Gross: Tenho sorte de fazer o que amo

por Marcos Paulino

Guitarrista da banda Cachorro Grande, o músico Marcelo Gross resolveu recuperar diversas canções que estavam em sua gaveta para criar um projeto paralelo. O álbum “Use o Assento Para Flutuar”, lançado no final de 2013 e primeiro de sua carreira solo, já foi apresentado ao vivo em várias cidades. Nos shows, Gross tem a companhia do baterista Clayton Martin (Cidadão Instigado) e do baixista Fernando Papassoni (Detetives).

O disco teve seu título retirado de um aviso comum, mas que, para Gross, pode conter diversos significados. “O nome do disco tem a ver com viajar sem sair do lugar, e a música pode proporcionar isso. Esse nome me veio à cabeça porque toda semana viajo de avião e vejo aquela etiqueta nos assentos. Achei interessante as várias interpretações ao que inicialmente deveria ser apenas um aviso”, filosofa.

O CD foi lançado pela gravadora Monstro Discos e, em vinil, pelo 180 Selo Fonográfico. O LP duplo foi editado em 45 RPM e prensado pela GZ Vinyl, na República Checa, considerada a maior fabricante de vinis do mundo. Na entrevista a seguir, Gross fala ao PLUG, parceiro do Scream & Yell sobre esse trabalho, e faz questão de reiterar: “Tenho a sorte de fazer o que amo”.

Faz pouco mais de um ano que você lançou seu primeiro disco solo. Como você sentiu a repercussão desse trabalho?
Foi bem bacana. Escrevo em grande quantidade e tinha vontade de fazer um projeto solo. A Cachorro Grande tem feito um trabalho mais contemporâneo, uma mistura do rock com música eletrônica, e eu tinha coisas guardadas mais voltadas às raízes do rock, a um rock mais puro, mais cru. As canções do disco solo são mais pessoais. Também queria ter a experiência de trabalhar mais sozinho, e cair na estrada quando a Cachorro Grande não estivesse em turnê.

Realmente, o disco solo lembra a Cachorro Grande “das antigas”. Foi realmente a oportunidade de retomar aquele som tão característico da banda?
É, porque o som antigo da banda era mais eu quem compunha, junto com o Beto (Bruno, vocalista). Depois abrimos mais a parceria com os outros membros. Aquele som é o som da minha vida, que ouvi a vida inteira. Moldei esse som para o início da banda, que era uma época em que compunha mais. Em função disso, o som do disco solo é parecido com o do início da Cachorro Grande, que acabou virando uma marca registrada.

Iniciar um projeto para preencher as datas em que a sua banda não está trabalhando parece coisa de workaholic. Você é assim mesmo?
É que tenho a sorte de fazer o que amo. Nesse sentido, quanto mais trabalho eu tiver, melhor. É também uma necessidade artística de colocar essas coisas pra fora. Escrevo muito e, dentro disso, tem umas coisas mais eletrônicas, tem baladas, uns rocks mais agitados. O rock’n’roll está fazendo 50 anos e é tão amplo de possibilidades que você pode explorar nas composições, e pra mim é fascinante trabalhar com todas essas facetas.

A Cachorro Grande lançou um disco novo recentemente, “Costa do Marfim” (2014). Dá pra conciliar numa boa a sua carreira solo com a da banda?
Faço meu trabalho solo quando a banda está de férias. Tem uns períodos em que a banda está sem show e também aproveito pra divulgar meu projeto solo.

Quando um membro de uma banda consolidada lança um trabalho solo, pode acontecer de os fãs receberem com má vontade. Como os fãs da Cachorro Grande receberam seu disco?
A galera curtiu pra caramba. Quem é fã mesmo acaba achando interessante, porque é mais uma novidade dentro daquilo que a pessoa gosta. Eu, por exemplo, gosto de Mutantes e me interesso pelo trabalho do Arnaldo Batista. Gosto dos Beatles e dos discos solos dos quatro. Aos poucos, a galera vai conhecendo meu som, é como se fosse uma banda nova, e isso pra mim é completamente revigorante. E também é um desafio, porque na banda só toco guitarra, e no meu show tenho que cantar também. Como diria o Zeca Camargo pro “Fantástico”, também é uma história de superação. [Risos]

O projeto solo te dá a chance de reviver um pouco o começo da carreira, tocando em palcos menores, para um público nem sempre formado por fãs?
É, é bacana. A Cachorro Grande está há 15 anos na estrada, tocamos em festivais, shows grandes. Neste projeto, em que tocamos como trio, temos uma aproximação maior com a galera. É legal voltar aos inferninhos, aos pubs, a lugares onde dá pra ficar cara a cara com o público. É um dos motivos pelos quais fiz essa parada também.

Você está planejando outros projetos pra sua carreira solo?
Já estou planejando, separando algumas canções pra fazer o próximo disco. E também estou escrevendo músicas novas, porque a intenção é levar essa carreira solo adiante, não parar mais. Talvez este ano já dê pra gravar o novo disco.

Seus colegas da Cachorro Grande estão curtindo esse seu projeto?
Bastante, a galera me apoia e me dá pra força pra continuar.

– Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira.

Leia também:
– Marcelo Gross (2013): “A ideia é não parar de tocar e ficar na estrada sempre” (aqui)

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