale com maltes escuros de uma Stout”. Na receita, cinco maltes (Pilsen, Maris Otter, Melano, Cara e Carafa) e seis lúpulos (Simcoe, Magnum, Columbus, Citra, Amarillo e Willamette) caprichando em amargor e dry-hopping. Lançada oficialmente no meio de 2014 (mas já produzida em versão caseira desde 2012), a Cafuza é uma cerveja de coloração preta com creme bege escuro espesso de boa formação e permanência. No nariz, uma boa surpresa: é sempre complicado se sobrepor ao malte torrado, mas a alta carga de lúpulos faz bonito apresentando aromas cítricos ao bebedor antes mesmo do tradicional café e chocolate derivados do malte torrado, e perceptíveis na sequencia. Na boca, textura sedosa. O primeiro toque ainda traz a potência dos lúpulos cítricos, que levam o amargor lá pra cima (são 110 de IBU!), mas, na sequencia, o malte torrado mostra sua cara sugerindo chocolate e café. O final é impressionantemente suave (com leve toque de café). No retrogosto, mais café (suave), chocolate e leve cítrico. Aplausos.

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Balanço
Primeira cerveja individual da Prima Satt, a Hamurabi é uma bela surpresa: uma Session Lager aromática, refrescante e bastante saborosa. Na memória gustativa, a DUM Jan Kubis, outra belíssima Lager nacional turbinada por lupulagem, soava mais intensa, e, por isso, marcante, mas esta ótima Hamurabi entra no páreo. Forte concorrente a melhor cerveja brasileira deste primeiro semestre de 2015, a Branca de Brett é um espetáculo. Não há muito mais o que falar desta American Wild Ale entortada por uma levedura rebelde a não ser: procure. Ela é amarga, levemente azeda e apaixonante. Deixe-a provocar o seu paladar. Já a Cafuza, bem, qualquer lista de 10 cervejas brasileiras atuais essenciais sem ela é falha. Simples assim. Segundo o site oficial, a cerveja reflete a “miscigenação brasileira em sua receita, assim como os cafuzos resultaram da mistura índios e negros, nossa cerveja vem da mistura entre uma Imperial India Pale Ale com maltes escuros de uma Stout”. O rótulo, como todos deste post, é magnifico, coroando um grande trabalho independente. A turma está de parabéns.

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Hamurabi India Pale Lager
– Estilo: India Pale Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,60/5
– Preço no Brasil: R$ 16 – 300 ml

Branca de Brett
– Estilo: American Wheat IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,94/5
– Preço no Brasil: R$ 16 – 300 ml

Cafuza
– Estilo: Black IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 4,24/5
– Preço no Brasil: R$ 16 – 300 ml

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eia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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