O mercado do vinil na Argentina

por Andye Iore

Os vizinhos argentinos fãs de discos de vinil estão como os brasileiros: vivem uma euforia pelos bolachões. O comércio de discos está bem movimentado com lojas, colecionadores e muitas opções pela internet. A Argentina tinha um grande mercado de vinis que também foi afetado, como o Brasil, em meado da década de 1990 pelo avanço do CD.

Os jovens sempre foram muitos fãs de Rolling Stones, Queen e Ramones (que influenciaram bandas locais) e os adultos se deliciavam com os vinis de MPB na fronteira brasileira em época de desvalorização do real em relação ao peso argentino. Era comum ouvir nas lojas de discos nas temporadas de férias os argentinos perguntando o que tinha de Chico Buarque na loja, por exemplo. “Dame todo!”, dizia o cliente argentino que saia da loja com sacolas lotadas de fitas cassete e vinis.

Hoje a situação é diferente. O mercado na Argentina tem duas curiosidades em relação ao mercado brasileiro. A primeira são discos mais caros. Até mais que os norte-americanos em dólar hoje para os brasileiros. Por exemplo, um disco usado em edição argentina do Ozzy Osbourne, “Bark at The Moon”, pode custar em torno de US$ 30 (quase R$ 95). Um disco importado novo do Joy Division pode custar aproximadamente US$ 70 (quase R$ 220).

E a segunda curiosidade é que muitos dos discos lançados por selos argentinos têm os títulos traduzidos para o espanhol – no exemplo acima, o disco “Help!”, dos Beatles, é traduzido para “Socorro!”. No selo do vinil, “Ticket to Ride” se transforma em “Bolero para Passear”.

O que, por um lado, seria a valorização cultural do país, por outro nem sempre é bem aceita entre os colecionadores. A tradução dos nomes das bandas, títulos dos discos e das músicas começou por uma lei na época da ditadura militar e seguiu até meados da década de 1990. O que também influenciou as bandas, porque poucas gravam em inglês, com a maioria cantando em espanhol.

Reaquecido, o mercado de vinis na Argentina começa a gerar novos colecionadores. O Projeto Zombilly, parceiro do Scream & Yell, entrevistou três colecionadores argentinos que também vendem discos atualmente. Eles falaram sobre como anda o mercado fonográfico no país, sobre os preços e opções nas garimpagens, entre outros assuntos como a tradução dos títulos. “Os discos até a década de 1980 eram traduzidos. Eu prefiro os nomes originais. Acho que é melhor para a obra”, opinou Pablo José, da Scatter Records. “Isso acontecia quando os discos eram editados aqui. Eu não gosto. É como colocar alguém para dublar a voz em espanhol”, disse o colecionador Hernan “De Vinilos Coleccionista”. Já o músico e colecionador Lee Urso brinca com a situação. “Aqui, as traduções são comuns. Pessoalmente, não me incomoda. Às vezes, até me divirto ver as traduções nos discos. Como a música “Honey Hush”, do Johnny Burnette, que virou “Taponcito de Miel”.

Como esta o mercado de vinil em Argentina?
Lee Urso – Aqui podemos dizer que o mercado está em seu melhor momento. Nos últimos dois, três anos cresceu muito o colecionismo de vinis na Argentina. Há alguma coisa de moda e de reculturização do disco de vinil.

Pablo José – Está acontecendo um boom do vinil, como no resto do mundo. Há poucos discos novos e um forte mercado de discos usados, de edições argentinas, de quando existia fábrica de discos aqui. Isso é muito interessante. Há muita gente interessada e envolvida no colecionismo fonográfico.

De Vinilos Colecionista – O mercado argentino não está no seu melhor momento. Há barreiras para as importações. A maioria dos discos acessíveis é dos que sobraram de outras épocas. De qualquer maneira, há muito interesse por discos novos e usados. E cada vez mais colecionadores.

Como é o preço em comparação com o dólar?
Lee Urso – Aqui eu acho que passa um do pouco do que custa em outros países no geral. Mas varia muito. Você pode encontrar uma copia do “End of The Century”, dos Ramones, por US$ 40, US$ 50, US$ 80… assim sem limites.

Pablo Jose – No geral, os preços dos discos de vinil novos são caros em relação a Europa e Estados Unidos. Uma media entre US$ 50 e US$ 60. Os discos usados na faixa entre US$ 20 e US$ 40.

De Vinilos Colecionista – Diria que numa relação em dólar, os discos aqui custam entre o dobro e o triplo do que custam em outros países.

Tem muitas lojas na Argentina que vendem discos de vinil?
Lee Urso – Sim! Tem muitas lojas de discos e, por sorte, lojas históricas com mais de 30 anos que seguem abertas até hoje.

Pablo Jose – Há várias lojas que recomendo. Como a clássica Abraxas, passando pela Exiles Records, Oid Mortales, Rock & Freud e a Anthology.

De Vinilos Colecionista – Havia lojas pequenas que fecharam e algumas novas em menor quantidade.

Como você trabalha com discos de vinil?
Lee Urso – Eu coleciono todos os formatos. Discos de 78 RPM, compactos de 33 e 45 RPM, discos de 10” e long plays. A maioria dos meus discos é de rockabilly e blues primitivos, também de boogie woogie, jazz, tango e algumas bandas clássicas da década de 1970 e do final da de 1980.

Pablo Jose – Temos uma pequena coleção de 400 discos de vinil e uma loja online com títulos, na maioria, novos.

De Vinilos Colecionista – Eu coleciono e vendo discos. Coleciono rock clássico, alternativo, pos punk e alguma coisa de jazz.

É fácil encontrar discos das décadas passadas na Argentina?
Lee Urso – Esses são os mais difíceis de achar. Especialmente das décadas de 1950, 1960 e 1970. Se encontra alguma coisa, mas os da de 1950 são muito difíceis.

Pablo Jose – Sim. Porque a Argentina produzia discos até a década de 1990. Então, há boas oportunidades para achar bons discos. Por exemplo, consegui um disco edição argentina da época do primeiro álbum dos Trashmen em excelente estado. Ele estava numa pilha de discos de tango. É questão de tempo e paciência para encontrar coisas boas.

De Vinilos Colecionista – Depende do que procura. Os discos do Queen estão em todos os lugares. Mas os discos raros são cada vez mais difíceis de achar porque eles vão para as mãos dos colecionadores que não costumam vender.

OS ENTREVISTADOS:
Lee Urso, 44 anos, baterista da banda Los Primitivos, de Buenos Aires.
COLEÇÃO: mais de 800 discos.
DISCO RARO: “Johnny Burnette Rock´n´Roll Trio”, edição original de 1956.

Pablo José Hierro Dori, 39 anos, proprietário da Scatter Records, de Buenos Aires.
COLEÇÃO: 400 discos
DISCO RARO: The Trashmen, “Surfin’ Bird”, de 1967.

Hernan “De Vinilos Coleccionista”, 28 anos, engenheiro de som, de Buenos Aires.
COLEÇÃO: 300 discos
DISCO RARO: “Velvet Undergorund & Nico”, edição francesa de 1971.

– Andye Iore (@andyeiore) é jornalista em Maringá e Cianorte (PR), fã de Cramps desde 1986 quando ouviu “Surfin’ Dead” no filme “A Volta dos Mortos Vivos”. Apresenta o Cinema na Música na rádio Música FM de Cianorte (89,9 FM) e o Zombilly no Rádio na UEM FM (106,9) e na Alma Londrina (www.almalondrina.com.br) além de ser responsável pelo site Zombilly.

Leia também:
– Rolling Stone Argentina lista as 10 melhores lojas de discos de Buenos Aires (aqui)
– Turismo: onde encontrar CDs e vinis em Amsterdam (aqui)
– Sete lojas de CDs e vinis na Europa (aqui)
– Onde comprar CDs na Europa,(aqui)
– Sebos e lojas bacanas de CDs e DVDs em São Paulo, (aqui)
– Alta Fidelidade: algumas lojas de vinis brasileiras, especial para a revista GQ (aqui)
– Comprando vinis com Robert Crumb em São Paulo (aqui)
– Onde comprar CDs em Buenos Aires (aqui)
– Lojas bacanas de CDs e vinis em Nova York e Chicago (aqui)

2 thoughts on “O mercado do vinil na Argentina

  1. Em 96 foi lançado na Argentina um CD do instrumentista brasileiro lafaiete você teria este CD se tiver possibilidade de emcronta favor entra em contacto comigo moro em SP Capital fone 11 95333 4446

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.