Boteco: da Alemanha, quatro Berliner Weiße

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por Marcelo Costa

Entre os séculos 16 e 19, a Berliner Weiße era a bebida alcoólica mais popular da Alemanha com cerca de 700 fábricas a produzindo para abastecer o mercado. Após duas grandes guerras, que devastaram a cidade, e a chegada de cervejas concorrentes (menos agressivas) da Baviera apresentando outros estilos ao público, a produção da Berliner Weiße caiu vertiginosamente a ponto de, hoje em dia, apenas duas fábricas em Berlim (da mesma empresa) a produzirem seguindo as receitas tradicionais. Porém, basta chegar o verão para que a Berliner Weiße retorne aos supermercados e a mesa dos bares berlinenses. Seu processo de produção inclui a adição de bactérias (Lactobacillus) na segunda fermentação com o intuito de deixa-la ácida e efervescente (como um champanhe). O resultado é uma cerveja de trigo de ataque violentamente seco e amargo, mas com um final levemente frutado.

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As principais características de uma Berliner Weiße são seu baixíssimo nível alcoólico (3%) e sua intensa acidez, que impressionou o exército de Napoleão, que a apelidou de “champanhe do Norte”. Seu baixo nível alcoólico privilegia seu consumo no verão e sua enorme acidez fez com que os berlinenses misturassem xaropes de frutas e/ou ervas para abrandar seu ataque, criando uma espécie de drink, que pode tanto ser feito na hora como é vendido pronto em supermercados (nas garrafas abaixo). Os mais tradicionais são os xaropes de framboesa (Himbeersirup) e de ervas (Waldmeistersirup), mas é possível encontrar desde aromatizantes de maçã, pêssego e abacaxi, entre outros. Produzidas pela Berliner Kindl Schultheiss Brauerei, as Berliner Weiße chegaram ao Brasil em 2014 em quatro versões: a original e outras três versões xaropadas. Saiba como elas são:

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A Berliner Kindl Weisse Das Original é a versão tradicional da Berliner Weisse, sem acréscimo de sucos, temperos e afins. Ela exibe uma cor amarelo palha com leve turbidez e seu creme é branco de baixa formação e média permanência. No nariz, o aroma marcante antecipa a acidez e ainda exibe um traço cativante de padaria (fermento e pão), palha, secura e citricidade de abacaxi verde. Na boca, alta carbonatação, secura, acidez e azedume juntos no primeiro toque podem intimidar novatos, mas tente aproveitar o perfil provocativo de uma cerveja refrescante e de sugestão salgada (sem chegar a ser uma Sour). O conjunto efervescente lembra tanto sal de fruta quanto abacaxi verde e limão (chupado sem açúcar nem nada) exibindo uma pancada de acidez e azedume que surge de forma intensa e morre suavemente com traços de trigo e palha. No retrogosto, adstringência, leve traço cítrico e refrescancia.

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Já a Berliner Kindl Weisse Himbeere é a mistura de 98.8% da Berliner original com adição de 1,2% de xarope de framboesa. A coloração é um impressionante rosa que a aproxima de algumas kriek belgas. O creme é rosa esbranquiçado e tem média formação e permanência, com alguns traços nas bordas da taça. No nariz, o aroma artificial de cereja se mistura à acidez da versão original da Berliner, apagando os traços de trigo, mas ainda assim criando um perfil aromático interessante. Na boca, o xarope de framboesa amacia decididamente o ataque de acidez e azedume da Berliner original, mas não torna o conjunto essencialmente adocicado, privilegiando um equilíbrio em que a doçura frutada se sobrepõe suavemente na boca enquanto a acidez e azedume batem ponto no final, causando adstringência e refrescancia sem soar enjoativa. No retrogosto, sugestão de frutas vermelhas, acidez e azedinho. Bem boa.

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A Berliner Kindl Weisse Waldmeister segue o mesmo processo da Himbeere, só que recebe adição de xarope de aspérula ao invés de framboesa. A aspérula é uma planta medicinal para combater a insônia, o estresse, o cansaço, e espasmos no sistema digestivo, entre outros. No pacote Berliner, a aspérula confere ao conjunto uma intensa coloração verde (que parece bastante artificial). O creme, por sua vez, é branco com feixes verdes. No nariz, sugestão de marzipan em primeiro plano ao lado de um toque de maçã verde (o azedinho ajuda) da acidez característica da Berliner, mas muito mais domada do que na versão com framboesa. Na boca, a mesma sensação adiantada pelo aroma (marzipan artificial), mas com mais força da acidez e do azedume da receita tradicional, além de presença de notas salgadas. O final mantém a pegada de marzipan e azedume enquanto o retrogosto traz algo de ervas e adstringência. Boa.

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Fechando o quarteto, a versão violeta das Berliner Kindl Weisse xaropadas, com adição de Schwarze Johannisbeere, ou xarope de cassis, também conhecida como groselha preta, que confere ao conjunto uma coloração lilás. O creme, por sua vez, é branco com traços lilás e é de média formação e baixa permanência. No nariz, das três versões com xarope, essa com cassis é que consegue domar com mais destreza as características ácidas e azedas da Berliner original, sobrepondo-se com frutado (ainda que artificial), que remete também a amora, e doçura. Na boca, a groselha novamente se destaca (ainda que de forma artificial e remetendo a suco em pó), mas abre mais a guarda para notas de acidez, azedume comportado e até um toque salgado, que estão mais presentes e servem para equilibrar o conjunto. O final junta kisuco de uva com leve acidez e salgado. No retrogosto, uva e adstringência. Gostosa.

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Balanço
Não adianta, a Berliner Kindl Weisse Das Original é para poucos, mas seu fator interessante é o quanto ela amplia a área cervejeira na mente de um bebedor comum: “Isso não é cerveja”, alguns dizem. “Isso é o champanhe do Norte”, diziam os soldados franceses. Todos errados: é cerveja de trigo, e das boas, para ser consumida no verão. Com uma saladinha caprese deve ser o paraíso. Berliner Kindl Weisse Himbeere é a versão com xarope de framboesa, e impressiona como o conjunto se equilibra entre o toque de frutas vermelhas e a acidez característica do estilo, sem enjoar. Dizem que é ótima para acompanhar bratwurst. A versão com aspérula remete a marzipan, e mesmo soando bastante artificial, é interessante, mas perde para as duas anteriores (embora valha a experiência) e empata com a versão com cassis, que soa como se alguém adiciona kisuco de uva em uma Berliner Original com um pequena colher de sal. Interessante.

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Berliner Kindl Weisse Das Original
Produto: Berliner Weisse
Nacionalidade: Alemanha
Graduação alcoólica: 3%
Nota: 3,40/5
Preço no Brasil: R$ 14 – 330 ml

Berliner Kindl Weisse Himbeere
Produto: Berliner Weisse
Nacionalidade: Alemanha
Graduação alcoólica: 3%
Nota: 3,18/5
Preço no Brasil: R$ 14 – 330 ml

Berliner Kindl Weisse Waldmeister
Produto: Berliner Weisse
Nacionalidade: Alemanha
Graduação alcoólica: 3%
Nota: 3,15/5
Preço no Brasil: R$ 14 – 330 ml

Berliner Kindl Weisse Schwarze Johannisbeere
Produto: Berliner Weisse
Nacionalidade: Alemanha
Graduação alcoólica: 3%
Nota: 3,15/5
Preço no Brasil: R$ 14 – 330 ml

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