Scream & Yell recomenda: Câmera

por Bruno Lisboa

Oriundos de Belo Horizonte, a Câmera é outro belo exemplo da nova música produzida nas Gerais. “Existe alguma coisa na atmosfera de Belo Horizonte que ficou desde o Clube da Esquina e o boom do Sepultura”, pontua André Travassos, que integra a banda, formada em 2009, junto com Bruno Faleiro, Henrique Cunha, Matheus Fleming e Diogo Gazzinelli.

Apostando em uma sonoridade ligada ao indie com letras em bom inglês, o grupo lançou de forma independente em 2011 os EPs “Not Tourist” e “Invisible Houses”, trabalhos que renderam elogios por parte da crítica e shows em várias localidades do país. E então se recolheu para gravar o primeiro álbum.

Três anos depois surge “Mountain Tops”, gravado de forma serena. Em entrevista realizada por e-mail para o Scream & Yell, André comenta sobre a efervescente cena local, a entrada para o cast da gravadora Balaclava Records e o mercado fonográfico atual. E avisa: “Antes de qualquer coisa temos um compromisso com a música”. Com vocês, Câmera.

O fato de vocês serem belo-horizontinos colabora de alguma forma na sonoridade da Câmera?
Sem dúvida. Existe alguma coisa na atmosfera de Belo Horizonte que ficou desde o Clube da Esquina e o boom do Sepultura. Coincidentemente, ambos saíram do bairro de Santa Tereza, que ainda é um reduto boêmio/cultural da cidade. Apesar de não termos vindo desse bairro, respiramos esse clima musical inerente à cidade. Além dessa mística, existe também o fato da cena atual ser muito ativa e competente. Bandas de diferentes estilos dividindo o palco e propondo para o público encontros, por vezes, inusitados, mas que só fortalecem o nosso cenário. São tantas boas bandas fazendo um trabalho tão bem feito e criterioso o que acaba gerando uma influência mútua e muito saudável.

De fato, a cena de BH tem crescido nos últimos anos, rendendo inclusive turnês pelo exterior como aconteceu com a Constatina, Graveola e o Zimun. Para vocês, quais fatores colaboraram para tamanho crescimento?
Acho que principalmente a profissionalização da cena. Pode parecer um pouco estranho, mas acho que é isso mesmo. As bandas se levando um pouco mais a sério, acreditando no seu trabalho e acima de tudo investindo tempo e dedicação nele. Isso tudo com o respaldo de um público que vem se consolidando e atuando como catalisador disso tudo. Claro que ainda temos um grande caminho pela frente, mas se compararmos com 6, 7 anos atrás a coisa está bem diferente. A internet é sem dúvida nenhuma uma grande ferramenta para nós também. Uma maneira extremamente eficaz de divulgar nosso trabalho em lugares distantes e circular por aí.

Três anos separam os dois primeios EPs (“Not Tourist” e “Invisible Houses”) de “Mountain Tops”. A banda não estava em estado de hibernação, pois apresentações ocorreram durante o período. Como fora produzir este trabalho, sem se render a possíveis pressões externas?
Foram três anos que muitas coisas aconteceram nas nossas vidas pessoais/profissionais e, por vezes, nos vimos obrigados a puxar o freio de mão com a banda e nos dividirmos para dar conta de tudo que acontecia. Isso tudo acabou por tornar o processo de composição e gravação de “Mountain Tops” mais longo do que ele poderia ter sido, mas no fundo sabíamos que naquele determinado momento não adiantava passar com o carro na frente dos bois. Respiramos fundo, entendemos o momento que passávamos e sabíamos que quando fosse a hora certa o disco sairia. Não existiu nenhuma pressão, exceto a nossa própria, de gravar um disco que nos orgulhasse e que representasse tudo o que vivemos nesses cinco anos de banda. Hoje, olhando para trás, percebemos que tudo valeu a pena!

A sonoridade da banda, associada ao fato de se cantar em inglês, contribuem para o caráter universal em termos de receptividade. No Brasil, o trabalho de vocês é visto com bons olhos. Como tem sido a recepção estrangeira?
Esse é o próximo passo que queremos dar. Até então, estamos focados na divulgação do disco no Brasil, mas pretendemos investir no exterior no ano que vem e tentar viabilizar uma turnê na Europa e nos Estados Unidos.

“Mountain Tops” representa não somente o lançamento do primeiro álbum cheio, mas também a estreia num selo de maior porte (a Balaclava Records). Como se deu a parceria?
A parceria começou na admiração mútua e imediata que rolou com a banda Single Parents, que acabaram por nos indicar ao selo. Esse papo começou quando ainda nem tínhamos entrado em estúdio para gravar o “Mountain Tops”, mas já existia a vontade de trabalhar juntos. Temos uma admiração muito grande por todos da Balaclava. Eles têm uma maneira muito respeitosa e profissional com o “fazer música”, e é isso que buscamos. Pessoas dispostas a fazer acontecer sem esperar que as oportunidades caiam no colo. Esperamos que continuemos por muito tempo trabalhando juntos e que o crescimento do selo e de todo seu casting seja sempre contínuo.

O mercado fonográfico hoje se encontra em estado de transição, pois fórmulas diversas são testadas para fins de sobrevivência artística. Para a banda, quais são os caminhos a serem seguidos?
Antes de qualquer coisa temos um compromisso com a música. Ela vem acima de qualquer estratégia ou fórmula. Ainda sustentamos aquela visão romântica de que se a música for boa, ela vai levar o artista pra frente, sem que necessariamente esse precise inventar a roda dia após dia para se manter . Mas ao mesmo tempo é instigante pensar em diferentes maneiras de propagar seu trabalho. Lançar mão das redes sociais não é mais estratégico, é obrigatório. Quase todo mundo utiliza esses espaços e dialoga de maneira muito direta.

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator e colunista do pignes.com

3 thoughts on “Scream & Yell recomenda: Câmera

  1. Escuto uma banda bacana como Câmera e sempre me pergunto quantas pessoas irão a conhecer. Se o grupo vai continuar por muito tempo, se vai conseguir sobreviver no nosso minúsculo “mercado independente”. O Brasil é muito hostil para os indies tupiniquins.

  2. vim um pocket show do Câmera na Sensorial.
    curti bastante!
    só tenho minhas dúvidas quanto à receptividade da galera aqui no Brasil pras bandas que compõem em inglês.
    tem várias ótimas – como a Câmera – no underground com músicas em inglês que merecem um destaque maior.
    por outro lado acredito e espero que no exterior essas bandas possam ter maior atenção.

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