De Goiânia, conheça a Carne Doce

por Flavia Denise

É fato incontestável que Goiânia é terra de música boa e quando se trata de música pra acalmar a alma, Carne Doce é o remédio certo. O primeiro EP, “Dos Namorados”, lançado em 2013, antecipava que algo bom vinha pela frente, mas em “Carne Doce”, o recém-lançado primeiro disco oficial, liberado para download gratuito no site da banda, o grupo supera as expectativas.

Tendo Salma Jô (voz) e Macloys Aquino (guitarra) dividindo a autoria de praticamente todas as canções do álbum, o Carne Doce, na base da emoção e da intimidade, trilha pelos inúmeros caminhos do coração. Doce goiano que dá frio na barriga, arrepia e eletriza o ouvinte. Completam a formação Aderson Maia (baixo), João Victor Santana (guitarra e sintetizador) e Ricardo Machado.

Num primeiro momento, o tom de voz distinto de Salma clama por atenção percorrendo entre os suaves riffs de guitarra de Macloys e João Victor. Em silêncio e atento, o ouvinte se sente imergido na áurea oferecida pelo grupo, quase como quem revive um momento singelo de sua vida. Aqui não há acaso, tudo em Carne Doce remete a saudade. E não há nada mais delicioso do que lembrar dos tempos em que “ser amigo dos bichos” era vital para nossa infância, como cita a faixa “Amigo dos bichos”.

O composto de ritmos remete aos Novos Baianos, mas estes (novos) goianos conseguem, a partir da influencia, criar um trabalho original ao mesmo tempo em que aprofundam a temática das letras através de uma interpretação intensa. Carne Doce é a sensibilidade do ser humano sintetizado em música, e a prova disso é a faixa “Sertão Urbano”, que lentamente vai tomando forma até o grande momento, onde Salma enche o peito para dizer que “Quanto mais alto está o céu / Mais alto está você”. Momentos de explosão como este chamam a atenção para os arranjos e mostram como o grupo consegue trabalhar bem todo o caminhar da canção.

Duas faixas que mostram a entrega da banda em dois momentos totalmente distintos do disco, “Fetiche” é uma carta de amor incondicional enquanto “Passivo” transborda sensualidade. Na sequencia, uma bateria forte marca “Benzin”, única canção do disco que foge da assinatura Salma/Macloys, que dividem a autoria da canção com a dupla de guitarrista de frente do Boogarins, Fernando Almeida e Benke Ferraz.

O que impressiona é como o disco consegue explorar vários caminhos e ainda sim, dentro de sua lógica, manter de maneira linear todo o andamento do álbum. Exemplo disso é a animada “Fruta Elétrica”, que traz um sampler retirado do disco “Jogos de Armar”, de Tom Zé, e no álbum é seguida por uma quebra no ritmo que faz de “Adoração”, a faixa de encerramento, se encaixar muito bem.

Após distribuir duplas sertanejas pelo país e, com o surgimento da Monstro Discos e de festivais como Bananada e Goiânia Noise, popularizar uma faceta barulhenta que transformou a frase “Goiânia Rock City” conhecida nacionalmente, a cidade abre suas portas para o pop rock inteligente com Boogarins e, agora, Carne Doce, uma banda cuja completa sintonia condiciona uma surpresa memorável para o cenário musical brasileiro, dando certeza que o grupo é dono de um terreno fértil de incríveis composições. E o produto final é a criação de um registro conciso e humano. Por isso, acredite: Carne Doce é o prato da vez.

– Flávia Denise (https://www.facebook.com/flavsdenise) é estudante de jornalismo e colabora com os sites Pulsa Nova Música e You! Me! Dancing!

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