Boteco: duas belgas da Brouwerij Van Steenberge

por Marcelo Costa

Fundada em 1784 em Ertvelde, cidade com menos de 9 mil habitantes ao lado da fronteira com a Holanda e a menos de 20 minutos da importante Gent, a Brouwerij Van Steenberge possui um catálogo cervejeiro notável, do qual se destacam a Gulden Draak, a Piraat, a Bornem e, desde 2012, a Celis White, com receita do criador da Hoegaarden, Pierre Celis. A história da Brouwerij Van Steenberge com o mosteiro da Ordem de Santo Agostinho, em Gent, começa em 1978, quando os padres decidiram terceirizar a produção de uma elogiada cerveja que eles produziam desde 1295, a Augustijn Blonde. Um dos motivos da escolha dos padres foi o fato da cervejaria se localizar bastante próxima do mosteiro, e, 30 anos depois, eles autorizaram o pessoal da Brouwerij Van Steenberge a investir em novos rótulos, nascendo assim a Grand Cru e Augustijn Brune, ambas lançadas em 2009. Abaixo, duas delas.

Com uma receita que tem mais de 720 anos, ainda que adaptada a partir do momento que Brouwerij Van Steenberge assumiu a produção e instituiu a segunda refermentação na garrafa, a Augustijn Blonde é, segundo o site oficial, uma cerveja que quando verde (nos três primeiros meses) exibe um aroma frutado e lupulado, e a partir disso o paladar fica mais pronunciado. Este exemplar, “vencido” há alguns dias, é do segundo grupo e exibe uma coloração âmbar caramelada levemente turva com creme suavemente alaranjado de ótima formação e longa permanência. No nariz, notas adocicadas frutadas encantadoras remetendo a caramelo e calda de pêssego. Há ainda notas florais, sugestão de condimentação e leve percepção dos 7% de álcool. Na boca, a experiência se amplia com bastante caramelo, frutado (pêssego) e leve pimenta do reino, sem aparição do álcool, muito bem aconchegado no conjunto. O final é caramelado, frutado e levemente alcoólico. No retrogosto, picancia, acidez e amor. Delícia.

A Augustijn Grand Cru é aposta recente da Brouwerij Van Steenberge, uma Belgian Golden Strong Ale de 9% de álcool. De coloração no meio do caminho entre o dourado e o âmbar, a Augustijn Grand Cru exibe um creme com ótima formação e permanência. No aroma, um oceano frutado encantador que apresenta notas que remetem a banana, damasco, leve limão além de sugestão de torta de maçã. Há ainda leve percepção de acidez (que a aproxima de um champagne no aroma), notas florais e caramelo. Na boca, assim como na versão Blonde, o perfil se amplia animadamente: o primeiro toque traz doçura rápida ao qual é acrescentada frutas cítricas (maçã, uva e limão) e leve sugestão de champagne. Há acidez, floral, biscoito, banana e álcool, este último muito bem inserido, sem agredir. O final é frutado (lembrando muito champagne), cítrico e levemente alcoólico. No retrogosto, frutas cítricas (uva e maçã). Delícia (parte 2).

Balanço
Como é bom beber uma boa cerveja belga depois de 20 alemãs (sabe como é: começo de ano no Brasil, e o verão de janeiro torna praticamente impossível beber uma belga). Essa Augustijn Blonde é bem gostosa, e, ainda que aroma e paladar não ofereçam a complexidade de uma trapista, consegue colocar um sorriso no rosto do bebedor. Ainda que mais nova que a Blonde, a Augustijn Grand Cru me pareceu mais interessante, com bouquet mais amplo, complexo e aprofundado, inclusive aproximando o conjunto de champagne. Outra cerveja que investe no quesito felicidade do bebedor, mas não bobeie com ela, porque ela pode te passar a perna (hehe). Gostei.

Augustijn Blonde
– Produto: Belgian Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,50/5
– Preço pago no Brasil: R$ 9,90 – 330 ml

Augustijn Grand Cru
– Produto: Belgian Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3,58/5
– Preço pago no Brasil: R$ 9,90 – 330 ml

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