Boteco: do Líbano, quatro cervejas da 961

por Marcelo Costa

A história da cerveja 961 começou durante os dias negros do estado de sítio no Líbano, em Julho de 2006. Cansados da falta de qualidade da cerveja no Líbano, Mazen Hajjar e seus amigos começaram a produzir cerveja na sua própria cozinha. Os primeiros lotes foram produzidos em chaleiras de 20 litros. Quando a cervejaria iniciou oficialmente sua produção em Mazraat Yachoua, cidade a cerca de meia hora da capital Beirute, era a menor cervejaria do mundo, e a única micro cervejaria no Oriente Médio. De lá pra cá a cervejaria cresceu e produz hoje em dia mais de 2 milhões de litros por ano de 12 receitas divididas entre a linha regular (das quais chegou ao Brasil as versões Porter, Witbier, Pilsen e Porter) e Brewmaster’s Selecet (representada em nossas gondolas pela Lebanese Pale Ale).

A 961 Witbier cuja receita recebe adição de semente de coentro e de casca de laranja libanesa. De coloração amarelo palha com creme branco de boa formação e permanência, a 961 Witbier apresenta um aroma com predominância de notas cítricas picantes (laranja lima e leve limão siciliano) acompanhadas de leve sugestão de trigo, cereais e doçura suave de mel. Há ainda leve perfume floral e percepção de especiarias. Na boca, textura frisante e um primeiro toque carregado de notas cítricas (limão siciliano e laranja lima) e condimentação (semente de cravo). O amargor (cítrico) é pontual abrindo o caminho para um conjunto frutado e cítrico, com leve percepção floral, condimentada e refrescante. A doçura sentida no aroma não surge no paladar, que termina com amargor suave e cítrico. No retrogosto, leve condimentado, cítrico, uma adstringência suave e bastante refrescancia. Interessante.

A 961 Red Ale traz como diferencial o uso de lúpulo norte-americano Amarillo. De coloração âmbar avermelhada com creme bege de boa formação e média permanência, a 961 Red Ale apresenta um aroma notadamente maltado, com boa presença de malte de caramelo dominando o conjunto uma leve sugestão de chá, canela, mel e toffee além de algo floral na retaguarda. Na boca, textura suave. O primeiro toque traz doçura caramelada e a novidade da sugestão frutada (maçã e, bem suave, framboesa), ausentes do aroma. O amargor é leve, mas consegue equilibrar muito bem a doçura, que não é excessiva. O conjunto, interessante, apresenta sugestão de caramelo, mel, frutas vermelhas, toffee, canela, mate e ervas. No final há maltado e frutado (com leve percepção licorosa) enquanto o retrogosto oferece mais doçura (caramelo), frutas vermelhas e leve álcool (são 5.5% na receita). Boa.

A 961 Porter é dedicada na recriação do estilo britânico com malte torrado e lúpulos ingleses. De coloração marrom bem escura com creme bege boa formação e média permanência, a 961 Porter apresenta um aroma típico do estilo, com muitas notas derivadas do malte torrado: chocolate, caramelo e, principalmente, café, mas de forma bastante suave. Há ainda uma leve sugestão de frutas escuras na retaguarda, bem interessante. Na boca, textura suave. No primeiro toque, amplo domínio do malte torrado sugerindo café com leve caramelado. O amargor é suave, e parece derivar mais da torra do que dos lúpulos. Na sequencia, há menos brilho no paladar do que o aroma prevê: leve toque achocolato mais café e baunilha. O final traz algo cítrico (sem intensidade, mas destacável) entre o café e o chocolate, surpreendendo. No retrogosto, café em primeiro plano e caramelo na retaguarda. Simples, mas eficiente.

Fechando o quarteto com a cerveja mais interessante da casa, a 961 Lebanese Pale Ale, cuja receita recebe adição de especiarias típicas do Oriente Médio (e do Líbano): zátar, sumac, hortelã, salvia, erva-doce e camomila. De coloração âmbar caramelada com creme branco de boa formação e média permanência, a 961 Lebanese Pale Ale apresenta um aroma bastante condimentado, com a mistura de zátar em destaque remetendo a orégano, anis e alecrim além de notas herbais trazendo algo de erva doce, camomila e grama molhada. Na boca, a textura é suave enquanto o primeiro toque antecipa a condimentação que toma conta do conjunto, com bastante zátar e herbal se sobrepondo a doçura do malte, que fica na retaguarda, equilibrando o conjunto de forma bastante eficiente. O final é herbal e condimentando (hortelã e anis) enquanto o retrogosto reforça a influência de zátar na receita. Uma proposta interessante.

Balanço
Abrindo o quarteto libanês com uma interessante recriação do estilo belga Witbier, com direito a semente de cravo e casca de laranja. O resultado agrada porque soa refrescante e bastante condimentado, com muito cítrico e pouca doçura. A levedura também ajuda a tornar o conjunto mais arisco do que uma wit tradicional. Gostei. A 961 Red Ale também foi uma boa surpresa, com doçura melada e frutada no ponto, sem soar enjoativa. O final é bem gostoso. A 961 Porter copia muito bem o estilo britânico, ainda que não acrescente nada novo (e tenha um aroma que se sobrepõe ao paladar, o que é complicado). Sem dúvida, a grande estrela da casa é a 961 Lebanese Pale Ale, e ainda que alguns possam estranhar a combinação de zátar com cerveja, o resultado surpreende e agrada.

961 Witbier
– Estilo: Witbier
– Nacionalidade: Líbano
– Graduação alcoólica: 5,3%
– Nota: 2,96/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 11 – 330 ml

961 Red Ale
– Estilo: Red Ale
– Nacionalidade: Líbano
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 2,96/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 15 – 330 ml

961 Porter
– Estilo: Porter
– Nacionalidade: Líbano
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 2,91/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 11 – 330 ml

961 Libanese Pale Ale
– Estilo: American Pale Ale
– Nacionalidade: Líbano
– Graduação alcoólica: 6,5%
– Nota: 3,14/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 15 – 330 ml

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