Entrevista: The Bambi Molesters

por Andye Iore
Colaboração: Marcelo Costa

As duas bandas mais bem sucedidas da surf music contemporânea mundial são a norte-americana Man or Astroman? e a croata The Bambi Molesters. Formada em 1994 em Sisak, na Croácia, The Bambi Molesters tem influencia de garage rock e da surf music clássica da década dos anos 60. Em apenas quatro discos (entre 1998 e 2010), a banda saiu de uma restrita cena de surf music croata para conquistar fãs em todo o mundo com uma sonoridade melódica e shows bem agitados, o que acabou rendendo sempre boas resenhas na imprensa musical mainstream.

Um grande impulso na carreira foi abrir shows da tour do R.E.M. em 1999. Outra abertura de destaque na história da banda foi para The Cramps, uma de suas influencias, e cujo vocalista, Lux Interior, era fã declarado dos croatas.

The Bambi Molesters foi aumentando seu público com tantas boas referencias e chegando a situações não muito comuns a bandas de rock undeground. Como ter músicas nas trilhas da novela brasileira “Bang Bang” e na serie televisiva “Breaking Bad”, e ser capa da Rolling Stone croata. Além de ter participado de um tributo ao mestre Link Wray. Abaixo, o guitarrista Dinko Tomljanovic fala sobre a turnê brasileira e os 20 anos do The Bambi Molesters.

Vocês estão juntos há 20 anos: como é ter uma banda por tanto tempo?
Tem sido ótimo tocar e viajar por 20 anos e não mudaríamos nenhum milimetro o percurso! Nós apenas seguimos nosso próprio ritmo, pois não tínhamos nenhuma expectativa no início, mas continuamos a fazer música, conseguindo entreter a nós mesmos e às pessoas que conhecemos ao longo do caminho. Fomos perserverantes e descobrimos logo no início que fazer música é uma das coisas mais agradáveis a que uma pessoa poderia se dedicar em seu tempo neste planeta.

Como é a cena para a surf music na Croácia?
Antes de começarmos a banda, esse tipo de som era praticamente esquecido na Croácia. Éramos a única banda a fazer este tipo de som até poucos anos atrás. Agora há algumas outras bandas tocando. E pode ser, em parte, por nossa causa. É claro que, durante o começo da década de 60, a cena instrumental, embora não exatamente surf, era forte no país. Principalmente por causa da enorme influência do The Shadows. Havia bandas como Bijele Strijele e Atomi criando uma nova explosão de guitarras na juventude. Mas essa cena logo terminou. Nós começamos em 1994 ouvindo a velha surf music norte-americana e tentando fazer a nossa própria versão.

Quais são as suas expectativas para tocar no Brasil?
Sempre que tocamos, tentamos levar emoção e bons momentos para o nosso público. Por isso esperamos fazer o mesmo no Brasil. Fazemos muitos shows grandes na frente de um público totalmente novo e desconhecido. E, na maioria das vezes, conquistamos o público no final do show. E sempre somos chamados de volta para tocar um pouco mais. Gostamos de pensar que concertos devem ser versões modernas de antigos rituais em que as pessoas vão para aproveitar-se das coisas mundanas da vida e se conectar com os reinos mais elevados de experiência espiritual. Assim como um carnaval, realmente. 🙂 Então esperamos ter muita diversão no Brasil, mesmo que essa seja a primeira vez.

Você tem algum interesse específico em ver no Brasil, como praias, conhecer pessoas, bandas…
É claro que, além de tocar, estamos muito contentes porque conheceremos pessoas no Brasil. Queremos ver um pouco da bela paisagem brasileira, pelo que o Brasil é famoso, e que só vi em fotos até agora. Esperamos também experimentar a boa comida e as bebidas brasileiras. E, pelo menos, mergulhar os pés no oceano Atlântico.

Vocês vão fazer uma turnê no Brasil, o que é muito difícil com bandas do seu estilo… mesmo as bandas brasileiras tem dificuldade de fazer tours aqui. Vocês não se importam de tocar em lugares pequenos?
Não importa quão grande ou pequeno o público ou o clube é. Vamos tentar fazer o nosso melhor para divertir. Começamos também tocando em pequenos clubes. Por isso estamos acostumados a isso – ainda que, nos últimos anos, nós estejamos tocando em lugares maiores. Na maioria destes pequenos clubes o público é muito receptivo, o ambiente é ótimo para tocar e alguns dos nossos maiores shows aconteceram em tais situações.

Qual será a formação na turnê brasileira?
Infelizmente, nossa amada baixista Lada quebrou a mão há alguns dias. Portanto, nosso amigo multitalentoso Luka Bencic, da excelente banda croata My Buddy Moose, vai tocar conosco nessa tour. Ele já tocou baixo com a gente antes. Ele sabe o que faz e temos certeza que ele se sairá bem. O resto de nós é: Dalibor na guitarra, Dinko na guitarra e Hrvoje na bateria.

Como será o set do Bambi Molesters na turnê brasileira?
Vamos tocar nosso set list habitual com nossas maiores canções e alguns covers cuidadosamente escolhidos, o que agradou nosso público e a nós também ao longo dos anos. Esperamos que público brasileiro goste.

O Brasil tem muitas bandas de surf music … você sabe algo sobre as bandas brasileiras?
Como estamos indo pela primeira vez, realmente não conhecemos bandas brasileiras de surf. Mas, a julgar pelo grande história de todos os tipos de música brasileira, não haverá surpresa se nós encontrarmos grandes bandas de surf no Brasil.

Todas as bandas brasileiras de surf music vivem no underground e não tem espaço na mídia, não vendem muitos discos … isso é uma coisa comum para esse gênero?
Como em qualquer lugar, neste momento, em comparação com outros gêneros, a surf music é relativamente menor. Mas nós provamos que, se dedicando muito, ainda se pode viver disso. É apenas um gênero musical como qualquer outro. Mas é claro que é preciso boas composições, inspiração e persistência em sua própria banda para realmente sobreviver. Começamos a nossa banda por amor pela música. Provavelmente todas as outras bandas fazem o mesmo. Sem o amor pela música não haveria nada. Todas as outras coisas (como cobertura da mídia e vendas) virão para você se você colocar o seu coração na música.

Você sabe que em 2004 uma canção do Bambi Molesters foi usada em uma trilha sonora de uma novela, e que nunca bandas de rock com o som de vocês conseguem esse espaço?
Sim, nós ficamos muito emocionados e agradavelmente surpreendidos quando a nossa música foi escolhida para ser tema em “Bang Bang”. Uma exposição na mídia como esta é um grande apoio, um reconhecimento que nos faz continuar e a certeza de que estamos fazendo a coisa certa.

Depois vocês emplacaram uma música em “Breaking Bad”…
Nós sempre pensamos que muitas de nossas músicas tinham um bom potencial cinematográfico. Dalibor disse certa vez que, quando está compondo, está tentando fazer trilhas sonoras para as imagens e cenas que ele tem em sua cabeça, de quando ele estava crescendo, ou imaginando a vida nos anos 60 na Califórnia. Isso foi comprovado quando nossas músicas apareceram em “Bang Bang” e “Breaking Bad”, fomos surpreendidos com alegria.

Como está a surf music hoje, quais países têm bons bares, bandas e público para esse gênero?
Temos tocado principalmente em torno da Europa e nas cidades maiores ainda há muitas bandas boas, clubes e público para este tipo de música se manter viva. Especialmente na Alemanha, Itália, Espanha e Inglaterra. Isso continua a tradição dos anos 60, quando a cena de música instrumental e garage era realmente forte.

O que está previsto para o futuro do Bambi Molesters?
Nós pretendemos fazer um novo disco em breve. Se o tempo permitir, provavelmente este ano. Temos a certeza que teremos boas lembranças desta turnê no Brasil e vamos usar isso como inspiração para compor algumas boas novas melodias.

– Andye Iore (@andyeiore) é jornalista em Maringá e Cianorte (PR), fã de Cramps desde 1986 quando ouviu “Surfin’ Dead” no filme “A Volta dos Mortos Vivos”. Apresenta o Cinema na Música na rádio Música FM de Cianorte (89,9 FM) e o Zombilly no Rádio na UEM FM (106,9) e na Alma Londrina (www.almalondrina.com.br) além de ser responsável pelo site Zombilly.

2 thoughts on “Entrevista: The Bambi Molesters

  1. Vi o primeiro show, no Sesc Bauru. Nunca tinha ouvido falar da banda e sequer vi algum vídeo no youtube ou coisa do gênero antes de ir pro show… Voltei com os 4 vinis pra casa… Muito bom o som, os timbres de guitarra, os climas… Pra mim, foi uma bela descoberta…

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