Boteco: A série Unleash The Yeast da Brewdog

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por Marcelo Costa

Outro grande projeto dos escoceses malucos da Brewdog, a série Unleash The Yeast busca valorizar “os heróis desconhecidos, os soldados da revolução (…), as bilhões de células de levedura minúsculas que trabalham incansavelmente para fermentar os açúcares em álcool e CO2”, avisa o rótulo. E não só isso: a levedura tem o poder de mudar radicalmente o aroma e o sabor de uma cerveja. Por isso, tal qual a série IPA is Dead (com receitas de mesma base com lúpulos diferentes), a Brewdog preparou uma receita de Pale Ale com maltes Maris Otter, Crystal, Caramalt e Munich mais lúpulos Centennial e Amarillo, e colocou quatro leveduras extremamente diferentes para trabalhar nesse conjunto: Pilsen Lager, American Ale, Bavarian Weizen e Belgian Trappist. O resultado, interessantíssimo, você lê abaixo.

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Abrindo o quarteto da série Unleash The Yeast com a levedura mais usada no mundo, Pilsen Lager, que você irá encontrar nas cervejas mais consumidas do mercado. Levedura de baixa fermentação, seu nome científico é Saccharomyces Pastorianus, homenagem ao cientista francês Louis Pasteur. A Brewdog Unleash The Yeast Pilsen Lager apresenta uma coloração âmbar caramelada com leve toque alaranjado. O creme é branco, de boa formação e média permanência. No aroma, suave, predominam doçura de mel e caramelo (derivadas de malte), e leve herbal (pinho, ervas e feno), sem muita profundidade. No paladar, doçura caramelada e amargor cítrico surgem juntos no primeiro toque com a presença característica da levedura lager, valorizando o malte, surpreendendo o bebedor. O amargor é assertivo, suavemente cítrico e longo, mas a doçura (mel e caramelo) consegue contrabalancear bem o conjunto, que termina maltado, cítrico e amargo. No retrogosto, amargor cítrico persistente e leve mel.

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Na segunda garrafa, o exercito de leveduras é norte-americano, American Ale, e, segundo o blog oficial da Brewdog, dentre as milhares de possibilidades, eles escolheram trabalhar com a levedura WY1272 American Ale II (também usada na Libertine Black Ale e na Hardcore IPA). De coloração âmbar caramelada com turbidez aparente e creme levemente bege de boa formação e permanência, a Brewdog Unleash The Yeast American Ale apresenta um aroma bastante frutado cítrico, com maracujá em destaque, mas presença também de doçura de pêssego, damasco e mamão. Há leve sugestão de caramelo e resina. No paladar, equilíbrio entre frutado cítrico (maracujá e damasco) e resina, com leve caramelo na retaguarda, marcam o primeiro toque. O amargor é comportado e o conjunto parece abrir mais espaço para malte e lúpulo, com caramelo, resina e maracujá bastante presentes. O final é levemente caramelado, cítrico e amargo (uma delícia) enquanto o retrogosto traz caramelo e maracujá. Campeã.

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No terceiro experimento, as leveduras são do estilo alemão Bavarian Weizen, e se a receita parecia combinar perfeitamente com a levedura anterior (American Ale), aqui a coisa muda de figura construindo um perfil completamente diferenciado… ainda que instigante. De coloração âmbar caramelada com turbidez aparente e creme levemente bege de boa formação e permanência, a Brewdog Unleash The Yeast Bavarian Weizen apresenta um aroma com toques frutados cítricos puxados para o limão assim como também para… banana. Há bastante sugestão de bubblegum, resina bem no fundo, cravo e acidez derivada de levedura (a primeira das três que aparece mais identificável no conjunto). No paladar, porém, ele se aproxima um pouco mais das versões anteriores, com malte de caramelo, amargor moderado (mais que na American Ale, menos que na Pale Lager), cítrico, leve resinoso e as sugestões tradicionais de banana e cravo. O final é levemente terroso, azedo e amargo. No retrogosto, resina e banana.

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Fechando o pacote com a levedura que trabalha em algumas das melhores cervejas do mundo, Belgian Trappist, e que soa subaproveitada em uma receita de base American Pale Ale. De coloração âmbar caramelada translucida e creme branco com toques alaranjados, a Brewdog Unleash The Yeast Belgian Trappist apresenta um perfil aromático bastante tímido, o que impressiona para uma levedura acostumada a ser destaque em suas receitas. Há leve toque frutado, herbal mais presente (grama e pinho) resina e sugestão de madeira. Pra não dizer que a levedura não traz nada ao conjunto, é possível perceber, bem no fundo, um toque arisco de condimentação. Na boca, porém, a levedura parece mais presente trazendo condimentação (pimenta), sugestão terrosa e frutado que remete a banana passada, pessego e lichia. Há, ainda, amargor cítrico médio e doçura de açúcar mascavo. O final traz caramelo, terroso, amargor suave e leve pimenta. No retrogosto, leve amargor frutado e terroso.

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Balanço
Optei abrir o quarteto com a levedura mais usada no mundo, e a minha sensação é de que a base de malte e lúpulo a carrega para um conjunto de American Pale Ale, ainda que ela remeta levemente a uma Bohemian Pilsener. Senti a presença da levedura mais no paladar do que no aroma, e o conjunto me agradou bastante. A segunda garrafa trazia a levedura American Ale, e o conjunto pareceu mais redondo que na versão anterior, com mais equilíbrio entre doçura e amargor, e valorização de malte e lúpulo, rendendo uma bela American Amber Ale que poderia ser oficializada no cardápio da casa. A terceira foi, até então, a mais estranha do conjunto, porque trazia muitas das características de uma weizen, ainda que não tivesse trigo na receita. Ou seja, é um Amber Ale feita com levedura de weizen. A maluquice toda rende uma cerveja difícil, e provocante. Gostei. Para fechar o quarteto, a mais esperada por mim foi a que mais me decepcionou: a junção de uma base APA não conseguiu tirar o melhor da levedura Belgian Trappist, e ainda que a cerveja seja boa, é inferior as demais do kit, mas o teste valeu a pena exatamente para perceber isso. Afinal, as cervejas não vêm sendo feitas há séculos com a mesma combinação à toa. Alemães descobriram as vantagens de uma levedura Bavarian Weizen em combinação com a maneira que aprenderam a fazer cerveja. O mesmo pode ser dito das outras, todas leveduras muito personais num projeto excelente da Brewdog.

Brewdog Unleash The Yeast Pilsen Lager
– Produto: American Amber Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,3%
– Nota: 3,40/5

Brewdog Unleash The Yeast American Ale
– Produto: American Amber Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,3%
– Nota: 3,55/5

Brewdog Unleash The Yeast Bavarian Weizen
– Produto: American Amber Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,3%
– Nota: 3,43/5

Brewdog Unleash The Yeast Belgian Trappist
– Produto: American Amber Ale
– Nacionalidade: Escócia
– Graduação alcoólica: 6,3%
– Nota: 3,24/5

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