Boteco: A linha Speciliaty da Greene King

por Marcelo Costa

Em dezembro de 2013, a Greene King, criada em 1799 e, hoje, uma das maiores cervejarias da Grã Bretanha (título alcançado com aquisições de pequenas cervejarias, modelo criticado por concorrentes, que alegam monopólio de mercado), abriu uma nova Brewhouse em Bury St Edmunds, Suffolk, com a ideia de que os mestres cervejeiros da casa, John Bexon e Chris Waters, produzissem pequenas quantidades experimentais sob o rótulo Greene King Speciality. A grande surpresa foi perceber que a nova linha é totalmente influenciada pela escola norte-americana, que começou sua revolução no final dos anos 70, ampliou-se nos anos 80 e 90, e expandiu-se nos anos 00 para países como Suécia, Noruega, Brasil, Grécia e Nova Zelândia, e cada vez mais ganha espaço no Velho Mundo: os belgas já acenam influência (a Duvel Tripel Hop é um exemplo) e agora os ingleses dão à mão a palmatória.

A Greene King Yardbird Pale Ale é uma APA (American Pale Ale) sazonal (produzida na pressão apenas em março e abril) lupulada (e com dry hopping de lúpulos Cascade e First Gold) que homenageia a lenda do jazz norte-americano Charlie Parker. De coloração âmbar caramelada e creme branco (com leve toque alaranjado) de boa formação e permanência, a Yardbird Pale Ale exibe um aroma que combina delicadamente lúpulo frutado cítrico (suave maracujá, sem muita profundidade) com malte, que bate ponto distribuindo notas que remetem a cereais e caramelo. Há ainda leves toques florais e herbais. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque e amargor pontual na sequencia. O conjunto se equilibra entre os dois vértices (doçura de caramelo e amargor cítrico) acrescentando leve toque herbal (pinho). O final sugere mais malte que lúpulo enquanto o retrogosto promove o contrário. Bastante agradável.

A Greene King Noble English Craft Lager propõe ser uma lager feita por uma grande cervejaria, mas com jeitão de pequena. Para diferencia-la das mainstream padrão de mercado, a turma de Suffolk usa o lúpulo inglês Tettnang. De coloração dourada e cristalina, com um creme branco de média formação e rápida dispersão, a Noble apresenta um aroma maltado (com notas que remetem a cereais, biscoito e caramelo). Na boca, nenhum desafio: doçura caprichada (mel e caramelo) e amargor suave – da entrada a saída – para refrescar o bebedor em dias quentes. Há sugestão de cereais, mel e caramelo num conjunto simplista, mas dentro do que se propõe. O final é maltadinho (com a doçura de mel tocando a garganta junto com o amargor comportado) e o retrogosto, suavemente adocicado/melado. Parece uma honey lager simples e cafajestinha.

Fechando o trio de especiais da Greene King com a Double Hop Monster IPA, cuja receita une cinco lúpulos (Cascade, Chinook, Columbus, Styrian Goldings e Willamette) numa tentativa (válida, mas frustrada) de oferecer aos ingleses uma cerveja tão potente quanto às norte-americanas. De coloração âmbar caramelada e creme levemente alaranjado de média baixa formação e rápida dispersão, a Double Hop Monster IPA destaca um aroma que combina notas herbais (pinho) e cítricas (maracujá, melão e casca de laranja). Há, ainda, leve toque de resina, caramelo e cereais (derivados do malte). Na boca, a entrada traz rápida doçura de mel, logo atropelada por um amargor pontual e bastante distante do termo monstruoso, que, como numa boa IPA inglesa, funciona mais por acumulo do que por ataque. O conjunto une pinho, laranja e caramelo finalizando de maneira comportada. No retrogosto, resina suave, herbal e acumulo de amargor. Boazinha.

Balanço
Abrindo um trio de releituras de cervejas feitas por ingleses sob a ótica norte-americana, a Greene King Yardbird Pale Ale lembra bastante a Shipyard Chamberlain Pale Ale (a Shipyard Brewing Company, do Oregon, talvez seja a mais inglesa das cervejarias norte-americanas) e, também, a Acme California Pale Ale, com lúpulo bastante presente, mas sem se sobrepor ao malte. Bem boa e, num teste cego, muitos diriam que é californiana. Já a Greene King Noble é uma Premium Lager feita “por uma grande cervejaria como se fosse pequena”. Esqueça o blá blá blá: é uma cerveja comum feita para agradar aqueles que têm medo de enfiar o pé na jaca das cervejas artesanais. Bonitinha, mas ordinária. Fechando o trio, a tentativa de American IPA da Greene King não tem nada de monstruoso, muito pelo contrário, é amarguinha na medida para não assustar novatos. No ramo de American IPA, a Eisenbahn Frosty Bison dá um baile nessa Double Hop Monster IPA. No fim das contas, são três cervejas para inglês beber.

Greene King Yardbird Pale Ale
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 4%
– Nota: 3,07/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 14,90 (330 ml)

Greene King Noble English Craft Lager
– Produto: American Premium Lager
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,51/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 14,90 (330 ml)

Greene King Double Hop Monster IPA
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 7.2%
– Nota: 3,03/5
– Preço pago em São Paulo: R$ 14,90 (330 ml)

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